terça-feira, 27 de maio de 2008

FILA D'ORSEY

Uma hora e meia na fila. Na chuva. Tempestade. Tudo encharcado. Eu, sob o guarda-chuva, comecei a ler Comer, Rezar, Amar, pra me distrair e tentar não me irritar naquele - literalmente - MAR de gente na fila pra entrar no Musee d'Orsay. O livro funcionou. Me distraí e nem me chateei com os pés molhadérrimos. Não desisti. E eis que uma mexicana engraçadérrima que estava atrás de mim resolve dançar e cantar na chuva... rain drops keep falling on my head... não dava pra ficar de cara feia de jeito nenhum. Ainda mais quando ela, uma russa e três japonesas começaram a tentar conversar em inglês. Foi muito engraçado. Cada uma falava uma coisa, durante uns 20 minutos, até chegarmos à bilheteria do museu, quando todos se entenderam na comemoração em qualquer língua. Valeu a espera.

POMPOM
O museu é maravilhoso, mas nada pra mim foi mais fascinante do que as crianças pequenas tendo aula lá dentro. Deve ser a coisa mais comum do mundo pra quem mora na Europa, mas pra mim foi uma visão nova e mágica. Aqueles tocos de gente sentadinhos diante de obras imensas, olhando e reagindo ao que a professora falava. Lindo demais.

O último grupinho, por uma incrível ironia, estava diante do Urso Branco, de um escultor aluno do Rodin chamado não-sei-o-quê POMPON... Não é MUITO legal? O cara chamar Pompon, esculpir um urso branco quase de pelúcia, e as crianças estarem no museu diante dele? Ai, eu achei. E é isso que importa afinal era eu mesma que estava lá. Grata.

O CÉU, O INFERNO E AS HISTÓRIAS DE AMOR
Entre todos os quadros do museu, um. Este (Mort de Francesca de Rimini et de Paolo Malatesta). Porque de repente me deparo com esses personagens, esses amantes, e essa história que eu nem conhecia até um dia conhecer... e me faz pensar em todos os casos de amor, os lindos, os eternos, os felizes depois tristes, os "fracassados", os terminados ou os tragicamente interrompidos. Os esquecidos. Os eternnizados na memória. E me faz pensar em todas as histórias proibidas e atrapalhadas. E em toda a censura, em toda a falta de amor, em toda a incompreensão. E me traz a Divina Comédia de Dante, que um dia eu ganhei de alguém que amei acima de tudo, e que me amou acima de tudo, e que hoje não faz mais parte de nada de mim, nem disso, nem desta viagem, nem deste quadro, nem desta emoção... embora faça parte da minha lembrança. E então, mais uma vez, eu me pergunto se vale a pena. E eu mesma respondo: vale - porque não fossem as histórias de amor que vivi, esse quadro não teria o menor significado pra mim, e não seria tão lindo. Tão lindo quanto o livro caído da mão morta que lia para ao amado ao morrer...
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