sábado, 31 de maio de 2008

AS PORTAS DO CÉU

Eu me despedi de Paris passando o dia com os meus escultores favoritos: Auguste Rodin e Camille Claudel. Por sorte, havia uma exposição dela no museu dele. E era linda, linda. A cada coisa que eu via, pensava: esta é a melhor de todas. E, na sequência, mudava de opinião. Era tudo muito lindo.

Depois da Camille, fui pro Rodin. Mais um monte de beleza… O Pensador, As Portas do Inferno, O Beijo, A Miséria, Paolo e Francesca, Victor Hugo, e todos os outros de que não me lembro o nome.

Eu AMO escultura.
Depois de Firenze e Paris, tenho certeza absoluta disso.


FAMÍLIA
Meu irmão e minha cunhada chegaram a Paris ontem. Com o Dudu e a Virgínia. Ficamos todos juntos no apartamento e eu tive uma família em Paris. Por muitos e muitos dias. Primeiro só com meus tios –que foram meus pais, e depois com eles. E família é família em qualquer lugar. E eu amo família em qualquer lugar do mundo.

E a Carla contou várias histórias boas de nossa querida Margarida.
A melhor foi esta: quando ela saía com o marido pra jantar em restaurantes, ele sempre fazia ela sentar de costas pra porta porque ela se maquiava demais e ele não queria que ninguém visse. Isso é muito engraçado, uma vez que vocé pode imaginá-la sempre sentada olhando pra parede. Carlota, achei essa meio maldade do seu pai, hein!

Mas nada supera “Como é que cê tá?”
“Tó gorda, minha filha”.
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sexta-feira, 30 de maio de 2008

POR QUE A MONALISA?

Ah, o Museu do Louvre... Mágico estar lá dentro. Foi mesmo. Me senti um pouco no Código Da Vinci, não vou mentir. Mas isso é outra história. E a minha história com esse lugar já é bem mais interessante do que um best seller. Allez.

Vi de tudo no Louvre. Gente passeando, gente estudando, gente lendo. Até gente dormindo eu vi. Vários, juro. Vi crianças aprendendo sobre arte, sobre beleza (!), ou sobre isso que chamamos de vida. Vi jovens, velhos, calmos, afobados, lindos, bonitos, feios, horrorosos. Vi pretos, brancos, coloridos. Vi gente olhando, gente não vendo nada, gente querendo ir embora logo. Gente legal e gente chata. Casais, professores, freiras. Vi de tudo no Louvre. Até a Monalisa eu vi. E, então, eu me pergunto: por que a Monalisa??

Por que a Monalisa?

Veja só: diante dela, aquela coisa minúscula, tem uma tela gigantesca, extraordinária, maravilhosa: Bodas de Caná. E todo mundo dá as costas às Bodas de Caná só para ficar olhando aquele quadrinho famoso. Para disputar um lugarzinho e conseguir uma foto da Monalisa em sua redoma de vidro - eu também fiz isso. Mas, quando me virei e vi as tais bodas, me perguntei, por que aquilo é mais belo do que isto? Não sei a resposta. E, na sala seguinte, há mais de uma dúzia de telas gigantes e lindas, e bem interessantes. Então por que a Monalisa?

O museu tem uma quantidade inimaginável de telas. Além de todos os outros museus de todas as outras cidades e países, com quadros fantásticos, de pintores incríveis. Pois me diz: POR QUE, raios, a feiota da Monalisa?

Olhar misterioso? Sorriso que te segue? Aquela coisa especal dela? Tá bom, eu entendo, juro. Mas não me basta. E todos os outros olhares sensacionais de todas as outras milhares de figuras de todos os pintores franceses, italianos, espanhóis, e todos os outros do mundo inteiro?

Por que, Santíssima Trindade, a Monalisa?

Por que uns dão certo na vida e outros não?
Por que uns lugares viram moda e outros não?
Por que algumas pessoas estão onde querem e outras não?
Por que uns sonhos se realizam e outros não?
Por que alguns se amam para sempre e outros não?

A resposta deve ser a mesma para todas essas perguntas.
E a Monalisa, coitada, fica lá naquela redoma de vidro, cercada de correntes. Sufocada por japoneses e suas máquinas.
Deixem a Monalisa em paz!
Achei até que ela está com uma carinha de cansada...
Dê meia volta, e aprecie as bodas. Ainda que você não as tenha.


COMO SE NADA ESTIVESSE ACONTECENDO
E aí eu fui andando e pensando: mas como isto aqui existe? Como trouxeram tudo pra cá? Como peduraram tudo isso, como carregaram os pedestais e esses homens enormes incrvelmente pesados, e seus cavalos, e leões? E pelamadrugada, como é que limpam esse negócio, essas janelas, as estátuas lá fora?? Como é que vão fazer tudo isso continuar existindo para todas as próximas e próximas e próximas gerações?

E como dá tudo certo todo dia?

E essa gente que trabalha nas salas? Será que eles trocam de lugar ou cada um é condenado a passar a eternidade vendo a mesma obra de arte todo dia? E será que eles nunca têm vontade de bater em algum visitante? E as perguntas, são sempre as mesmas? E as pessoas que ficam ali, vivendo, passando pelo Louvre todo dia, dormindo à beira do chafariz, como se nada estivesse acontecendo? Digo, como se aquela grandiosidade não fosse nada demais... Como se dá isso? Como se nada estivesse acontecendo... Isso realmente me intriga.

Mas, sério, por que a Monalisa?
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quinta-feira, 29 de maio de 2008

EXTREMOS

Hoje fui ao Sacre Coer. E ao Moulin Rouge. Dois extremos.
Me fez pensar em um monte de coisas. Coisas. Coisas. Coisas.
Almocei num bistrozinho ali em Pigale cujo cozinheiro resolveu me paquerar então fez uns pratos lindos e, pra variar na França, comi muito muito muito bem. Mas o tchans do almoço ficou na trilha sonora: Sweet dreams are made of this / Who am I to desagree? / Travel the world and the seven seas / Everybody is looking for something...
Eu procuro o bonito. E só. Acho.
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quarta-feira, 28 de maio de 2008

LET IT BE ou ÀS MARGENS DO RIO SENA EU SENTEI E CHOREI ou O DIA EM QUE FUI DO INFERNO AO CÉU EM MENOS DE UMA HORA ou A MENINA QUE REGEU O RIO

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Decidi que o dia seria de barco, pelo Sena.

Saí do hotel com a mala e me mudei pro apartamento dos meus tios, o lugar mais lindo do mundo, com vista pra Torre Eiffel e abarrotado de carinho por todos os tijolos. Paris não poderia ser melhor. E hoje seria de barco.

Caminhei até a Torre e comprei o Bauteau Bus. Errei. Não que não seja uma boa escolha. Pra quem ainda não foi em nada por Paris e quer passar o dia visitando os lugares mais importantes, assim, en passant, é ótimo. Mas pra mim não era isso. Eu queria contemplar o Sena e as belezas "marginais", com tranquilidade, sem descer em ponto nenhum, e tomando sol. O barco-ônibus é fechado, abafado, cheio de gente, barulhento e vai parando. Definitivamente errei. Mas não ia perder o dia por isso. Peguei o b-bus – pelo menos pra valer os 8 euros que paguei – e fui até a Ponte Neuf , pra embarcar no Vedete da Pont Neuf, este sim o certo.

Comprei o bilhetinho da Vedete e o inferno começou: percebi que tinha perdido o cartão de crédito. Bobagem, podem pensar. Mas para mim que não sou íntima de cartões de créditos e que tenho um mês pela frente sozinha pelo Leste da Europa, sim, me pareceu um enorme problema. Além do meu sentimento de incompetência e burrice por perder o cartão depois de tê-lo usado pela primeira vez, para pagar o primeiro hotel, no primeiro dia em que fiquei sozinha.

- Monsieur, eu disse no meu francês parco, posso usar esse ticket pro barco-vedete mais tarde? Oui. Que bom.

Tomada de desespero, saí andando apressada pelas ruas de Paris atrás das opções que eu tinha para tentar achar o cartão. Todas improváveis. Mas eu esperançosa até o ultimo fio de hair. Vou resumir porque agora me deu preguiça de reviver todo o nervoso. Andei pela cidade, passei por alguns lugares, procurei em casa, entrei e saí de metrô, corri, corri, corri. Na minha última opção, embora eu tivesse muita fé, já estava quase chorando. E depois chorei mesmo. Quando cheguei ao quiosque onde comprei o ingresso do Bauteau Bus, expliquei pra mocinha, que já era outra, que meu cartão poderia ter caído ali e tal, misturando francês com inglês e com súplica. A moça disse NÃO. Assim, de cara, sem nem olhar pro lado. Não, não, aqui não tem nada. Preparei o choro (senti brotar em mim aquele bico de neném, sabe?). Mas, como Deus é grande e Jesus é meu amigo (como diria Nábia Vilela), resolvi insistir um pouquinho. NÃO, ela disse de novo. E eu, quase me encolhendo e entrando dentro do chão, bem baixinho, perguntei ainda uma vez: not a chance?... !!!! Nisso, uma outra atendente, uma negona estilo gorducha-cantora-de-jazz, que estava atrás da mulher do NÃO, ouviu meu choramingo e disse, na maior descontração, como se eu estivesse dançando o Ula-Ula com o Elvis (não sei por que fiz essa comparação): oh, oui, oui, oui, c’est la.

Agora pára tudo e muda a rotação do seu pensamento. Porque vamos entrar na câmera lenta no exato momento do oui oui oui c'est la!

Como num filme editado em slow, eu vi a mão negra e francesa da gorducha-cantora-de-jazz do Ula Ula deslizar no ar 10 ou 20 centímetros até o cartão-preto-e-dourado-brilhante, que pousava sobre uma máquina de calcular ao lado da moça do NÃO. Isso, AO LADO da moça do NÃO - e por um triz não ficou lá pra sempre enquanto eu me mataria. Mas, continuando a cena, ainda em camera lenta vi os dedos pegarem o cartão e o flutuarem até as minhas pernas bambas de emoção. Tudo BEM lento e, oh!, bem lindo. Nesse segundo, meu coração que já se preparava pra chorar de nervoso e ai-como-vou-resolver-isso-agora-que-transtorno, chorou de alegria e de gratidão. Eu me sentei ao pé do Sena e chorei enquanto ria e agradecia o milagre, a segunda chance de não ser incompetente.

MOTHER MARY
Nesse momento do choro, acredite, música começa a tocar. Vinha de alto-falantes enormes não-sei-de-quem, ali mesmo, do lado do ponto do barco. E não foi qualquer música. Tocou Let it be. Juro. Tocou Let it Be naquele momento – mother mary comes to me speaking words of wisdom: let it be. Não tinha letra, era só música e eu chorava mais. E, então, veio o toque derradeiro, matador, final e definitivamente mágico do meu começo de tarde pós-manhã-perdida-e-tensa. Essa menina fofa e doce aparece com dois gravetos e, de frente pro rio, rege. Isso, rege. Rege o rio. Rege o Let it be. Rege Paris. Rege o tempo. Rege a minha alma.

Agradeci muito porque um alívio me foi dado.
Mas o cartão de crédito já nem importava mais…

A BENÇÃO DO RESTO DO DIA
QUE DEIXEI ESTAR
(LET IT BE)
Voltei pra Ponte Neuf e fui exatamente no barco que eu queria. Foi demais. Depois desci e resolvi caminhar até a Notre Dame. Acredite se quiser: quando cheguei lá estava tendo uma celebração enorme, com um coral maravilhoso, e cheguei bem um pouco antes da consagração. Nem que eu tivesse marcado hora tinha dado tão certo.

E o fim do dia foi essa benção, na Notre Dame de Paris.
Regendo a noite...
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terça-feira, 27 de maio de 2008

FILA D'ORSEY

Uma hora e meia na fila. Na chuva. Tempestade. Tudo encharcado. Eu, sob o guarda-chuva, comecei a ler Comer, Rezar, Amar, pra me distrair e tentar não me irritar naquele - literalmente - MAR de gente na fila pra entrar no Musee d'Orsay. O livro funcionou. Me distraí e nem me chateei com os pés molhadérrimos. Não desisti. E eis que uma mexicana engraçadérrima que estava atrás de mim resolve dançar e cantar na chuva... rain drops keep falling on my head... não dava pra ficar de cara feia de jeito nenhum. Ainda mais quando ela, uma russa e três japonesas começaram a tentar conversar em inglês. Foi muito engraçado. Cada uma falava uma coisa, durante uns 20 minutos, até chegarmos à bilheteria do museu, quando todos se entenderam na comemoração em qualquer língua. Valeu a espera.

POMPOM
O museu é maravilhoso, mas nada pra mim foi mais fascinante do que as crianças pequenas tendo aula lá dentro. Deve ser a coisa mais comum do mundo pra quem mora na Europa, mas pra mim foi uma visão nova e mágica. Aqueles tocos de gente sentadinhos diante de obras imensas, olhando e reagindo ao que a professora falava. Lindo demais.

O último grupinho, por uma incrível ironia, estava diante do Urso Branco, de um escultor aluno do Rodin chamado não-sei-o-quê POMPON... Não é MUITO legal? O cara chamar Pompon, esculpir um urso branco quase de pelúcia, e as crianças estarem no museu diante dele? Ai, eu achei. E é isso que importa afinal era eu mesma que estava lá. Grata.

O CÉU, O INFERNO E AS HISTÓRIAS DE AMOR
Entre todos os quadros do museu, um. Este (Mort de Francesca de Rimini et de Paolo Malatesta). Porque de repente me deparo com esses personagens, esses amantes, e essa história que eu nem conhecia até um dia conhecer... e me faz pensar em todos os casos de amor, os lindos, os eternos, os felizes depois tristes, os "fracassados", os terminados ou os tragicamente interrompidos. Os esquecidos. Os eternnizados na memória. E me faz pensar em todas as histórias proibidas e atrapalhadas. E em toda a censura, em toda a falta de amor, em toda a incompreensão. E me traz a Divina Comédia de Dante, que um dia eu ganhei de alguém que amei acima de tudo, e que me amou acima de tudo, e que hoje não faz mais parte de nada de mim, nem disso, nem desta viagem, nem deste quadro, nem desta emoção... embora faça parte da minha lembrança. E então, mais uma vez, eu me pergunto se vale a pena. E eu mesma respondo: vale - porque não fossem as histórias de amor que vivi, esse quadro não teria o menor significado pra mim, e não seria tão lindo. Tão lindo quanto o livro caído da mão morta que lia para ao amado ao morrer...
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segunda-feira, 26 de maio de 2008

CORTANDO O CORDÃO COM FLORES ANTIGAS

E então estou (quase) sozinha daqui pra frente.
É estranho, confesso. Um pouco triste, talvez.
Mas é também interessante.

O primeiro lugar onde me sento para comer sozinha é o Café de Flore, na Saint Germand, onde Beauvoir e Sartre costumavam tomar café e se reunir com amigos para discutir o existencialismo, idéia que nasceu aqui, neste café.

Claro que é porque eu quero, mas o lugar tem então aquela magia de histórias velhas escritas num livro antigo e de intelectuais, filósofos e gente interessante e ousada sentada num café de Paris divagando sobre a vida e procurando respostas, ou pelo menos razões. E é isto: por um momento cá estou, tomando café com Simone e Jean Paul em uma calçada parisiense de chapéus e idéias.

A salada que eu pedi, bem - voltando a 2008 e perdendo por um instante a fumaça dos cigarros franceses – não é linda. Pra falar a verdade não é nem bonita. Mas então, existencialmente, eu me pergunto se a beleza que importa é a da salada ou a do instante. Importa mais o gosto da comida ou do sonho (não aquele, este)? Não sei responder. Certeza: nenhuma. Mas escolho as segundas opções. E fico feliz. Ainda que as pessoas ao meu redor insistam em ser turistas e não escritores.

Pelo menos, senta-se ao meu lado direito neste momento uma senhora bem francesa, com sua neta bem francesa de casaco Burberry, e tiram da bolsa um livro sobre o qual conversam: Durell. (?) Só para compensar a americana bem americana, do lado esquerdo, que conta para as amigas bem americanas também, em detalhes, o sonho que teve essa noite com o Harison Ford.
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NUNCA SEM MINHA MÃE...

...but now. Daysi se fue. De volta ao mundo real. Quase um mês depois, a primeira fase da viagem – de carro avec ma mére - c’est finit.

Portugal: Lisboa, Cascais, Estoril, Evora . Espanha: Merida, Toledo, Alcañiz, Tarragona, Barcelona, Montserrat, Cadaques . França: Carcassone, St Remy de Provence, Beaux de Provence, Avignon, Aix en Provence, Cannes, Nice, Paris - Monaco . Itália: Rapallo, Santa Marguerita, Portofino, Lucca, Pisa, Firenze, Siena, Roma

Não foi pouco, não. E a Dona Daysi aguentou firme as minhas longas caminhadas por cada lugarzinho por onde passamos. Bem, de vez em quando ela se enchia, mas piano piano foi a lontano. E ninguém nunca acreditou quando ela pedia o desconto para os mais velhos.

Brigamos um pouquinho, mas rimos MUITO. Por causa da coisa, do coiso. Ela se protegeu da chuva com casaco, blusa, papel, papelão, guarda-chuva fechado, aberto, quebrado. Conversamos bastante com a Maria e mandamus ela não encher quando disse: há quarént klómetrosh, prrúbléma. Mas também choramos de rir com as rrrutundash e os se pssível faça a inversão d’márcha. Ah, e siga o itinerário actuall, quando ela não fazia a menor idéia de onde estávamos. Vimos muita, mas muita, mas muita gente parecida com nossas gentes, com a coisa e com o coiso.

A mamãe se sentiu a vovó quando eu disse que ia ali e já voltava e ela quis ir, mas eu disse não porque você anda devagar, fica aqui sentada que eu jå volto. E também rimos da turma que chegava sempre um pouquinho antes da gente, ou depois, e das guias com seus coisos nas mãos. Xingamos os mal-educados, pagamos os cafés pra fazer xixi, e xingamos mais ainda o italiano estúpido que nos mandou na chuva se não íamos consumir e o hotel Madison com aquele quarto japonês horroroso com estrelas no teto. Na última noite, a mamãe ficou contando estrelas, assistindo mudar de cor, narrando tudo pra mim e coisa.

Ah, e também ficamos de papo e perdemos a estação do metrô e quase pegamos o ônibus pro lado errado. E ela saía com a sacolinha pra carregar coisa e entrava nas lojas, saía, dava graças a Deus que não tinha comprado coisa e depois se arrependia. E também errava os caminhos um pouco, mas fingia que tava tudo bem. E parava pra olhar umas coisas que até agora não entendo, como por exemplo a placa de proibido andar em frente, que é vermelha com uma faixa branca no meio – e você não tem muito o que ficar vendo nela. Enfim.

Também lembramos muito do papai. Mais ou menos todos os dias. Comemos mariscos e camarões, comemoramos algumas comidas maravilhosas e resmungamos depois das porcarias que comemos nas praças onde as turmas também comiam. Descobrimos que tem gente que come pescoço de frango em restaurante chique e gostamos do menino que veio falar o cardápio sentadinho na mesa conosco. E a Daysi deitou pra dormir no 5 estrelas e deu um suspiro – ai, finalmente tô em casa. Eu dormi rindo vários dias por essas e outras. E porque ela dormia e quando se virava fazia ai ai ai – afinal andou tanto que o corpo tinha que doer um pouquinho mesmo.

Rimos também nas ruas apertadas de Lucca e com ela lembrando do papai dirigindo em Roma e dos caminhos errados que ele pegou com o tio Charles e tia Lilian na Provence. Jogaram o mapa pela janela de raiva. E voltaram pra pegar porque só tinha aquele. A Maria e seus óbliq a eshquerda não existiam ainda.

Mas, o top da risada – ao lado de todos os momentos coisa – foi quando ela olhou bem pro desenho com as linhas do metrô, colocou o dedo firme numa estação, e disse pra mim, categorical É PRA CÁ. Eu, só pra garantir, perguntei despretenciosamente, tem certeza? E ela, categórica de novo: NENHUMA! Na sequéncia me joguei no chão do metró e fiquei rindo ali por uma semana.

Enfim, e milhões de outros momentos que vamos lembrar cá e lá, pela vida. Mas agora as risadas viajam aqui comigo, só comigo, comigo só. Às vezes vão se misturar com lágrimas de saudade – que eu já estou sentindo desde a hora em que ela partiu – depois de andarmos pelo aeroporto inteiro pra pegar o tax free. Desgraçados dificultam esse refund ao máximo que podem, que é pra você desistir. Mas nós, turcas fomos firmes e fortes, de trenzinho de terminal em terminal, e brigando um pouquinho só pra despedir com dignidade. E pegamos o dinheirão.

Eu tenho manias e ela reclama. Mas somos nós, assim, e sempre juntas.

Mãe, obrigada por tudo. Atutelér!
(lágrimas e riso no ponto final)
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domingo, 25 de maio de 2008

CLARICE, DAYSI E HELOISA

Nem Torre Eiffel, nem Louvre, nem Champs Elisee: hoje a maior beleza e a maior alegria que Paris me trouxe foi encontrar a tia Clarice, que eu adoro muito nem sei bem por quê. Ela e o tio Abdo estão aqui e nós quatro nos divertimos bastante juntos. Fomos à feira, ao jardim, ao restaurante, às histórias do tio-Abdo-rei-na-China, ao céu.

E descobri que a minha mãe e ela, Clarice (que de Lispector tem qualquer coisa), estudaram com a Heloisa Buarque de Holanda no Des Oiesaux. Engraçado descobrir isso em Paris, já que a Heloisa eu descobri em um café literário. Segundo minha mãe, a "Helô" tocava violão, fazia jornalzinho, era meio bicho-grilo e desenhava as bailarinas mais lindas do mundo! Vai, que a gente nunca podia imaginar que o passatempo dela no recreio da escola era desenhar bailarinas! Bom, e ela certamente escrevia poemas e também vinha muito a Paris - essa última informação é um puro palpite meu, mas bastante provável.

Enfim, foi tudo poético.
O encontro e a descoberta.

NEGÓCIO DA CHINA
Sabia que um cara loiro, gordo e braquelo na China de antigamente fazia o povo parar na rua e ficar olhando boquiaberto? Eu fiquei sabendo depois que o tio Abdo contou que ia pra lá, há uns 20 anos, fazer negócio e as pessoas tratavam ele como rei. Tia Clarice contou que na tradição chinesa quanto mais gordo, mais rico. Então, imagina um cara deveras acima do peso e ainda por cima muito loiro e de olho azul-piscina passeando entre os Tchin Djin Lin... Só faltou o papamóvel. A tia Clarice queria se esconder e o tio Adbo pensava em coisa triste pra não rir, cada vez que a multidão de chineses ficava paralisada com aqueles olhinhos que riem olhando pra ele. De vez em quando, ele dava um sorrisinho de retribuição só pra desafogar a risada.

E veja a globalização: as histórias da China foram contadas por brasileiros num restaurante japonês em Paris.
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sexta-feira, 23 de maio de 2008

MON PAYS EST PARIS

Foi uma experiência incrível ver a torre eiffel pela primeira vez sozinha.
Mas não foi uma experiência incrível ver a torre eiffel pela primeira vez sozinha. Foi uma emoção estranha e francesa.
Lindamente francesa.
Tristemente francesa.

Sob
Escrevo sob o sol sobre a torre sozinha. Sob suspeita.
Sob o efeito do anonimato e de alguma ausência.
Penso sobre tudo sob a torre, sob a vida.
Escrevo e penso sobre a vida.
Parada sob alguma hipótese.
Vestida de ferro, peso.
Sobre tudo. Sob a torre.
Sob o peso de tudo, peso a vida.
E a torre sozinha.
E a torre, sozinha.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

AS ÁGUAS DI ROMA

Alguém me disse que só pelas fontes já valeria a pena ir a Roma. E é verdade. Mas as águas de que eu falo neste título veramente são outras... Piove, piove, piove in Roma. É certo que mesmo assim é tudo lindo e cada praça a que você chega, cada ruela que você vê e, sim, cada fonte grandiosa, vale os pés encharcados e as barras das calças que pingam. Até por que, eu só vi mesmo praça e fonte.

Entrar no Vaticano, impossível. Im-pos-sível. Desisti. Entrar no Coliseu, entrar em qualquer lugar, impossível. A Disney é aqui também. Brinquedos lotados. Filas de, pelo menos, duas horas. Na chuva. A Sistina ficou pra próxima. A Pietá também, infelizmente, embora ela viva dentro de mim.
Adesso, va bene.

NONA ANAMARIA E O RECADO
A chuva trouxe um ar um pouco triste aos dias em Roma. Mas, hoje, um lembrete veio bater na minha testa. Entrei em muitas igrejas e parece que Deus mandou um recadinho. No meio da tarde sentei num café e estava lá, pensando em qualquer coisa não muito feliz, me perguntando outras coisas também não muito promissoras, e eis que uma senhora na mesa ao lado começa a falar comigo. Mas começa a falar mesmo, como se fosse minha melhor amiga há anos, e como se eu entendesse italiano perfeitamente. O fato é que eu comecei a ouvir, e a participar muito do monólogo, embora não entendesse quase nada. No começo. Porque de repente comecei a entender... uns 50%. E ri com ela, gargalhei, lamentei, quase chorei... tudo entendendo só metade. Mas quem via tinha certeza de que eu entendia absolutamente tudo e tinha opiniões incríveis sobre cada história. Mas responder, eu só conseguia "va bene", "que belo", "é tchérto" e, depois de um tempo, "que bela vita la de lei, un exemplo!" ha questa parole - exemplo - in italiano?, perguntei, pazza. Si, si, ela disse. E fez aquela cara de modéstia, e aquele gesto com a mão que italiano faz pra "va bene, cosa fatchamo!". Ai, que engraçado que foi...

Mas ela falou, e falou, e falou, e falou - quase sem respiro - e me contou a vida inteira. E eu ouvi. Contou do marido, de onde mora atrás da igreja São Pedro, que a casa vale milhøes mas não vai vender porque vai deixar pros filhos. E falou dos filhos, claro, que não querem mais que ela more sozinha. E falou dos netos, que a amam - "la nona la nona la nona!" Me contou que conheceu o marido em 47, casou em 53, ele morreu não entendi em que ano. Chamava-se Maurizio, por causa do Mussolini, mas também não entendi por quê. Me mostrou foto antiga dos dois, 50 anos atrás, na mesma praça onde estávamos (claro que tirei uma foto dela com a foto!). Contou que eles tiveram, ou ainda tem, não sei, uma cantina, ou um frigorífico, ou alguma coisa onde se faz ou vende comida. Disse que faz pão em casa. E também sabão. Bem, pode ser que eu tenha entendido mal porque é estranho ela dizer que faz pão e sabão... ahahahaha

Em dado momento ela perguntou se eu era italiana - acho que porque eu só dizia "va bene" e "belo". Eu disse que era brasileira. Ela perguntou se eu "capisci tutto" que ela dizia. Bastou eu dizer SI SI que ela voltou a falar sem parar. Disse que vai fazer 80 anos, mas que está cheia de vida. Que sempre trabalhou muito, e que agora o importante é continuar contente. Então que ela está assim, sempre contente. Chova ou faça sol. Dia bom, dia ruim, dia mais ou menos, ela pensa na vida e fica contente. E disse que eu, assim, bela ragazza, certamente era sempre contente, por isso ela estava feliz em conversar comigo. (Acho que mesmo se soubesse que eu só estava entendendo metade). As últimas histórias que ela contou não entendi nada, mas morri de rir com ela, que estava adorando lembrar daquelas coisas... e o mais engraçado era que quando ela não lembrava a palavra que queria dizer, me perguntava... "que cosa chiama... cosa cosa cosa..." Aí que eu ria mesmo. Mas foi ótimo, afinal me lembrei que o importante é estar contente.

E o resto do meu dia foi bem mais alegre. Mesmo na chuva.
E ao pé do rio Tevere e só ao pé dele.

"Piove... piove...
fa tempo che piove qua, gigi
E io, sempre io,
sotto la tua finestra..."

terça-feira, 20 de maio de 2008

NUOVI FOTI ORGANIZATTI

Itália - FIRENZE . tudo . LUCCA e PISA . ruazinhas, paisagem, praças, sol, bici, tudo . Itália Costa - PORTOFINO . deslumbrante, tudo, mar . STA MARGUERITA . praia de pedrinhas, mar . RAPALLO. ruas, praça, patinhos, mar
França Cote d'Azur -
MONACO . o principado, monte carlo, cassino, grand prix, pedras, mar . CANNES . festival de cinema, gente, ruas . NICE . mar azulíssimo e degradê . França - Provence . SAINT REMY . carros antigos, ruas lindas, pão embaixo do braço . AVIGNON . palácio, ruazinhas, teatro, estátua fajuta . BEAUX DE PROVENCE . van gogh na catedral de imagens, chateau, moinho, vista . AIX EN PROVENCE . cave, ruas, coisas

segunda-feira, 19 de maio de 2008

DOLCE VITA?

Já estamos em Roma.
E a Fontana de Trevi está aqui.
Existe. Eu vi. Eu senti! É linda.
Apesar do monte de gente, que suja o sonho...
Foi só minha por um instante.
Minha e da Daysi, sempre minha.

Já joguei a moedinha e fiz meu pedido.
(E aí, Netunão, vai rolar?)

sexta-feira, 16 de maio de 2008

COLOSSAL


Eu vi.
O Davi.
Não dá pra falar.
Realmente não dá.

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o corpo só
ele não olha
eu não olho também
mas nos vemos assim.
na praça
na academia
no museu.
ele sou eu

quinta-feira, 15 de maio de 2008

PARLA!

Estou muda.

Chegamos a Firenze há algumas horas. Noite. Mas luz! Saímos do hotel andando por uma ruazinha silenciosa, desavisadas sobre o que estava por vir. De repente, o maior deslumbre que já tive na vida: demos de cara com a Piazza della Signoria. O Palazzo Vecchio com a replica do Davi na porta, uma série de estátuas de mármore gigantes ao lado e… a Galleria degli Uffizi! Um esplendor. Coisas de um tamanho que eu nunca vi. Fiquei parada, boquiaberta por alguns minutos. E ainda não consigo parlar muito sobre o que vi. (E a noite ainda prometia, sem que eu soubesse).

Caminhamos… e lá estava ela: DUOMO, a Catedrale di Santa Maria del Fiori. Você acredita naquilo? Nem eu. Ainda não consigo saber o que pensar, nem sei exatamente o que eu senti diante daquela coisa monumental. Absolutamente estarrecedor.

E tudo isso porque acabamos de chegar. E ainda é noite.
Depois, e depois, e depois, e depois… certamente vou experimentar emoções do tamanho do Davi – o original – que verei.

E vou continuar sem parlar.
Este lugar é inimaginável.
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HÁ UM DE VOCÊ POR TODA A PARTE

É muito engraçado. Tem feito a gente gargalhar. A mamãe e eu achamos, todos os dias e em todo lugar, pessoas parecidas – algumas idênticas – a um monte de gente que a gente conhece. Olha como aquela parece fulana! E olha aquele, é A CARA de não-se-quem! E olha a Dona Beltrana ali! Igualzinha!

Outro dia ela me matou de rir com esta: Só de Nicole, eu já vi três!

A mãe do Tio Zuzu, a Dona Ciba, estava jantando lá no Parador de Alcañiz. Tiramos até foto. O Rodrigo primo, filho da tia Malú, estava no restaurante do Port Olimpic, em Barcelona. Restaurante cujo dono, aliás, andando de costas era o papai escrito. A Guta, irmã da minha avó, tomou café no mesmo lugar que a gente lá em Cannes. Mas a recordista é minha outra tia-avó, a tia Nazira: ela passeia pela Europa inteirinha e onde a gente vai ela vai atrás. Fora a tia Odila, que às vezes se disfarça, mas sempre acabo achando ela lá e cá. Em Lucca, o Zezinho Abs comeu na mesa do nosso lado, embora a mamãe achasse que não era ele. E lá em Portofino, foi incrível, a mesma mulher conseguiu ser a Gaby, do L`Officiel, e a Tia Lilián perfeita! Por um triz a gente não foi atrás dela dar oi.

Mui-to-en-gra-ça-do.
Não tem um dia que passa sem que alguém conhecido passe.
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DI BICI IN LUCCA

Primeiro pensei em pedalar ouvindo música, mas logo me dei conta de que, além de ver, uma das coisas mais legais de andar de bicicleta por Lucca seria ouvir os sons da cidade dentro do muro.

Lucca é murada duas vezes: uma pelo muro de pedra, outra, por árvores lindas ao redor de um gramado lindo ao redor do muro de pedra. E a gente vai “sobre” o muro, que é largo o suficiente pra ter virado uma pista por onde se caminha, corre, passeia com o cachorro, pedala, e passa até de carro em casos especiais. E a gente vê a cidade de cima. As duas cidades. A murada e a de fora, a moderna. De um lado, a Lucca pîcola, antiga, linda, plena de biciletas, italianos e turistas bacanas,, e construções originais de lá-pra-trás. Do outro lado do muro, a cidade “normal”, que eu nem conheci, à margem da magia da Lucca de dentro.

Os sons no meio das ruazinhas às vezes pequeníssimas, as vezes nem tanto, são misturados e deliciosos de ouvir: vozes, música, passos, campainhas de bicicletas e de portas, motocas, conversas pelas janelas, até caminhões – que não dá pra acreditar como passaram por algumas daquelas ruícas. São quase os sons de qualquer cidade, mas é Lucca, e eu estou de bicicleta, na Itália, e apaixonada pelo lugar. E tem ainda os sons das línguas e dos sotaques nos Ciaos e nos Excuzis. E os guias em todos os idiomas, falando alto, com gentes de todas as idades e de todos os tipos. E há risos, e crianças. E tudo. Tutti. Lucca é tudo. Bem ali dentro daquele muro de 4 quilômetros dentro de mim. De bici.

AREIA MOVEDIÇA
Pisa, por onde passamos a caminho de Firenze, é só uma torre torta. Impressionante, é vero. MUITO impressionante. Mas só. E va bene – porque também já virou Disneylândia.
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quarta-feira, 14 de maio de 2008

ESTRADA KINDER

O caminho pela auto-estrada da Cote d’Azur francesa para a costa italiana, indo de Nice para Portofino, é incrível… para quem adora tunnel. Se você detesta, esquece, vai de outro jeito – porque são mais de 150 túneis. Sério. Cento e cinquenta no mínimo. É surreal. Túneis e pontes. Grandes, pequenos, médios, minúsculos, enormes. Um atrás do outro, o caminho todo. Lá no alto. Mais de 200 quilômetros de pontes e túneis. E todos batizados, com nome e às vezes sobrenome. Quando a gente pensava que tinha acabado, olha lá, mais um e outro e outro e outro, até chegar na cidade seguinte. Túnel Redondo, túnel quadrado, túnel com teto vazado, tem pra todos os gostos.

Mas o mais legal é que, a cada saída de túnel, vem uma surpresa. Você entra vendo verde e sai vendo milhares de casinhas coloridas e amontoadas, num vale enorme, quase à beira do mar, mas mais alto. Se entra vendo mar, poder sair vendo montanha com neves eterrnas no topo, lá longe. É bem louco. E bem gostoso e divertido! Como Kinder ovo!

PS: O Kinder na Itália custa 1 Euro! Pô.

AQUI É O MEU PAÍS

Tá, Portugal tem o Tejo, a Espanha é demais, a França é lindíssima e tem a melhor comida do mundo, mas entre esses, a Itália é o meu país. Definitivamente.

Driving Miss Daysi
Em Portofino, aquele charme de cidade italiana na costa, com aqueles barcos, aquelas casinhas, aquele sol, aquela luz nas cores das casinhas à beira dos portos e das cidades vizinhas – Santa Marguerita e Rapallo – e aquela água-deslumbre, conheci quarto americanas fofas! Elas não conseguiam estacionar o carro na garagem apertada – garagem apertadas, alias, é o que não falta pela Itália. Sofri. Bom, mas por isso ficamos amigas. New best friends. E elas fizeram com que eu me desse conta do título deste parágrafo, o título desta viagem. Não é adorável?

Eu disse: This is my mother. Her name is Daysi. She is a flower, isn’t she? –Yes, elas disseram. And who is driving the car? - I am, eu disse. E veio: So you are DRIVING MISS DAYSI!! Morremos de rir. Da série “é besta, mas eu amo”. Va bene.
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terça-feira, 13 de maio de 2008

A PRINCESA NA CURVA

Coitado do Rainier. Teve que viver seus ultimos 20 anos sem a Gratia Patricia. A Grace Kelly morreu em 1982, num acidente de carro nas ruas por onde passamos pra chegar ao Principado de Monaco. O Príncipe Raineir só foi morrer em 2005. Coitado, vai. Foi a primeira coisa que pensei - coitado! - quando vi os túmulos dos dois na igreja da Ville Monaco, o lugar onde fica o palácio e que eles conservam como uma cidade de conto de fadas. Pelo menos eu achei. Coitado. Não deve ter sido nada fácil perder a Grace Kelly.

Anyway, a vila é muito legal e o lugar é lindo de morrer. De filme (da Grace Kelly). É no alto alto alto. De lá se vê toda a cidade, o porto e a pista do Grand Prix – por onde, aliás, passamos de carro porque o percurso faz parte da cidade. Passa ali por onde está o Cassino de Monte Carlo, beirando a costa do Mediterrâneo, lá embaixo. Azulérrimo. Lindo de tirar o ar - puro.

Mas voltando ao Principado, olha, em vidas passadas eu devo ter sido uma súdita devota de alguma monarquia, porque eu simplesmente a-do-ro esse clima real. Ou então é por causa da Elena, minha amiga-princesa que virou consagrada. Não sei. O fato é que eu adoro. (Meu sangue azul, né… :).

O Palácio é o má-xi-mo! Cada sala! Cada coisa! Cada coleção de coisas! Cada detalhe! A cadeira de não-sei-quem, o armário do século xis, a escrivaninha da dinastia tal, o lustre de Luiz XIII, as cores, os estilos, as camas, o trono! Senhor Deus! E o quadro pintado com o retrato da família, com a Grace, o Rainier e os três filhos beirando os 18… coisa mais divina! Todos olham para o horizonte, sorridentes. Só a Caroline olha pro pintor. Não descobri por quê… Vai ver é porque ela era a mais nova e podia fazer diferente do resto... (caçula pode tudo?)

Enfim.

Minha mãe diz – ela sempre diz – que eu ainda não vi nada, que os castelos da Sissi, em Viena, dão de dez! Tá, eu acredito. Mas como ainda não fui visitar a Sissi, fico com a Grace por enquanto. Tadinha da Grace, e do Rainier, separados tão cedo, num reino muito, muito distante…
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segunda-feira, 12 de maio de 2008

UM CERTO OLHAR

Monte Carlo, em Monaco, e Nice e Cannes. Tudo lindo demais!












O caminho de Nice para Monte Carlo, pela estradinha que vê o mar, é um deslumbre. De um lado a montanha de pedra com paredões altíssimos, até meio inclinados em alguns pontos... cê não acredita como aquilo não despenca! E do outro lado aquele mar de tons inacreditavelmente azuis de algum céu, e uns iates, umas músicas na cabeça, uma coisa!

E ler nas placas dos carros "Principado de Monaco", juro, faz a gente pensar que tá dentro de um conto de fadas. Por pouco não passa correndo do lado do carro o príncipe no cavalo branco. E ainda cheguei andando pela pista do Grand Prix de Monaco. Não, demais. Umas coisas bobas mas que, quando cê tá dentro, é muito legal.

UN CERTAIN REGARD

Cannes!
Simplesmente o luxo do mundo estar no meio dos preparativos desse Festival!

A rua da praia só tem Cartier, Channel, Ferragano, Gucci, Dolce&Gabanna e mais as outras todas de que não me lembro o nome e que dá até medo de olhar a vitrine.

Mas isso é só o cenário porque o mais legal são (sempre) as pessoas! Pra lá e pra cá, ouve-se de todas as línguas que vocé pode imaginar, e há roupas e estilos e olhares. Essa gente elegante que faz cinema... óculos e cabelos e casacos e cachecóis e ternos e gravatas e cores e andares... e pares! E cineastas puxando malas e câmeras e luzes... olha, fascinante. Depois que eu saio e olho de fora, vejo que é tudo bobagem, penso que este já é o 61º Festival de Cannes e que eu nunca nem tinha olhado direito - ah, mas a verdade é que estar no meio disso tem uma magia que torna tudo diferente. É de ficar boba mesmo, barata tonta olhando pra todo lado. Eu devia ter nascido em Hollywood. Não sei pra quê, mas devia. Teria, talvez, um outro olhar.


FOTOS DE CANNES
FOTOS DE MONTE CARLO - MONACO
FOTOS DE NICE


PS: No fim de hoje fui brincar no cassino.
Escolhi uma máquina. Uma só. A única.
O nome dela: nanuk.
O cenário: gelo.
O saldo: 54 moedas de ouro.
E?





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domingo, 11 de maio de 2008

CÔTE D'AZUR

Chegamos em Nice, passando por Cannes - e voltando pra Cannes amanhã... Porque a cidade FERVE de FESTIVAL! Começa na quarta, mas o ar já é de pipoca!

Vento gelado na noite agitada. Jantamos em Nice.
Gente na rua, vendedores de bolsas aos milhares, restaurantes cheios.
Mas aqui não é tão charmoso quanto Cannes em dias de Festival.

As vistas são todas lindas, de todos os caminhos, não me canso.
Simplesmente não me canso de ver cada coisa e tudo. Devagar.
E os sorvetes são todos deliciosamente bons, mesmo no vento frio.

PS:
o rio que eu vejo agora é um mar
ao qual quero voltar e re-conhecer
eu estou ao pé dele
e estou só ao pé dele
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sábado, 10 de maio de 2008

LUGAR LINDO, GENTE CHATÉRRIMA


A França é realmente deslumbrante. Essas estradinhas da Provence são de enlouquecer qualquer cidadão do mundo. E nunca comi tão bem na minha vida!
Mas ô gente chata...
E ô língua insuportável.
Deus me perdoe...
Tinha que ser linda mesmo, senão seria insuportável.


MANEQUIM
A moda das estátuas vivas parece que não passa. Em Barcelone tinha fadinhas, soldados, ronaldinhos e até Edward-mãos-de-tesoura. Pois em Avignon, na Provence francesa, um engraçadinho teve uma idéia-pega-trouxa e é muito engraçado. Ele se veste de branco, com aquelas roupas de estátua romana, pinta a cara, põe lá seu pedestal e fica... de papo com amigos. Ao seu lado, quem trabalha é a outra estátua. As pessoas páram, olham, ficam esperando ela se mexer, e nada: é perfeita. Então vão lá e dão a moedinha. E a linda continua imóvel. Quem agradece é o cara, de-pau. Porque a estátua perfeita é um manequim, hahaha. É muito engraçado. Você demora pra sacar. Só lendo as matérias de jornal que ele deixa ali ao pé da "moça", que é pra ninguém dizer que ele agiu de má fé. Mas a idéia é boa demais. E nem foi coisa de brasileiro porque o cidadão espertinho é bem francês. Ele chega a ir se sentar na mesa do bar com os amigos e deixa o manequim lá ganhando moedinha. É hilário. Até pra quem dá o dinheiro... todos caem na gargalhada quando se tocam.

ESPETÁCULO
Fora isso, Avignon nos deu a noite mais linda da viagem até agora. Um céu azul-mais-lindo-da-terra sobre o espetáculo de Teatro da Ópera da cidade. E com uma ópera em cena, e os elegantes avignoenses desfilando no terraço durante o intervalo. Assim é a Europa que eu vi por aí.

DESFILE ÉPOQUÊS
E,em Saint Remy, bem no domingo em que a gente estava lá, começou de repente um tal de carro passando roncando na rua, e gente gritando e coisa e tal, e fuscas aos milhares, e kombis e infinitos carros antigos e lindos! Fui ver, estacionaram todos no parking da praça e ficaram lá, em exposiçNao. Coisa mais linda. Os antigos. Os fuscas e kombis não sei pra onde foram. Acho que era só desfile pra eles, pra tirar a velharia da garagem de vez em quando. Mas eles cuidam, viu, porque tinha cada um! E fusca é legal, né. Mas, kombi, na boa, alguém me explica POR QUE RAIOS o sujeito cultiva uma kombi. Sacanagem. Ainda por cima, kombi (e brasília, e variant) bate na gente. Vrum.
Fotos:

sexta-feira, 9 de maio de 2008

BANHEIROS DE PROVENCE

Não, ninguém nunca tinha me contado que na França há banheiros sem privada. Pois eu descobri sozinha no primeiro banheiro em que fui – apertadíssima – fazer xixi, na primeira cidade em que passei na França: Arles, na Provence.

Você não pode só pedir pra ir ao banheiro num restaurante, hotel ou coisa que o valha. Se pedir, eles dizem que não tem ou te mandam embora depois de te insultar com alguma palavra que você não conhece. Então, como sempre, sentados em qualquer lugar e pedimos um café. No meu limite, lá fui eu – animada – ao toilete. Ou est? C’est ça. Merci.

Corro, entro, fecho a porta, me viro e… voilá! C’est pas de privada. Tudo o que vejo é uma pia e um buraco no chão. Gente, fala sério. Não é aqui. Entrei na porta errada. Abri. Olhei. Tava lá a menininha de vestidinho na plaquinha pregada na porta. É aqui mesmo, meu Deus. Fechei a porta. Dei umas risadas e, tá, né. Se é isso, vamos lá. Fiz xixi de pé gargalhando e me achando uma louca – eu ainda tinha certeza de que alguma coisa estava errada.

Voltei pra mesa correndo pra contra pra minha mãe, coitada, que era a próxima no xixi. E adivinha! – Ai, Juliana, como você é caipira, filha. Vai me dizer que não sabia que na França muitos banheiros não tem privada!... Não, eu não tinha a menor idéia. Mas como Deus me ajuda, aquele foi o único da espécie que encontrei pelo meu caminho francês.

COLEÇÃO DE PINICOS
Por falar em banheiro, eu devia ter feito uma coleção de fotos de banheiros de restaurantes na França. For a esse sem privada, que seria o abre-alas da collection, os outros eram todos um tanto inusitados. A maioria ficava em lugares onde parece que “encaixaram” um banheirinho, como se não existisse no projeto inicial da casa. E sempre me aparecia algum detalhe curioso ou interessante. Meus dois favoritos, só pra citar alguns: em Saint Remy estavam desenhados na parede do banheirinho minusculo os rostos de Gandhi e de Martin Luther King, com frases deles em francês escritas em letras quase indecifráveis. Era bonito. Em Avignon, no Brigadeiro del Teatro, tinha prateleiras atrás da privada com uma coleção incrível de pinicos!! Juro. Tinha uns 11, 15 ou 17. Haha. E, na parede, uma foto PB bem antiga, com 7 crianças. Seis meio que sorriam, a do meio, que me deu dor de barriga de rir, estava agachada, com aquela cara de que vai começar a chorar, segurando um pinico vazio. Certamente ela fez cocô na calçola. Eu ri muito. No banheiro e depois na mesa, com a minha mãe, que tinha reparado na mesma criança cagona.

DIAS À PROVENÇAL
Na Provence, passei pelas estradinhas mais lindas que já vi. Dirigir ali é um presente de Deus. St. Remy, Beaux de Provence, Avignon, muitas villes por onde só passamos e Aix en Provence. Tudo por aquelas alamedas margeadas por árvores verdíssimas e começando a ficar cheias e cheíssimas de folhas. Quase-túneis de árvores, sabe? Eu ia passando e pensando naqueles filmes antigos em que casais sempre aparecem viajando por estradinhas como essas. Mas é cenário porque no final, o filme é de suspense e alguém mata alguém em alguma casinha isolada no meio das årvores provencianas. A beleza do lugar é só um golpe de direção. (“Golpe de direção”… pegou? Hahaha.)
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quinta-feira, 8 de maio de 2008

COMER, COMER, VIVER

Estou em Carcassone, uma cidade medieval murada, na França. Escrevo enquanto assisto a um documentário sobre Jean-Paul Sartre jornalista, num quarto maravilhoso, sem querer dormir para não perder nenhum minuto neste lugar magìque. Me sinto num filme francês. Algumas coisas incríveis acontecem de repente.

Hoje viajamos da Espanha para a França no meio de uma paisagem que me presenteou com os Pirineus, o Mediterrâneo, videiras e um sol lindo. No caminho entre Barcelona e Carcassone, subimos e descemos a montanha para conhecer Cadaquès, para saber a cara da Costa Brava. Um charme. (Mas as curvas para chegar lá são realmente BRAVAS!).

Foi o dia de comer bem.
Maravilhosamente bem.

Almoçamos na Espanha.

Jantamos na França.
Desculpe. (rs)

E acertamos todas as vezes, na mosca - e no peixe, na carne, no cordeiro, na salada, no vinho, no caminho.


No almoço comi um menu-degustação no El Rovel, na rua principal do Le Born em Barcelona, a Argenteria. Eu não sabia o que ia comer, o menu muda todo dia porque o chef prepara o que tem de mais fresco. Era exatamente o que eu queria: surpresa. E que surpresa! Cada pratinho, um deslumbre de sabores, e odores, e belezas. Nem vale a pena eu tentar descrever porque seria pouco. Di-vi-no. Anchova com ovas e um molho sensacional (achei que eu não ia gostar, amei). Gaspacho com espuma de parmesão, raspas de salame e torrada finíssima. Risoto de bacalhau com alcaparras (nunca gostei de bacalhau, este comi chorando de alegria). Bonito com uma salsa deliciosa, tostadinho por fora e cru por dentro (como aquele atum), indescritível.

E, pra terminar, um filé mignon no ponto perfeito de mal passado por dentro, com cogumelos daqueles sem-igual enrrugadinhos (não sei o nome) e raspas de trufa (fiquei sentindo o cheiro uns 10 minutos antes de ter coragem de comer). Me joguei no chåo de tão bom. A sobremesa foi boa, mas como sou mais de sais que de açúcares, deixo o gusto do salgado, que me fez sorrir por horas a fio.


No jantar, há pouco, em Carcassone, no bistrô Saint Jean, pratos lindos, lindos, lindos. A Daysi comeu Carré de Cordeiro e eu uma salada coloridíssima (!). Tudo delicioso. E um vinho tinto, ui, igualmente maravieux. Até o café foi especial.

Enfim, tá demais de lindo.
E eu “não sei onde isso vai parar”!

Merci beaucoup!
(escrevi certo? odeio essa língua!)


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quarta-feira, 7 de maio de 2008

BORN TO BE ALIVE IN BARCELONA

Resolvi fazer uma caminhada que o guia sugeria. Foi a minha melhor idéia nos últimos dez dias. SEN-SA-CIO-NAL! Finalmente descobri o charme atual de Barcelona: EL BORN, uma dezena de quarteirões recheados de surpresas dentro do Bairro Gótico. Tá super na moda, mas isso não estraga nada. Pelo contrário, faz com que apareçam cada vez mais lugares bacanas por lá. Tem de tudo: as lojinhas mais legais da cidade, bares e restaurantes super bonitos e modernos, chocolates, sorvetes, café moído na hora, fachadas de 1800 originais, museus em cosntruções enormes com páteos lindo – inclusive o museu do Picasso, a igreja mais linda!, a de Santa Maria, e bistrôs, mercadinhos, coisinhas… demais. Tudo que eu adoro no mesmo lugar. Ruelas cheias de colorido e segredos. Pracinhas, becos, pessoas interessantes. Born Born Born.


O MONTSERRAT E AS CRIANÇAS
É impressionante o Montserrat. Quando a gente avista o monte, já baba; quando começa a subir, morre. Não sei o que vai me acontecer em Paris, em Roma, em Praga… porque a cada coisa que eu vejo, penso que mais bonito não vai ter. E eu sei que vai. Mas a vista do Montserrat é absurda. O monte parece formado por pessoas de pedra, monges, magos, seres que nos observam e protegem… sei lá. Alguma coisa além de nós. E especial.

Chegamos para ver a cantoria antes da missa. A igreja estava abarrotada. Eu não consegui ver nada, nem dava pra entrar. Então me sentei ali, no chão mesmo – minha måe não viu, claro (rs) -, num cantinho perto da porta, e escutei. O canto foi bonito. Mas bonito mesmo, pra mim, foi que, de repente, uma fila com umas cinquenta crianças começou a entrar, passando pelo meio das gentes, e sumindo na multidão, guiados pelos professores guerreiros que os foram conduzindo pelos muros de pessoas. Antes disso, porém, a parte que me toca: todos, e cada um, eram obrigados a passar quase por cima de mim e, sabe Deus por quê, as crianças fofas resolveram me dar oi. A primeira menina da fila me olhou e disse “hola”. Pronto. Foi start para que um atrás do outro imitassem o da frente, e assim recebi um sorriso, sorriso, sorriso, “hola”, “hola”, “hola” durante a passagem da fila… que delicia! Uma bobagem deliciosa. E abençoada pela Nossa Senhora (preta) de Montserrat.

Depois que saíram da igreja, a turminha se sentou ali na frente, no páteo da basilica, e eles tomaram lanche e brincaram. Coisa mais singela. E eu estava lá, e vi, e escrevo pra guardar a memória dos instantes de benção no mosteiro da Catalunha.

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terça-feira, 6 de maio de 2008

GAUDí, O REI

Tá, eu confesso. Minha cultura geral não atinge todas as artes e eu não sabia lá muita coisa sobre o Gaudí. Muito menos que as construções mais legais de Barcelona foram criadas por ele e que ele é o rei da cidade. Quase tudo aqui remete a Gaudí – o resto, ao "Barça", o time de futebol. Em cada esquina, alguém desfila com a camiseta listrada do Ronaldinho.

Achei Gaudí o máximo. Louco e genial.
E virei fã do Barcelona porque essa coisa contagia…

A igreja e as casas-esqueleto
Começamos a ver o Gaudí pela Sagrada Família, pra cair o queixo de cara. É absolutamente inacreditável. E aquela gente trabalhando parece A História Sem Fim. Alguma hora aquilo vai ficar pronto ainda nesta vida? Yo no se.

Fiquei lá parada por alguns instantes, olhando pra cima, e tentando imaginar como o cara criou uma coisa daquelas e como eles começaram a levantar aquilo. Se hoje, em 2008, eles usam uma parafernalha desgraçada pra tirar o projeto do papel, como eles conseguiam construir aquelas coisas antes? Daquela altura? Com aqueles detalhes? Sabe Deus! Deslumbrante.

Mas aí, depois, fomos ver a Casa Batló e, vou dizer, achei imbatível. Cada imagem, cada coisa maravilhosa, cada vista surpreendente. Eu amei. Parecia uma criança em cada sala que entrava, boquiaberta, chocada de alegria, me divertindo muito. E fui ouvindo o guia, que vai explicando cada inspiração da natureza para cada lugar e cada pedacinho da casa. O corredor de esqueleto de animal é genial. E as ondas, o fundo do mar, o lagarto. Tudo de gênio. Ge-ni-al.

Terminamos a overdose de Gaudí na Casa Milá, a Pedreira (não fomos ao Parc Guel, infelizmente). Também é demais. E aquele terraço maluco?! É absurdo de único. Não sei se achei muito bonito, acho que não, mas é uma coisa bárbara. Não acho o que quero dizer. Tem que ver. Mas o mais legal na Pedreira foi ver montado um apartamento da época. Era tudo tão legal! Será que eles, que moravam daquele jeito, sabiam como era legal? Que TV de plasma, que nada. O legal era ter ferro de passar de ferro mesmo e pena para escrever. Pra que computador, meu Deus? Comprei um bico de pena simplesmente de arrasar. Estou passada de felicidade (Tha, me amarrota que eu tô passada!). Eu me alegro muito com pouca coisa e isso é bom demais. Meu bico-de-pena-é-tudo-de-bom. Deviam inventar um computador onde a gente escrevesse com bico de pena. Magnífico.

Ah, Barcelona me encheu de adjetivos.

As Ramblas, sinceramente, eu não entendi muito qual a Gracia. Hahaha. Sou øtima de trocadilhos. O Paseo de Gracia é bonito e gostoso, principalmente pra quem tem dinheiro sobrando e pode gastar naquelas lojas revoltantemente caras. Um belo insulto.
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segunda-feira, 5 de maio de 2008

EL GRANDE TEATRO DEL MONDO

As luzes do teatro se apagam quando começa o espetáculo graças a uma opera de Verdi. Sabia? Eu também não sabia. Apendi durante a visita ao GRAND TEATRE DEL LICEU, em Barcelona. As pessoas iam às operas para ver e serem vistas e para ficar conversando. E então havia essa opera do Verdi que dizia que o importante estava no palco e não na platéia, e que por isso as luzes da platéia deviam baixar quando o espetáculo começava. Isso foi dando tão certo no sentido de fazer as pessoas assistirem em vez de conversar, que foi-se diminuindo a luz cada vez mais, até apagar de vez, como se faz até hoje. Bem, isso foi o que me contaram, e mesmo que não seja bem assim, vou continuar acreditando nisso porque a história é muito boa e eu adoro histórias boas – verdadeiras ou nem tanto.

Outra coisa que aprendi no Liceu foi que o pintor catalão Ramon Cazas só pintava as mulheres de boca fechada porque quando ele tentava fazer bocas abertas, comversando ou cantando, ficava tudo um horror. Então, mesmo nos quadros onde as senhouras tomam chá e fofocam, ou quando as freiras cantam no coral, estão todas de boca fechada - e lindas.

No museu de Monteserrat vi, mais uma vez, que a luz do Caravaggio é divina e brutal. E lembrei que gosto mesmo é de Velasquez. Tem As Meninas de todos os tamanhos, e chaveiros, e ímãs, e colherzinhas e enfeites e sei-lá-mais-o-quê. Eu não queria que meu quadro favorito fosse assim, arroz de festa. Muito sem graça. Mas parece que é. E continua sendo meu favorito.


PS: Pensando melhor, o catalão depois de um tempo começa a se acomodar nos ouvidos e a gente passa a entender tudo. Continua pareceno Hopi Hari, mas com sentido. Muito divertido.
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domingo, 4 de maio de 2008

MUROS QUE FALAM

No caminho de Alcañiz para Barcelona, paramos em uma cidade chamada TARRAGONA. Linda! O mediterrâneo azul, e as pessoas coloridas caminhando pelo calçadão central e almoçando nos restaurantes. Tudo cheio de gente. Sentamos ali sob o sol e comemos camarões deliciosos.

De repente: cadê todo mundo? Não sei o que aconteceu. Eu só virei ali a esquina a beira-mar para ver o as ruínas de um maravilhoso teatro romano e, quando voltei, praça vazia, mesas de restaurantes esvaziando, pouquíssima gente ainda na rua. Siesta? Não sei. Mas foi bizarro.

E me deparei com um muro pintado com grafites chineses - uma criança num barco e um dragão, e uma feiticeira com uma menina e um prato com alguma coisa; deviam ser provérbios, mas não consegui identificar - e no muro se podia ler: Murs que Parlam. Achei fantástica essa definição e a imagem que se cria... “Muros que Falam”. Por quê achei isso? Não sei. Palavras nem sempre falam como muros, que falam. (>?)

BARÇA
Chegamos a Barcelona.

Conseguimos vir um pedaço do caminho pelo litoral e passando pelas vilas e cidadezinhas. O mais legal depois que entramos na CATALUNYA - quase inacreditável - é ver as placas pelo caminho em catalão, com informações de cada cidade. Cê fica louco. Parece que é de brincadeira. A língua é demais. Eu me senti no Hopi Hari, com aquela língua que eles têm lá. Catalão parece HopiHarês. E eles falando no radio, então, a gente jura que é de brincadeira! Não dá pra entender quase nada e dá vontade de rir. Parece, de fato, um país dentro de outro país.

Mas, em Barcelona, a gente vê que não é um país, mas o mundo dentro de uma cidade.

Caminhamos pelas Ramblas até o Colombo. Ele fica lá parado, de pedra, cercado de leões, enquanto gente do mundo inteiro pára aos pés dele pra tirar fotos ou apreciar seja lá o que for. E logo ali, o Port Olimpico. Acho que é assim o nome. Cheio cheio cheio. Domingo é tudo cheio. Mas lindo lindo lindo. Cheio e lindo.

Quatro dias em Barcelona e um monte de coisas pra ver. Veremos.

sábado, 3 de maio de 2008

UMA CARTA PARA MINHA IRMÃ

Oi, Dã.
Você me perguntou onde eu arranjo tempo pra escrever, e eu te conto. Você acha que eu vou perder tempo dormindo na Europa? Nãããão. Umas quatro horinhas por noite tá bom. Então, de madrugada, nada melhor do que relembrar o dia, rever fotos, registrar alguma coisa...

Enquanto a mamãe já dorme, eu escrevo.
(ela acabou de acordar e me dar uma bronca...)

Hoje viemos de Toledo para o Parador de Alcañiz, um castelo lindo, no alto de um morro. Estamos a caminho de Barcelona, mas não dava pra ir de uma vez, então esta parada pra dormir aqui. Jantamos num salão todo nobre - mas a mamãe diz que antigamente os Paradores eram muito mais chiques. Pra mim tá chique o bastante. Olha ela aí ao lado, chiquérrima no nosso jantar, como um céu pela janela que parece cenário. Mas é vida real.

Ah, não tem muita foto da gente juntas porque ela não quer sair nas fotos, e quando tira de mim fica muito mais ou menos, corta os fundos, essas coisas, haha. Então acabo tirando eu. Mas vê porque tem mil coisas lindas.

Por que você pediu pra eu falar português de Portugal com a Sofia? Pra ela saber que na Europa se fala português também, além de español? - hahaha.

bom, vou dormir antes que alguém desperte de nuevo e me mate.

besos.

PS: no caminho paramos em Zaragoza e não achamos nada de bom lá. Só um pouco antes de chegar que teve uma coisa interessante: tinha nuns campos uns "cataventos" gigantes, muitos e muitos, a perder de vista, e a gente não conseguiu descobrir pra que servem. Parecia sinalizador pra ET pousar de disco voador.


Poema do Caminho
Árido
Fora e dentro


sexta-feira, 2 de maio de 2008

TOLEDOLÂNDIA!

A gente não sabe se foi só porque era feriado ou se é sempre daquele jeito, mas a cidade murada de Toledo foi invadida por turistas-tipo-disney. A catedral - que é deslumbrante e gigantescamente uma das maiores do cristianismo - lota: rezar lá em silêncio, nem pensar! Só na capelinha... A praça - principalmente na hora do almoço - é o mesmo inferno dos parques infantis abarrotados de gente disputando uma mesinha e um hamburguer. E depois da hora do almoço continua cheio, mas de gente no ponto de ônibus, fazendo fila pra ir embora. Mesmo assim, vou te contar, é muito legal.

Eu consegui fugir do stress e descobri que, quanto mais longe da praça e da catedral, mais tranquilo, mais vazio, mais bonito, mais lugarzinhos pra descobrir e mais Toledo de verdade. Longe da rua comércio, há um ou outro restaurante - e sem gente desesperada e barulhenta - e as casinhas das pessoas são incríveis... você vai andando e, se der sorte, dá pra ouvir várias conversas que vêm de dentro das casas... há portas e janelas abertas e eles falam alto paca. A melhor de todas pra mim foi uma senhorinha que gritava qualquer coisa - com a voz da Mirian Muniz - e a filha dela não entendia, então gritava de volta "que buscas, mamá?". E a velha repetia, e nada. Eu também não entendia, era um rosnado. Na quinta vez, a mulher compreendeu: "ah, bien, se no quieres nada por que gritas?". E a velha respondeu com outro rosnado, mas que eu entendi: "GRITO PORQUE ME GUSTA GRITAR!". Foi muito engraçado.

Enfim, caminhei por mil ruelas e vielas de Toledo e imaginei um monte de coisas de quando aquilo era de verdade e não tinha ponto de ønibus, nem praça de alimentação, nem Mc Donalds, nem Zara, nem Lan House. E foi lindo imaginar. Então, Toledo pra mim, embora tenham destruído muito da ilusão abarrotando o lugar de lojas etc, Toledo pra mim é uma catedral de dimensões estratosféricas, em volta da qual foi-se construindo uma cidadezinha em ruelas que poderia ser o labirinto do Minotauro. Sim, eu me perdi lá dentro - várias vezes.

Ah, e ao redor da cidade murada, uma outra cidade gigantesca não pára de crescer. Há já muitos hotéis, e restaurante, e bares, e uma arena de shows, e agito e trânsito... E há muito mais sendo construído. Eu achei uma pena. Mas amei o que vi nos becos escondidos da cidadela. É preciso explorar.

Labirinto
O poema hoje
se perdeu
pelas ruas perdidas
de Toledo.



quinta-feira, 1 de maio de 2008

A IMPORTÂNCIA DE UM "i"

De Portugal para a Espanha, chegamos a MÉRIDA. Nunca a presença de uma simples letra “i” fez tanto sentido. Mérida, que seria definitivamente evitada não fosse pelo “i”, é um lugar lindo e surpreendente.

Essa cidadezinha só entrou no roteiro porque está no caminho entre Lisboa e Toledo. A gente não sabia nada, mas sugeriram e reservaram pra nós um quarto no PARADOR de Mérida, pra passar a noite e seguir viagem amanhã. Não podia ser melhor. Fiquei deslumbrada. Mérida é re-al-men-te bonito, uma gratíssima descoberta.

O Parador onde estamos foi um convento e depois uma cadeia. É divino. Cada detalhe é de parar e ficar olhando, devagar, e tentar se lembrar de um passado que você não viveu mas que é como se estivesse estado aqui. Mandrake.

†udo o que foi conservado pela cidade tem resquícios romanos. Ruínas, algumas construções, muralhas, pisos, portas, janelas... E A PONTE. Meu Deus, a ponte romana é uma coisa extraordinária. Só passa gente. †em mais de um quilômetro de paralelepípedo sobre o Tejo. Tudo é lindo e cheio de história. E ainda chegamos lá bem no pôr-do-sol! A hora da luz mais linda! Eu queria sentar no chão - ou melhor, na ponte - e gritar de tanta boniteza. Segundo a Daysi, essa ponte é parecida com a ponte de Praga. Imagina que deslumbre.

E a cidade simplesmente "ferve". Aquela fervência de cidade do interior rica. Todo mundo na praça. Os playboys passando com seus carros e o som altíssimo, as meninas em rodinhas e risinhos, famílias e crianças, e velhinhos e cachorros... hoje é feriado então tava todo mundo lá. Inclusive à noite. Tava a maior balada num pub chamado La Casa de Tu Madre, aqui na frente do nosso Parador... pero a mi madre, lógico, no le gusto ni la puerta! Y nos fuimos a dormir... rs.

E o que, de fato, fez meu coração pular: árvores e mais árvores CARREGADAS de tangerina. Aquela mexerica Polcan, gigante. Árvores e mais árvores... E NO MEIO DA RUA! Assim, no meio de um praça, e de outra, na porta do meu hotel, em qualquer esquina... parecia desenho animado, juro. Que coisa linda! É, acho que eu sou caipira...

Enfim, amei Mérida.

Antes de chegar aqui
Teve maratona de 1 de Maio pelas ruas de Lisboa. Nós fomos almoçar em Monsanto num restaurante onde você escolhe o peixe fresco, exposto como se estivesse no mercado, e eles fazem grelhado ali na hora, no meio do salão. Mercado do Peixe. Se for a Lisboa, vá lá. E coma o camarão gigante que esqueci o nome.

Do Mercado, pegamos a estrada em direção à Espanha. No caminho, pra fazer companhia à Linda-A-Velha, encontrei Montemor-O-Novo. Tenho a foto de prova. Ataque de riso.

Antes de sair de Portugal, passamos por Évora, só pra olhar e conhecer rapidinho. É uma cidade murada, bem pequenininha. Cidades muradas me causam uma sensação que ainda não sei bem qual é. Talvez eu descubra amanhã, em Toledo.

Enfim, amei Mérida mesmo.

Talvez eu tenha mais a dizer, mas agora não dá tempo.
(e eu sempre tenho mais a dizer)

A Maratona do Primeiro de Maio
Os portugas vão correndo além-mar
porque é preciso navegar.

Nós caminhamos devagar
pra poder aproveitar.

Minha mãe faz rimas pobres
e eu tento consertar.

Ela diz que eu faço tudo errado
e que tenta me arrumar.

Arrumamos as malas
e fomos viajar.

No Mercado do Peixe em Lisboa, o almoço:
imperador grelhado,
pastel assado,
restaurante cheio no feriado.

No caminho para a Espanha, Évora:
cidade murada,
não teve parada,
mal demos uma olhada...

Na chegada a Mérida, a surpresa:
o convento Parador, a influência romana, as árvores de tangerina;
casinhas, ruelas, praças, uma ou outra ruína;
e nós deslumbradas sobre a ponte que não termina.