Quando ela termina a música, você se vira e vê a rua do seu hotel. Sorri de novo. Vai até lá, pára na porta, olha para os lados e não acredita – é tudo deslumbrante. E você está colada aos palácios dos antigos imperadores. É grandioso num nível que você quase duvida. Na sua cabeça, uma frase se repete: Meu Deus, meu Deus, meu Deus.
Você entra no hotelzinho, vê que o lugar é uma graça, sobe para o seu quarto, senta na cama, sorri mais uma vez, e agradece por tanta beleza.
Foi assim minha chegada a Viena.
Depois que saí do hotel, o primeiro lugar onde entrei foi em uma igreja monumental que tem em Viena. E dá-se que a sorte me sorriu e quando coloquei os pés lá dentro, estava quase vazia, com aquele silêncio lindo de igreja e começa a tocar um órgão, mas um órgão que você não acredita no tamanho. E uma música daquelas que vão crescendo e dentro de você tudo pulsa a cada acorde mais forte... E em umas telas enormes espalhadas sobre os bancos da igreja, num pé direito descomunalmente gótico e alto, são projetados rostos de pessoas comuns... homens, mulheres, jovens, velhos, crianças, tudo. Depois eu descubro que a idéia é dizer que há anjos espalhados por aí e que eles têm assim, rostos comuns, como aqueles. Enfim, eram anjos sobre a minha cabeça. E aí a vida estava completa e eu agradeci de novo por tanta tanta tanta beleza.
LIFE IS PIC NIC
E então gentilmente nos mandaram sair da igreja porque estava fechando (dez da noite!) e fui caminhar pela cidade. A cidade, sinto dizer, tomada por futebol, e palanques, e fanáticos. Há jardins fechados e com telões enormes no meio, museus cercados, outdoors, totens e futebol por todo lado. E Coca-Cola e Adidas e merchandising até dizer pelamordedeuschega! Saco. Mas tá.
Caminhei até anoitecer. De repente um cara numa bicicleta pára na minha frente e puxa papo. Vou resumir porque acabei passando horas com ele: Robert é loiro, bem alto, magro, estiloso, tem 45 anos (mas parece 33). É holandês, mas morou uma década (antes de começar a viajar) em Paris. Há uns cinco anos viaja pela Europa num trailer, onde mora. Aluga um apartamento que tem em Amsterdam pra garantir renda fixa. E viaja por todos os cantos. Livre, como ele disse que quer ser pra sempre.
É fotógrafo, tem um notebook da apple daqueles de tela enorme, uma bicicleta mega-modernosa, o trailler dele é impecável de limpo e organizado e cheio de coisas sofisticadas, mas ele só toma banho em piscinas públicas e não paga caro pra comer nunca. Tem uma gata branca, a Mily, que não abandona o trailler por nada. É apaixonada pelo Robert. Às vezes surge um trabalho de foto, às vezes não – e parece que ele não se importa muito. Pelo menos assim me fez crer. Foi casado com uma francesa e tem uma filha de 12 anos que mora em Paris com a mãe – amigona dele. Disse que não quer namorar nem casar nunca mais. Só tem relações-relâmpago, “como a vida num trailler” , diz ele. E é gay.
E a frase deste subtítulo também é dele.
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