terça-feira, 17 de junho de 2008

BERLIM DE NOVO

Deixei Berlim com a sensação de que tenho que voltar lá um dia. Porque eu só consegui sentir as dores da Guerra e do monstro nazista, e já sei que a cidade não é só isso. Pelo contrário. Ontem meu amigo Luis quase me convenceu a ficar mais um pouco. Não exatamente ele, mas a Soninha – é, a vereadora – , com quem ele trabalha e que ama Berlim. Ela me disse assim, depois de gritar pra eu não ir embora ainda: “a primeira vez que estive em Berlim detestei, mas depois me apaixonei. Me apaixonei pra casar!”. Recebida esta informação, levando-se em conta que eu normalmente quando me apaixono é pra casar, e ainda mais isso dito por uma pessoa que admiro tanto, a Soninha, deixo Berlim guardada e guardo a vontade de uma segunda chance com ela – pra mim, claro.

Importa dizer que não é que eu não gostei da cidade. Eu gostei de algum jeito - até fiquei quietinha no muro, olha aí! Mas teve essa estranheza muito incômoda e sufocante. E a coisa da dor, do sofrimento que me tomou. Também, eu sei, eu fiz os programas errados, nas horas erradas. E o domingo, a EuroCopa, os turcos – um pouco da lingua - e a solidão não ajudaram nada. Ah, e a casa da Anne Frank na Holanda, que não sai da minha cabeça...

Aí vão duas coisas que a Soninha escreveu sobre Berlim, com as quais eu concordo quase completamente – com o resto vou concordar depois de visitar a cidade outra vez, com outros olhos e, espero, com menos dor:
Aqui estou
Everybody speaks english

TRILHOS TRILHADOS
Acho que eu nasci pra viajar de trem. Tenho amado. Hoje, pelas cidadezinhas da Alemanha, de Berlim para Munique e depois para Salzburgo, já na Áustria, fiz a viagem mais bonita de todas as de trem até agora. As cores, as casinhas, as águas, as pontes, um monte de coisa linda de ver. E de uma singeleza… (adoro essa palavra inventada). Enfim, belo caminho, com sol. E dancing through life.

CHECK POINT JOE
O Joe quase salvou minha estada em Berlim, mas eu que sou teimosa e tive medo dos turcos, acabei fazendo a opção errada. No domingo, depois de assistir a Elisabeth, eu resolvi ir para a ilha dos museus. Fui pegar o metrô e já comecei a sofrer – muitas opções de bilhete e eu não tinha idéia. Comprei o mais barato. E nem precisava porque no final ninguém nem olhou. Pelo menos fui honesta. Bom, mas lá estava eu, com o bilhete na mão, tentando entender por que dizia “valide seu ticket”, quando um moço muito simpático ofereceu ajuda. Oh, yes, please, save me. Ele me mostrou onde validava, perguntou pra onde eu ia, disse que eu tinha comprado o bilhete errado, rs, mas tudo bem. E me falou pra ir com ele que ele me mostrava onde descer na Alexander Platz, meu desejado (e errado naquele dia) destino.

E aí veio a primeira tentativa do Joe de salvar meu fim de domingo. Ele disse: “Esse lugar agora não tem nada, deve estar very very sad, you will see. Hoje é dia de futebol – Turquia vai jogar e Berlim está cheio de turcos portanto não tem ninguém por aí, estão todos nos lugares onde se vê o jogo”. Eu achei que não tinha entendido bem, afinal, e os turistas? Como assim ninguém naquela região dos museus? Não era possível que não ia ter ninguém no principal lugar de Berlim… Pois era. Mas sigamos.

Joe é de Amsterdam, imagine! Eu teci elogios e ele adorou. Bem que faz sentido ele ser de lá porque ele era BEM bonito e eu nunca vi tanta gente bonita quanto na Holanda! Joe morou uns anos em NY e está há três em Berlim. Ele estuda Tecnologia de Segurança, isto é, chips, finger prints, raio laser ótico, quase cinema de ficção científica. E, imagine de novo, o pai dele é bam bam bam de uma empresa que faz o sistema de chip dos cartões do Santander. Iiiih, foi uma festa, mostrei meu cartão, ele mostrou o dele, rimos como se aquilo fosse muitíssimo importante, e estava lá no cartão o nominho da tal empresa – onde ele também trabalha. Coincidências à parte, chegamos ao meu destino.

Ele desceu comigo e veio a segunda tentativa de Deus, ou do Joe, de me salvar do marasmo Berlinense quando você não sabe onde é o lugar certo do momento: “Tem certeza de que você quer ficar aí? Eu estou indo ver o jogo num lugar bem legal, onde tem um telão enorme e milhares de pessoas, você vai gostar”. Eu até quis ir, juro, mas me achei idiota de estar em Berlim por dois dias e ir a um centro cultural assistir ao jogo da Turquia. Antes tivesse ido.

O Joe ainda disse pra eu dar uma andada ali, então, já que “you need to travel to feel good” e depois ir pra lá pegar o segundo tempo. Tá, eu vou. Então ele me deu o cellular caso eu precisasse de ajuda. Enfim, tava tudo vazio mesmo. O único movimento na rua inteira era na frente da Ópera. E eu quase entrei de penetra na Traviata porque passei lá bem no intervalo e me misturei, entrei, sentei na platéia pra ver o teatro – mas tive medo de ficar e ser pega, que vergonha. Bom, acabei andando demais naquele vazio e quando me dei conta achei tarde pra me aventurar até o Joe. Era pro lado oposto do meu hotel e cá entre nós o metrô de Berlim não me pareceu a coisa mais fácil do mundo… Então não fui. Voltei. E já contei o que aconteceu quando saí da estação no bairro do meu hotel: os turcos tomaram as ruas e quase me mataram de frustração por ver que a gente só torce e comemora daquele jeito UMA VEZ A CADA QUATRO ANOS!

DO RE MI FA SOL LA SI
Estou quase chegando em Salzburgo e acabo de me dar conta de uma coisa que pode fazer toda a diferença nas minhas próximas três – e promissoras - paradas (Viena, Budapeste e Praga): os europeus não nos dizem o que fazer. Claro, porque sempre que chego no hotel peço dicas e tal, e eles nunca me dizem que tem coisa. Depois que já perdi é que vejo que teve opera, orquestra, música na praça etc. Eles simplesmente me dão o mapinha, no máximo fazem um xizinho aqui e ali, e tchau. Ou será que sou eu que não tô sabendo perguntar? Hm. Vou pensar sobre isso. Na Áustria! Ao som de Mozart. Estou muito feliz de estar entrando neste país. Não sei por quê. Mas estou.

Vou ficar na rua Rainer. Interessante, não, Georgettinha?
Queria ficar na casa da Noviça Rebelde...

Am… adeus.
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