sábado, 28 de junho de 2008

PESSOAS

Aqui em Praga, é incrível, no topo de todas as casas, casarões, casinhas, palácios e coisa que o valha, tem pessoas esculpidas. Hoje passei horas olhando cada uma delas. Tem de tudo. Gente feliz, triste, brava, séria, apontando os outros, cantando, dançando, tocando instrumento, segurando alguma coisa, rezando, contemplando o nada, fazendo cara de conteúdo, esperando Godot... de tudo mesmo! E então isso me fez pensar em várias pessoas que povoaram minha passagem por Praga e quero deixá-las aqui para não esquecê-las.

NOM
Se você vier a Praga, vá até a rua Rytíîská, 19 - super fácil, do lado da Praça da Cidade Velha, a rua do Divadlo (teatro) do Mozart - e procure pela Nom. Pronuncia-se Nóm. Nom é uma tailandesa pequena, sorridente, com uma risada gostosa, fofa e abençoada por Deus. Ela vai te deixar no céu por uma hora.

Eu fui lá porque meus pés estão destruídos, já que tenho andado demais, dia e noite, sem parar, querendo ver tudo deste lugar deslumbrante. E na porta do lugar dizia Thai Foot Massage. Mas o foot é só pra enganar porque é uma bela de uma massagem nos pés, nas pernas, nos braços, nas mãos, na cabeça e nos ombros. E a Nom é incrível.

Só não espere conversar muito porque o inglês dela é uma tristeza e a pronúncia nem Jesus entende. Mas ela aprendeu a falar Ti ámo e Saudadji. E ela fala bem a palavra Good. Pra tudo é Guuuud, guuuud. E antes da massagem, ela te deita cadeira e diz Guuud Night. Além dela, tem mais umas cinco tailandesazinhas nos mesmo moldes. Mas Nom é a melhor. E durante a massagem elas ficam conversando e rindo em tailandês. Sim, a risada É em tailandês, juro. E soa como música, de tão boa que a massagem é. E volte no dia seguinte. Quando fui me despedir, a Nom me abraçou muito e disse: Saudadji, DJúri. Que pessoa fofa, meu Deus.

ERIK
O guia do meu tour de bike. Metade mexicano, metade americano, como ele mesmo se define. Veio morar em Praga há quatro anos e não sabe por quê. Namora uma tcheca e durante o nosso tour pegou para ela um punhado de rosas maravilhosas que umas senhoras estavam podando de um jardim. Ele trabalha de guia e de fiscal num albergue. Não sei o que é ser fiscal num albergue. Foi ótimo e como todo latino que se preza - ele não é latino, mas é - bem , como todo latino que se preza nos ensinou, por exemplo, a ver os túmulos no bairro judeu sem pagar. Você entra numa portinha lateral pra ir ao banheiro e olha por baixo do portão. Pronto, deu por visto, podemos ir pra próxima atração. Mais prático do que o Erik, impossível. Ele era a cara do Tchelo Palma. Ou o rascunho do Jonny Depp em Piratas do Caribe.

SILVIA e RO
Qual a chance de encontrar por acaso uma amiga sua do Brasil numa rua de Praga? Pois Silvia e eu nos encontramos. Estávamos fazendo o tour de bike. Eu na minha turminha de quatro (com o Erik, mais um canadense original e um canadense que nasceu na Jordânia) e a Sílvia e uma amiga, a Ro, no tour da concorrência, numa turma de uns seis. Enquanto nossos guias trocavam farpas disfarçadas, eu só ouvi: Ju! não acredito! Nem eu. À noite fomos as três juntas à ópera ver Aida, e depois tomamos um vinho. Dona Margarida, Neide e Brenda também apareceram. Foi surreal e ótimo.

CUBANO
Não sei o nome dele. Puxou papo comigo na porta do teatro. Primeiro em inglês, depois entramos no espanhol. Ele estava fotografando e também ia assistir a Aida. Nasceu em Cuba mas foi cedo morar nos Estados Unidos. Deve estar nos 40, 50. Me contou que ganhou uma herança e agora só vive viajando e fotografando. Disse que quer voltar a Cuba, mas não sabe quando porque tem dificuldade de voltar a lugares por onde já passou. Não gosta e normalmente não volta mesmo. Só anda adiante, para lugares novos. É de se pensar.

KATKA
Olhos enormes e verdes. Tem 20 anos e trabalha aqui no hotel das 22h às 8h, durante as férias da escola. Ela é muito engraçada. Fala inglês com MUITO sotaque tcheco, eu quase não entendo. E sempre parece que ela tá nervosa porque não acha as palavras. Ela balança a cabeça e as mãos enquanto fala, quase epilética, e começa todas - eu disse TODAS - as frases com "for example...". Eu preciso me controlar porque vai dando vontade de rir e de bater nas costas dela pra ajudar a sair! Ela é quase gaga em inglês. Mas tcheco fala fácil, já ouvi. É fofa. Hoje ela me contou que teve uma discussão enorme com o namorado porque ele quer ir morar com ela e ela disse que ainda não. Imgina, namoram só há três meses! E ele gosta de reggae e ela de metal. Ah, e AMA O Senhor dos Anéis, fala nisso o tempo todo. Ainda está na escola porque tem umas matérias que não consegue aprender, tipo geografia. Segundo ela, a República Tcheca muda a cada cinco minutos então não é justo ela ter de aprender geografia! Ela quer é ouvir música e trabalhar com ecologia. E se perde em Praga todo dia - diz que as ruas são muito estreitas e parecidas, um labirinto...

LUDMILA
A Ludmila é a moça que cuida de mim no café da manhã. Não sei bem por que, mas ela se afeiçoou a mim de uma tal maneira que eu quase não consigo tomar café porque ela vem me dizer alguma coisinha de cinco em cinco minutos. É loira e tem o corte de cabelo do Chitãozinho e Xororó naquela época em que começaram a fazer sucesso. Esse mesmo, espetado meio compridinho atrás. Ai, o cabelo da Ludmila é desse jeito, mas ela é um amor, muito querida. Tadinha, eu queria avisá-la pra mudar esse corte, mas em inglês não dá pra falar com jeitinho. E ela disse pra mim que se eu quiser trocar Euros pelo dinheiro tcheco - que não decoro o nome - então ela disse que troca comigo. Porque vai viajar no fim do mês e já está juntando o the strong money, she said. Além disso, ela me ORDENOU visitar o jardim das rosas, lá no topo do morro, do lado de uma mini-torre-eiffel que Praga tem . Eu fui hoje. Lindo mesmo o jardim. Mas sabe como é, flores, uma coisa bem no estilo do cabelo da Ludmila. Ai.

RICHARD
Ele tem pouco mais de um metro e meio e é da Malásia. Nos conhecemos na estação de Budapeste. Ele foi uma das pessoas que passou comigo mais de duas horas esperando o trem para vir a Praga (sim, atrasou tudo isso). Então o Richard me fez companhia (e conhecemos rapidinho a Barb - uma americana que parece a Fafi Siqueira -, cinco suíssos loiros e estilosos e um grupinho de espanholas, tipicamente sentadas sobre as malas e conversando sem parar. E, claro, trocamos olhares e risadinhas de "pois é" com mais uma dúzia de infelizes que esperavam também). O Richard é contador e tirou dez dias de férias pra viajar, com o dinheiro contadinho. Na estação, ele me disse que eu devia ter comprado a cama no trem senão ia ser horrível viajar dez (que foram 11) horas sentada. Mais tarde eu descobri que ele tinha toda a razão e graças a Deus consegui me mudar pra uma cabininha linda e a viagem foi ótima. Não nos vimos durante o percurso porque ele estava em outro tipo de cabine e eu nem sabia onde. Mas quando chegamos a Praga, só ouvi ele me chamando lá de longe e correndo na minha direção. Julie, vamos fazer juntos aqui que vai ser mais fácil - tipo trocar dinheiro e descobrir onde pegar o Underground e o Tram (bonde). Fizemos. Mas aí não íamos pro mesmo lugar, nos despedimos e não nos vimos mais. Mas o mais interessante foi que durante a nossa conversa na espera, o Richard ficou maravilhado com o fato de eu ser jornalista. Disse que era a profissão que ele mais respeitava e admirava. Ele repetiu umas quinze vezes como era possível alguém escolher as palavras certas para escreve com pouco tudo o que se quer dizer. Deu mil exemplos e disse que, pra ele, "escrever" é um mistério. Depois ele me perguntou: afinal, quem controla o preço do petróleo? Eu disse que não sabia. Ele insistiu: ah, tenho certeza de que você sabe. Os jornalistas sabem muito mais do que a gente, mas não podem falar. Tudo bem, se você não pode falar eu respeito, mas que você sabe, você sabe. Eu não discuti. E, por fim, ele veio com a melhor de todas as perguntas: já que você é do Brasil, por favor, me fala como ê ver uma ANACONDA de perto lá na Amazônia! O que Hollywood não faz...

JANICE
A querida que conheci com os meninos na chegada em Budapeste. Nos reencontramos em Praga. Ela trabalha na Natura e é fofa até o último fio de cabelo. Estava viajando total no esquema mochilão e confirmou minha opinião sobre os riscos dos albergues: ficou em lugares ótimos, mas outros péssimos - o que acaba atrapalhando a sua vontade de ficar na cidade, por mais linda que seja.

PAUL
O rapaz que me recebeu no check-in do hotel. Primeiro tcheco com quem tive uma conversa mais longa. Foi de uma gentileza que não tem como descrever. Só pra começar bem minha estadia em Praga. É parecido com o meu primo Marcos, que morreu moço. Alto, magrelo, branquelo e bonitinho. Ele respondeu mais ou menos umas 227 perguntas que fiz sobre Praga por dia. No dia do meu check-out, simplesmente esqueci que devia desocupar o quarto às 11h. Quando me dei conta, às 13h30 e liguei pro Paul na recepção desesperada e pedindo mil desculpas, ele disse, na maior tranquilidade: don't worry. I know you are so in love with Praha you jus forget to leave. Stay until whenever you want! Don't hurry! Eu só ri, né. Porque era verdade. Eu esqueci de ir embora porque estava no mundo da lua - de Praga. Mas quando, finalmente, eu estava indo embora o Paul me disse que eu era disparado a melhor guest que ele já tinha recebido e "you MUST come back to Praha". Devido a isso, TENHO que voltar.

LUCIE E LUD
As meninas que me receberam no hotel onde eu iria ficar. Graças a elas, fui pra um hotel muito melhor, que acabaram de inaugurar. Tudo porque eu contei que era jornalista. Incrível como isso te dá poder fora do Brasil. Não paguei quase nenhum museu e tive descontos em quase todos os lugares onde devia pagar ingresso e, aqui em Pragal, me valeu esse upgrade, só pra eu conhecer esse hotel novo e - na cabeça deles - divulgar. Mas vou divulgar mesmo porque foi o máximo. Se vier a Praga, hospede-se no Embassy. Impecável. A Lud é a-cara-da-Ciba que faz teatro comigo. Só pra reforçar a teoria do tem-cinco-de-você-espalhados-pelo-mundo.
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