sexta-feira, 13 de junho de 2008

ÂNGULO VIVO

Assim que encontrei a Simoninha (porque ela é uma Simone pequena), minha amiga que mora em Amsterdam, na Holanda - mas já morou em Bruxelas, na Bélgica - ela me contou que tinha sofrido um acidente de carro na estrada entre um país e o outro (por onde ela passa como se fosse de São Paulo a Santos). Porque ela estava, nas palavras de quem já anda perdendo o português, no "ângulo morto" do outro motorista. E foi assim, rindo do ângulo morto (e sem nenhum ponto cego), que começou uma das semanas mais VIVAS e divertidas da minha estada na Europa.

Assim comecei a me lembrar de que os amigos são mesmo a família que a gente escolhe. Porque fui recebida e acolhida com um tamanho de carinho e generosidade que só a família da gente tem. Por duas pessoas adoráveis que me mostraram com paciência e gentileza uma das cidades mais interessantes e deliciosas que já conheci. Eu AMEI a Holanda.

(e, neste momento, enquanto escrevo isto, na janela à minha frente começa um nascer-do-sol-de-cinema no céu de Amsterdam. e eu ganho de presente de despedida essa visão maravilhosa de mais um dia indescritivelmente lindo e mágico. mais um dia de uma vida que não desiste de me mostrar que vale a pena)

...

Na segunda-feira passada, Simone me pegou na estação de trem de Bruxelas e viemos de carro para Amsterdam. Ela me trouxe para o apartamento lindo onde mora, no Noord, e fez de tudo pra que eu tivesse dias lindos. Claro que tive. Com bicicletas, passeios, MUITAS risadas e muito sol - mesmo com o frio, que veio mas acabou dando um charme às nossas pedaladas.

Até hoje, Simone dividia o apartamento com a Sintia (com S mesmo), uma goiana muito querida que veio morar em Amsterdam há 4 anos - e de quem eu já morro de inveja porque ela aprendeu a falar holandês e fala como se bebesse água. Enquanto eu não consegui decorar nem o Bom dia. Mas a Sintia está se mudando hoje para a Irlanda. Vai trabalhar lá pra aprender inglês. A Simone fica mais um mês aqui e depois vai morar na Espanha, transferida pelo trabalho. É assim a vida da maioria dos brasileiros que decidem morar na Europa. Meio nômade, meio aventureira, meio incerta, e bem cheia de lavoro, work, batente.

I AMSTERDAM
Essas duas foram companhias introcáveis. A Simone, mesmo depois de morar sei-lá-quantos-anos aqui, foi comigo fazer o passeio de barco pelos canais. É verdade que ela nunca tinha feito, mas você iria passear com a sua amiga pelo Tietê? (ai, que comparação absurdamente infeliz!! Mas você nem ia...)

É também verdade que ela nunca tirou foto naquele lugar onde - e ela me disse isso na maior animação, como aquela gente cafona que tira foto no nome das cidades do interior de SP - "é MUITO legal!!!! tem escrito AMSTERDAM bem grande, como se fosse Hollywood!". Eu, claro, depois de rir muito da cara dela, acabei caindo lá e tirei mais ou menos 227 fotos nas letras do "I Amsterdam". E quem me levou lá foi a Sintia que, com a maior boa vontade, fez um tour de bici comigo pelos lugares que eu queria conhecer - depois de trabalhar a manhã inteira e cheia de mala pra terminar de fazer.

I hope you are happy!!!!

QUASE NOVENTA E CINCO QUILOS!
Ter carro em Amsterdam é a maior besteira. O negócio aqui é andar de bicicleta. A Simone tem carro. A Sintia, bicicleta. Não, Si, eu não quis dizer nada com isso. hahaha. Eu andei de bicicleta todos os dias. O caminho do apartamento das meninas - de Amsterdam Noord até o centro - é uma graça. Aquelas casinhas holandesas, ruas, enfeites laranjas (por causa da EuroCopa), barcos, placas, pontes e a balsa. Tudo legal. Principalmente as casas "tortas", com a parte de cima inclinada pra frente. Juro. Não sei qual é a explicação pra isso, mas tem milhares de casinhas e predinhos tortos. Torre de Pisa? Ficha...

E a coisa da bicicleta é soberana mesmo. Faça sol, frio, chuva, neve. Dia, noite, madrugada. Elas estão sempre lá, nas ruas, nas esquinas, nas praças, dentro dos lugares, lotando os estacionamentos de bicis, (sim, eles existem e são enormes!). Eu nunca vi tanta bicicleta na minha vida. Tive dificuldades para estacionar a minha mais de uma vez. Porque, ainda por cima, tem que parar nos lugares certos e acorrentar a magrela, senão roubam. E vendem no mercado negro. Bicicleta aqui é BMW.

Nós não rimos mais porque não deu tempo. E o recorde de risadas foi em uma das voltas de bici do centro pra casa, de madrugada e num frio que só rindo mesmo. A Simone contou - com a sutileza que lhe é peculiar - que uma amiga dela "que tem quase noventa e cinco quilos" (perceba: ela não arredondou pra 100, mas para 95 - sim, é BEM engraçado a pessoa dizer "ela tem QUASE 95 kg.). Bem, ela contava que essa amiga está namorando um moço "legal mas com os dentes da frente muito tortinhos, coitado". E parece que a coisa é brava mesmo... ele quase nunca sorri porque as pessoas correm. E então a menina ligou pra mãe e disse: mãe, tô namorando um menino muito legal, mas ele tem os dentinhos da frente um pouquinho tortos, sabe... E a mãe, com aquela franquesa e tino para consolo que só as mães têm: ah, filha, mas você tem que ver que você também não é nenhuma princesa...

Tá bom, eu tive que me jogar no chão com bicicleta e tudo e gargalhar no meio da Lisnzenstdjinstraat (ou coisa que o valha). E depois descobri que, se a gente se concentra, consegue pedalar gargalhando por vários quilômetros. E no frio é bom porque esquenta.

EU, LARANJA
Minha noite de sexta-feira 13 foi laranja (com branco, Veri!). Teve jogo da EuroCopa de futebol: Holanda x França. Então imagine todos, eu disse TODOS os bares e restaurantes dos Jardins ou ao redor de uma praça de alimentação em SP enfeitados de verde e amarelo pra final da Copa do Mundo com o Brasil no jogo. Todos com tvs e telões dentro e fora, lotados de pessoas muito animadas e todas, eu disse TODAS (até os turistas) vestidas com as cores da camisa brasileira, e com apetrechos, chapéus, perucas etc. Agora troque todas as cores por laranja, BEM laranja. Pronto. Você tem a visão que eu tive na minha última noite em Amsterdam ao chegar a um dos conglomerados de bares ao redor de uma praça da cidade, a do Rembrand. Total clima de Copa do Mundo. Laranja.

Totalmente contagiante. Então claro que eu fui procurar uma lojinha aberta e comprei um monte de adereços cor-de-laranja para me paramentar. Ganhamos de 4 x 1 e eu virei uma holandesa e fanática por futebol. Por uma noite. Porque depois olhei bem e achei que o laranja não favorece a minha beleza natural, então já voltei pro canarinho.

POR FIM, ACABOU
A última cena que vi em Amsterdam, depois de tanta alegria, foi de fim, pra não me deixar esquecer que todas as coisas acabam - não só as viagens e os filmes.

Em uma das pontes sobre um dos canais estavam Nicolash e Harriet, um indiano-londrino e uma holandesa que eu recém-conhecera no bar alaranjado onde assistimos ao jogo. Eles eram namorados. Conversamos, dançamos, rimos, e eles estavam felizes, comemorando e se divertindo com um bando de amigos - laranjas também. Horas e horas depois, no meu caminho de ir embora, improváveis lá estavam eles, na ponte, mas sem a alegria do laranja. Estavam chorando. Na verdade a Harriet chorava, tentando disfarçar quando eu cheguei. Ele, sério, tentou ser simpático, mas a cena era inevitavelmente triste. Ele estava terminando tudo com ela. Acabou, ele disse. Nos amamos por, quanto tempo baby?, um ano e meio? Um pouco mais? Mas acabou. Somos de países diferentes, culturas diferentes, essas coisas de casal, e acabou. A vida é assim. Ela sabe que ela significa o mundo pra mim, mas acabou. Nós vamos nos entender - dentro do acabou! - e ela vai ficar bem, não vai baby? E a baby chorava mais.

Tudo que eu pude fazer foi dar um abraço bem apertado na Harriet, e ela precisava mesmo daquele abraço porque sem nem me conhecer, e mesmo sendo européiamente holandesa, não me largou por uns cinco minutos. E chorou muito. Eu tive vontade de bater no indiano, de jogá-lo no canal, de dar uma rasteira pra ele cair no chão e bater a cabeça, e morrer talvez com o sangue escorrendo pela testa - porque ela era de uma delicadeza incrível e ele, um feio e chato - mas não, não fiz nada disso, obviamente. Só servi pro abraço mesmo. E nem peguei o e-mail de nenhum dos dois, portanto não saberemos o final da história.

Mas acabou.
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PS: Meninas, obrigada por tudo.

Si
, good luck in Irland. Keep singing Wicked to practice your english. And I hope you're happy in the end, I hope you're happy, my friend.

Si
, por favor, continue não dando ponto sem nó. Mas comece a se lembrar de carregar as coisas porque as baterias realmente não funcionam se a gente não põe pra carregar, tá? E cuidado com aquela zona onde sempre chove!!
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Um comentário:

Temporariamente Síntia disse...

Ahhhhhhh... q saudade!!! e pensar q depois disso nunca mais nos encontramos heim Ju!!! mas vc ficou no meu coração, impossivel te esquecer!!!