Assim comecei a me lembrar de que os amigos são mesmo a família que a gente escolhe. Porque fui recebida e acolhida com um tamanho de carinho e generosidade que só a família da gente tem. Por duas pessoas adoráveis que me mostraram com paciência e gentileza uma das cidades mais interessantes e deliciosas que já conheci. Eu AMEI a Holanda.
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Na segunda-feira passada, Simone me pegou na estação de trem de Bruxelas e viemos de carro para Amsterdam. Ela me trouxe para o apartamento lindo onde mora, no Noord, e fez de tudo pra que eu tivesse dias lindos. Claro que tive. Com bicicletas, passeios, MUITAS risadas e muito sol - mesmo com o frio, que veio mas acabou dando um charme às nossas pedaladas.
Até hoje, Simone dividia o apartamento com a Sintia (com S mesmo), uma goiana muito querida que veio morar em Amsterdam há 4 anos - e de quem eu já morro de inveja porque ela aprendeu a falar holandês e fala como se bebesse água. Enquanto eu não consegui decorar nem o Bom dia. Mas a Sintia está se mudando hoje para a Irlanda. Vai trabalhar lá pra aprender inglês. A Simone fica mais um mês aqui e depois vai morar na Espanha, transferida pelo trabalho. É assim a vida da maioria dos brasileiros que decidem morar na Europa. Meio nômade, meio aventureira, meio incerta, e bem cheia de lavoro, work, batente.
Essas duas foram companhias introcáveis. A Simone, mesmo depois de morar sei-lá-quantos-anos aqui, foi comigo fazer o passeio de barco pelos canais. É verdade que ela nunca tinha feito, mas você iria passear com a sua amiga pelo Tietê? (ai, que comparação absurdamente infeliz!! Mas você nem ia...)
I hope you are happy!!!!
QUASE NOVENTA E CINCO QUILOS!
Ter carro em Amsterdam é a maior besteira. O negócio aqui é andar de bicicleta. A Simone tem carro. A Sintia, bicicleta. Não, Si, eu não quis dizer nada com isso. hahaha. Eu andei de bicicleta todos os dias. O caminho do apartamento das meninas - de Amsterdam Noord até o centro - é uma graça. Aquelas casinhas holandesas, ruas, enfeites laranjas (por causa da EuroCopa), barcos, placas, pontes e a balsa. Tudo legal. Principalmente as casas "tortas", com a parte de cima inclinada pra frente. Juro. Não sei qual é a explicação pra isso, mas tem milhares de casinhas e predinhos tortos. Torre de Pisa? Ficha...
Nós não rimos mais porque não deu tempo. E o recorde de risadas foi em uma das voltas de bici do centro pra casa, de madrugada e num frio que só rindo mesmo. A Simone contou - com a sutileza que lhe é peculiar - que uma amiga dela "que tem quase noventa e cinco quilos" (perceba: ela não arredondou pra 100, mas para 95 - sim, é BEM engraçado a pessoa dizer "ela tem QUASE 95 kg.). Bem, ela contava que essa amiga está namorando um moço "legal mas com os dentes da frente muito tortinhos, coitado". E parece que a coisa é brava mesmo... ele quase nunca sorri porque as pessoas correm. E então a menina ligou pra mãe e disse: mãe, tô namorando um menino muito legal, mas ele tem os dentinhos da frente um pouquinho tortos, sabe... E a mãe, com aquela franquesa e tino para consolo que só as mães têm: ah, filha, mas você tem que ver que você também não é nenhuma princesa...
Tá bom, eu tive que me jogar no chão com bicicleta e tudo e gargalhar no meio da Lisnzenstdjinstraat (ou coisa que o valha). E depois descobri que, se a gente se concentra, consegue pedalar gargalhando por vários quilômetros. E no frio é bom porque esquenta.
Minha noite de sexta-feira 13 foi laranja (com branco, Veri!). Teve jogo da EuroCopa de futebol: Holanda x França. Então imagine todos, eu disse TODOS os bares e restaurantes dos Jardins ou ao redor de uma praça de alimentação em SP enfeitados de verde e amarelo pra final da Copa do Mundo com o Brasil no jogo. Todos com tvs e telões dentro e fora, lotados de pessoas muito animadas e todas, eu disse TODAS (até os turistas) vestidas com as cores da camisa brasileira, e com apetrechos, chapéus, perucas etc. Agora troque todas as cores por laranja, BEM laranja. Pronto. Você tem a visão que eu tive na minha última noite em Amsterdam ao chegar a um dos conglomerados de bares ao redor de uma praça da cidade, a do Rembrand. Total clima de Copa do Mundo. Laranja.
Totalmente contagiante. Então claro que eu fui procurar uma lojinha aberta e comprei um monte de adereços cor-de-laranja para me paramentar. Ganhamos de 4 x 1 e eu virei uma holandesa e fanática por futebol. Por uma noite. Porque depois olhei bem e achei que o laranja não favorece a minha beleza natural, então já voltei pro canarinho.
POR FIM, ACABOU
A última cena que vi em Amsterdam, depois de tanta alegria, foi de fim, pra não me deixar esquecer que todas as coisas acabam - não só as viagens e os filmes.
Em uma das pontes sobre um dos canais estavam Nicolash e Harriet, um indiano-londrino e uma holandesa que eu recém-conhecera no bar alaranjado onde assistimos ao jogo. Eles eram namorados. Conversamos, dançamos, rimos, e eles estavam felizes, comemorando e se divertindo com um bando de amigos - laranjas também. Horas e horas depois, no meu caminho de ir embora, improváveis lá estavam eles, na ponte, mas sem a alegria do laranja. Estavam chorando. Na verdade a Harriet chorava, tentando disfarçar quando eu cheguei. Ele, sério, tentou ser simpático, mas a cena era inevitavelmente triste. Ele estava terminando tudo com ela. Acabou, ele disse. Nos amamos por, quanto tempo baby?, um ano e meio? Um pouco mais? Mas acabou. Somos de países diferentes, culturas diferentes, essas coisas de casal, e acabou. A vida é assim. Ela sabe que ela significa o mundo pra mim, mas acabou. Nós vamos nos entender - dentro do acabou! - e ela vai ficar bem, não vai baby? E a baby chorava mais.
Tudo que eu pude fazer foi dar um abraço bem apertado na Harriet, e ela precisava mesmo daquele abraço porque sem nem me conhecer, e mesmo sendo européiamente holandesa, não me largou por uns cinco minutos. E chorou muito. Eu tive vontade de bater no indiano, de jogá-lo no canal, de dar uma rasteira pra ele cair no chão e bater a cabeça, e morrer talvez com o sangue escorrendo pela testa - porque ela era de uma delicadeza incrível e ele, um feio e chato - mas não, não fiz nada disso, obviamente. Só servi pro abraço mesmo. E nem peguei o e-mail de nenhum dos dois, portanto não saberemos o final da história.
Mas acabou.
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Si, good luck in Irland. Keep singing Wicked to practice your english. And I hope you're happy in the end, I hope you're happy, my friend.
Si, por favor, continue não dando ponto sem nó. Mas comece a se lembrar de carregar as coisas porque as baterias realmente não funcionam se a gente não põe pra carregar, tá? E cuidado com aquela zona onde sempre chove!!
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Um comentário:
Ahhhhhhh... q saudade!!! e pensar q depois disso nunca mais nos encontramos heim Ju!!! mas vc ficou no meu coração, impossivel te esquecer!!!
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