segunda-feira, 30 de junho de 2008

LA VITA É BELLA!

Fechei com chave de ouro meu segundo mês de viagem. E vou de chavão mesmo porque nem sei que palavra usar pra tanta maravilha que vi! Terminar o giro em PRAGA - depois de Viena e Budapeste - foi a melhor idéia que eu já tive. ƒoi perfeito!

Mas, vejamos: Brugge era pitoresca. Londres me enlouqueceu de musicais. Amsterdam, de bici, divertidíssimo, com gente linda e descolada! Berlim é pra voltar e gostar mais, mas foi tocante. Salzburgo uma graça, apesar da EuroCopa. Viena deslumbrante, grandiosamente deslumbrante, dos palácios da Sissi às óperas e concertos. Budapeste, muito, muito, muito interessante e curiosamente jovem. E Praga, bom, Praga é aquela coisa sem definição, o meu paraíso, o meu sonho realizado (mas nunca suficiente), literalmente o sonho foi Praga. Não podia ter encerrado o mês em lugar mais lindo. Da janelinha do avião eu dei a última choradinha e jurei que volto. Talvez antes do que eu mesma imagine... porque, já pensou, passar meu aniversário em Praga? Hmmm...

Enfim, finito.
Estou em Firenze - ainda com esse sorriso de Praga - e já comecei as aulas de italiano e cucina.

Outra etapa, mesma alegria.

Calor: in-su-por-tá-vel.

Ci vediamo dopo.
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domingo, 29 de junho de 2008

O QUASE-ASSALTO CIGANO

Era minha última hora em Praga. Eu quis me despedir da praça e do relógio. Cheguei lá dez pras quatro, pra ver os bonequinhos se mexerem às quatro. Pra quem não sabe, tem um relógio famoso em Praga, nessa praça da Old Town, que faz seu showzinho de um minuto a cada hora cheia. Abrem-se umas portinhas, bonequinhos dos apóstolos aparecem, a caveirinha toca o sino e tem mais umas gentes que se mexem lá em cima. Confesso que eu não vi exatamente tudo que os bonecos do relógio fazem porque, hoje, que eu ia ver, uma cigana miserável tomou a minha atenção bem na hora. Ela tentou me roubar no meio da multidão.

Todo mundo em Praga avisa pra gente tomar cuidado com os batedores de carteira, que são esses gipsys que se espalharam pela cidade. Principalmente em lugares de grande aglomeração de gente. Eu lembrei de tomar cuidado na Ponte Carlos, mas, hoje, no relógio, nem me passou pela cabeça. Eu tava tão distraída pensando que ia embora, aproveitando os últimos minutos, que nem me dei conta de que estava no meio da maior de todas as aglomerações.

Então bateu quatro horas, o sino começou a tocar, os bonequinhos foram aparecendo, a caveirinha se requebrando, e eu lá no meio, olhando pra cima. E aí sinto alguém esbarrando demais em mim. Numa fração de segundos olho pra minha cintura e vejo a mão desta senhora quase pegando tirando minha carteira do meu bolso lateral. Segurei a mão dela na hora e comecei a gritar com ela em inglês. Ela não entendia nada, e sorria nervosamente tentando disfaçar, e apontava o relógio, e mexia a cabeça, como se quisesse me convencer de que não estava fazendo nada, só vendo o relógio dançar. Mas tão cara-de-pau!! E eu falando em inglês que ela estava tentando me roubar e que eu ia chamar a polícia. Desgraçada, ficava sorrindo e apontando pra cima. Eu já ia segurar a vecchia ladrona quando ela foi se metendo no meio da multidão. Ai, que ódio. E nem vi mais o showzinho relógio.

Conclusão: em Praga não dá pra dar bobeira. E as ladras são bem caras-de-pau! A mulher disfarçando, juro, não dava pra acreditar! Mas, preciso dizer, apesar do momento tenso, eu tive muita vontade de rir porque a cigana era a cara da Dercy Golçalves!
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sábado, 28 de junho de 2008

PESSOAS

Aqui em Praga, é incrível, no topo de todas as casas, casarões, casinhas, palácios e coisa que o valha, tem pessoas esculpidas. Hoje passei horas olhando cada uma delas. Tem de tudo. Gente feliz, triste, brava, séria, apontando os outros, cantando, dançando, tocando instrumento, segurando alguma coisa, rezando, contemplando o nada, fazendo cara de conteúdo, esperando Godot... de tudo mesmo! E então isso me fez pensar em várias pessoas que povoaram minha passagem por Praga e quero deixá-las aqui para não esquecê-las.

NOM
Se você vier a Praga, vá até a rua Rytíîská, 19 - super fácil, do lado da Praça da Cidade Velha, a rua do Divadlo (teatro) do Mozart - e procure pela Nom. Pronuncia-se Nóm. Nom é uma tailandesa pequena, sorridente, com uma risada gostosa, fofa e abençoada por Deus. Ela vai te deixar no céu por uma hora.

Eu fui lá porque meus pés estão destruídos, já que tenho andado demais, dia e noite, sem parar, querendo ver tudo deste lugar deslumbrante. E na porta do lugar dizia Thai Foot Massage. Mas o foot é só pra enganar porque é uma bela de uma massagem nos pés, nas pernas, nos braços, nas mãos, na cabeça e nos ombros. E a Nom é incrível.

Só não espere conversar muito porque o inglês dela é uma tristeza e a pronúncia nem Jesus entende. Mas ela aprendeu a falar Ti ámo e Saudadji. E ela fala bem a palavra Good. Pra tudo é Guuuud, guuuud. E antes da massagem, ela te deita cadeira e diz Guuud Night. Além dela, tem mais umas cinco tailandesazinhas nos mesmo moldes. Mas Nom é a melhor. E durante a massagem elas ficam conversando e rindo em tailandês. Sim, a risada É em tailandês, juro. E soa como música, de tão boa que a massagem é. E volte no dia seguinte. Quando fui me despedir, a Nom me abraçou muito e disse: Saudadji, DJúri. Que pessoa fofa, meu Deus.

ERIK
O guia do meu tour de bike. Metade mexicano, metade americano, como ele mesmo se define. Veio morar em Praga há quatro anos e não sabe por quê. Namora uma tcheca e durante o nosso tour pegou para ela um punhado de rosas maravilhosas que umas senhoras estavam podando de um jardim. Ele trabalha de guia e de fiscal num albergue. Não sei o que é ser fiscal num albergue. Foi ótimo e como todo latino que se preza - ele não é latino, mas é - bem , como todo latino que se preza nos ensinou, por exemplo, a ver os túmulos no bairro judeu sem pagar. Você entra numa portinha lateral pra ir ao banheiro e olha por baixo do portão. Pronto, deu por visto, podemos ir pra próxima atração. Mais prático do que o Erik, impossível. Ele era a cara do Tchelo Palma. Ou o rascunho do Jonny Depp em Piratas do Caribe.

SILVIA e RO
Qual a chance de encontrar por acaso uma amiga sua do Brasil numa rua de Praga? Pois Silvia e eu nos encontramos. Estávamos fazendo o tour de bike. Eu na minha turminha de quatro (com o Erik, mais um canadense original e um canadense que nasceu na Jordânia) e a Sílvia e uma amiga, a Ro, no tour da concorrência, numa turma de uns seis. Enquanto nossos guias trocavam farpas disfarçadas, eu só ouvi: Ju! não acredito! Nem eu. À noite fomos as três juntas à ópera ver Aida, e depois tomamos um vinho. Dona Margarida, Neide e Brenda também apareceram. Foi surreal e ótimo.

CUBANO
Não sei o nome dele. Puxou papo comigo na porta do teatro. Primeiro em inglês, depois entramos no espanhol. Ele estava fotografando e também ia assistir a Aida. Nasceu em Cuba mas foi cedo morar nos Estados Unidos. Deve estar nos 40, 50. Me contou que ganhou uma herança e agora só vive viajando e fotografando. Disse que quer voltar a Cuba, mas não sabe quando porque tem dificuldade de voltar a lugares por onde já passou. Não gosta e normalmente não volta mesmo. Só anda adiante, para lugares novos. É de se pensar.

KATKA
Olhos enormes e verdes. Tem 20 anos e trabalha aqui no hotel das 22h às 8h, durante as férias da escola. Ela é muito engraçada. Fala inglês com MUITO sotaque tcheco, eu quase não entendo. E sempre parece que ela tá nervosa porque não acha as palavras. Ela balança a cabeça e as mãos enquanto fala, quase epilética, e começa todas - eu disse TODAS - as frases com "for example...". Eu preciso me controlar porque vai dando vontade de rir e de bater nas costas dela pra ajudar a sair! Ela é quase gaga em inglês. Mas tcheco fala fácil, já ouvi. É fofa. Hoje ela me contou que teve uma discussão enorme com o namorado porque ele quer ir morar com ela e ela disse que ainda não. Imgina, namoram só há três meses! E ele gosta de reggae e ela de metal. Ah, e AMA O Senhor dos Anéis, fala nisso o tempo todo. Ainda está na escola porque tem umas matérias que não consegue aprender, tipo geografia. Segundo ela, a República Tcheca muda a cada cinco minutos então não é justo ela ter de aprender geografia! Ela quer é ouvir música e trabalhar com ecologia. E se perde em Praga todo dia - diz que as ruas são muito estreitas e parecidas, um labirinto...

LUDMILA
A Ludmila é a moça que cuida de mim no café da manhã. Não sei bem por que, mas ela se afeiçoou a mim de uma tal maneira que eu quase não consigo tomar café porque ela vem me dizer alguma coisinha de cinco em cinco minutos. É loira e tem o corte de cabelo do Chitãozinho e Xororó naquela época em que começaram a fazer sucesso. Esse mesmo, espetado meio compridinho atrás. Ai, o cabelo da Ludmila é desse jeito, mas ela é um amor, muito querida. Tadinha, eu queria avisá-la pra mudar esse corte, mas em inglês não dá pra falar com jeitinho. E ela disse pra mim que se eu quiser trocar Euros pelo dinheiro tcheco - que não decoro o nome - então ela disse que troca comigo. Porque vai viajar no fim do mês e já está juntando o the strong money, she said. Além disso, ela me ORDENOU visitar o jardim das rosas, lá no topo do morro, do lado de uma mini-torre-eiffel que Praga tem . Eu fui hoje. Lindo mesmo o jardim. Mas sabe como é, flores, uma coisa bem no estilo do cabelo da Ludmila. Ai.

RICHARD
Ele tem pouco mais de um metro e meio e é da Malásia. Nos conhecemos na estação de Budapeste. Ele foi uma das pessoas que passou comigo mais de duas horas esperando o trem para vir a Praga (sim, atrasou tudo isso). Então o Richard me fez companhia (e conhecemos rapidinho a Barb - uma americana que parece a Fafi Siqueira -, cinco suíssos loiros e estilosos e um grupinho de espanholas, tipicamente sentadas sobre as malas e conversando sem parar. E, claro, trocamos olhares e risadinhas de "pois é" com mais uma dúzia de infelizes que esperavam também). O Richard é contador e tirou dez dias de férias pra viajar, com o dinheiro contadinho. Na estação, ele me disse que eu devia ter comprado a cama no trem senão ia ser horrível viajar dez (que foram 11) horas sentada. Mais tarde eu descobri que ele tinha toda a razão e graças a Deus consegui me mudar pra uma cabininha linda e a viagem foi ótima. Não nos vimos durante o percurso porque ele estava em outro tipo de cabine e eu nem sabia onde. Mas quando chegamos a Praga, só ouvi ele me chamando lá de longe e correndo na minha direção. Julie, vamos fazer juntos aqui que vai ser mais fácil - tipo trocar dinheiro e descobrir onde pegar o Underground e o Tram (bonde). Fizemos. Mas aí não íamos pro mesmo lugar, nos despedimos e não nos vimos mais. Mas o mais interessante foi que durante a nossa conversa na espera, o Richard ficou maravilhado com o fato de eu ser jornalista. Disse que era a profissão que ele mais respeitava e admirava. Ele repetiu umas quinze vezes como era possível alguém escolher as palavras certas para escreve com pouco tudo o que se quer dizer. Deu mil exemplos e disse que, pra ele, "escrever" é um mistério. Depois ele me perguntou: afinal, quem controla o preço do petróleo? Eu disse que não sabia. Ele insistiu: ah, tenho certeza de que você sabe. Os jornalistas sabem muito mais do que a gente, mas não podem falar. Tudo bem, se você não pode falar eu respeito, mas que você sabe, você sabe. Eu não discuti. E, por fim, ele veio com a melhor de todas as perguntas: já que você é do Brasil, por favor, me fala como ê ver uma ANACONDA de perto lá na Amazônia! O que Hollywood não faz...

JANICE
A querida que conheci com os meninos na chegada em Budapeste. Nos reencontramos em Praga. Ela trabalha na Natura e é fofa até o último fio de cabelo. Estava viajando total no esquema mochilão e confirmou minha opinião sobre os riscos dos albergues: ficou em lugares ótimos, mas outros péssimos - o que acaba atrapalhando a sua vontade de ficar na cidade, por mais linda que seja.

PAUL
O rapaz que me recebeu no check-in do hotel. Primeiro tcheco com quem tive uma conversa mais longa. Foi de uma gentileza que não tem como descrever. Só pra começar bem minha estadia em Praga. É parecido com o meu primo Marcos, que morreu moço. Alto, magrelo, branquelo e bonitinho. Ele respondeu mais ou menos umas 227 perguntas que fiz sobre Praga por dia. No dia do meu check-out, simplesmente esqueci que devia desocupar o quarto às 11h. Quando me dei conta, às 13h30 e liguei pro Paul na recepção desesperada e pedindo mil desculpas, ele disse, na maior tranquilidade: don't worry. I know you are so in love with Praha you jus forget to leave. Stay until whenever you want! Don't hurry! Eu só ri, né. Porque era verdade. Eu esqueci de ir embora porque estava no mundo da lua - de Praga. Mas quando, finalmente, eu estava indo embora o Paul me disse que eu era disparado a melhor guest que ele já tinha recebido e "you MUST come back to Praha". Devido a isso, TENHO que voltar.

LUCIE E LUD
As meninas que me receberam no hotel onde eu iria ficar. Graças a elas, fui pra um hotel muito melhor, que acabaram de inaugurar. Tudo porque eu contei que era jornalista. Incrível como isso te dá poder fora do Brasil. Não paguei quase nenhum museu e tive descontos em quase todos os lugares onde devia pagar ingresso e, aqui em Pragal, me valeu esse upgrade, só pra eu conhecer esse hotel novo e - na cabeça deles - divulgar. Mas vou divulgar mesmo porque foi o máximo. Se vier a Praga, hospede-se no Embassy. Impecável. A Lud é a-cara-da-Ciba que faz teatro comigo. Só pra reforçar a teoria do tem-cinco-de-você-espalhados-pelo-mundo.
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sexta-feira, 27 de junho de 2008

MENINO JESUS DE PRAGA


Hoje foi um dos dias mais felizes da minha vida. Fui ver o Menino Jesus de Praga. DIA 27. Esperei hoje, de propósito. Um mês antes do meu aniversário. Foi uma emoção diferente de todas que eu já havia sentido na vida. Não adianta me perguntar por quê, eu não sei. Mas foi. Eu senti.

Sentei ali e chorei, chorei, chorei, por horas. sem nem saber por quê. Uma emoção indescritível. Eu tentava ficar quietinha pra ninguém mexer comigo, mas não adiantava, várias boas almas vieram perguntar se eu estava bem. Eu estava. Acho.

Até minha tia Odila apareceu lá. Ela me colocou a mão no ombro e disse assim: everything is gonna be alright. Não sei como ela aprendeu a falar inglês! No céu não deve ter muito o que fazer então eles aprendem rápido. Acredite. Acredito. Era ela.

E eu consegui chegar exatamente na hora em que estavam celebrando uma pequena missa de crianças. E elas cantavam. Foi uma coisa. O menino Jesus de Praga, as crianças, minha tia adorada e eu. Obrigada.

DEUS NOS DETALHES
Eu quase desisti de tirar fotos aqui em Praga. Porque tudo é lindo. Todas as ruas, todas as cosntruções, todas a pontes, todas as vistas, todos os telhados, todas as portas e janelas. Tudo é lindo. Por favor, visite este lugar antes de morrer. E fique pelo menos uma semana. Pelo menos. E venha em Maio porque agora em Junho já acabou a temporada de concertos e é uma pena. Claro que os teatros - divadlos - também são todos lindos.

Em cada esquina tem um detalhe. Em cada casa tem uma história. A cada oito passos, a cada olhar novo para cima, para baixo, para a frente, para trás... a cada piscada há um detalhe novo. Muitas das histórias não são bonitas. Muita gente foi morta, muitos nobres foram cruéis, invejosos e assassinos. Mas o que que EU vou fazer? É tudo lindo, apesar das mortes, das invasões, das guerras. Tem um santo que virou santo depois de ter sido enforcado porque não quis contar ao rei os segredos da rainha. Ele era o confessor do casal real. O rei ordenou que ele lhe revelasse as confissões da rainha. Ele não revelou. Morreu. Muita gente diz que é lenda. Que, na verdade, ele foi enforcado por questões políticas. Mas eu quero ficar com a história da confissão.

ALMA GÓTICA
E a igreja do castelo simplesmente não existe. A igreja de São Vito. E eu não tenho mais a menor dúvida: Gótico é meu estilo favorito. Eu já sabia. Mas Viena, Budapeste e Praga me deram essa certeza absoluta. Cada vez que entro naqueles arcos góticos, a minha vida se ilumina. Sem falar nos vitrais e nas esculturas. Não dá. É bonito demais.

MALA STRANA
Meu lugar favorito. De um lado da Ponte Carlos, Cidade Velha, do outro Mala Strana. Demoro uma hora e meia pra andar um quarteirão porque cada fachada é como uma obra de arte e eu me perco apreciando. Aliás, eu me perco bastante porque é tudo cheio de ruazinhas e curvas e becos e eu vou andando e esqueço de olhar o mapa. Mas como é bom se perder em Praga!

Não entrei em nenhum museu. Nem vou entrar. Quero a cidade. Esta cidade que desejei tanto durante tantos anos e que agora é minha. Às vezes eu me sento e fico lá, esperando as turmas que vêm, e vão, e passam, e enfim me deixam a sós com a minha cidade. Com aquele pedaço, po alguns momentos. Adorando.

Isto, aliás, foi outra coisa bem importante que descobri durante esta viagem. Não adianta ir passando nos lugares com esse bando de gente junto. Você tem que ficar ali e esperar um pouco. Porque sempre vêm os momentos de intervalo entre um bando e outro e, aí sim, você entra em comunhão com o lugar. √ocê tem seus cinco ou dez minutos de profunda conexão com o lugar. Com o passado e com o futuro. Um presente.

AIDA
Assisti a Aida no Teatro Nacional de Praga.
Que mais eu vou dizer?
Minha ópera favorita na minha cidade favorita.

OS MEUS PARALELEPÍPEDOS AMARELOS
Andar por Praga é o paraíso. Poucas vezes na vida me senti tão feliz. É ainda mais bonito do que nos meus mais perfeitos sonhos sobre esse lugar. Caminho nas nuvens todos os dias. Dias de sol e eu no céu. I'm definaly defying gravity.


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quarta-feira, 25 de junho de 2008

O SONHO

cheguei em Praga.
é indescritível.
desejo este dia desde os meus 20 anos.
e estou degustando cada passo e cada olhar.
anestesiada de emoção.
eu ando na rua sorrindo, o tempo inteiro, não consigo parar de sorrir.
(até quando choro, choro sorrindo)
obrigada, menino jesus de praga.
(e senhor meu pai do brasil :)
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segunda-feira, 23 de junho de 2008

BUDAPESTE

Adorei Budapeste!
MUITO quente, é verdade. Poderia ter sido um estorvo. Mas como aqui o livro é outro (ah, meus trocadilhos), o calor foi uma delícia!

PESTE!

Está tudo em Peste.
Inclusive a incrível vista.
Porque Buda é que é bonito de ver. Com aquele castelo no alto, e igrejas pontudas, e o morro onde está o mosteiro, e a ponte. É lindo de se olhar de Peste principalmente à noite, quando a ponte e Buda estão completamente iluminadas.

E eu nem podia imaginar que BudaPeste tinha tantos, mas tantos, mas tantos teatros! E no mapa da cidade estão todos lá, indicados pela mascarazinha. Eu não poderia ter ficado mais feliz! Fui ver quase todos! Grandes, pequenos, descolados, alternativos. Nada que a gente já não saiba como é, já que em São Paulo tem tudo igual, mas duvido que você imaginava que em BudaPeste também tinha. MUITO teatro, MUITA arte, MUITA gente nas ruas fazendo música. A cidade tem um estilo delicioso e pulsa. Peste. Buda já é outra história. Buda, aliás, é uma história sobre a qual não posso falar muito porque eu não consegui chegar lá direito.

Explico-me: peguei a ponte de bici e fui passear na ilhazinha que tem no meio do Danúbio - onde não tem nada além de uma pista de cooper, um parque meia-boca, uma escola, e 20 mil piscinas, como em clubes fechados - quem não tem praia, vai de pisci. Bom, daí atravessei a ponte, deixei a bici ali, peguei o funicular e subi lá pra ver o antigo palácio húngaro dos Habsburgos (hm, aprendi tudo sobre eles!). A vista é linda mas, sinceramente, não tem nada de muito especial lá. A não ser um pedacinho do museu, no subsolo, que mostra ruínas do castelo verdadeiro, tudo gótico, bem como eu gosto. E não tinha NINGUÉM visitando lá, SÉ EU! Então foi incrível, me senti a Sissi, vagando desolada pelos subterrâneos e jardins do palácio, pensando na vida e na morte.

Ah, e tem também um restaurantezinho com um teatrinho dentro onde há cartazes incríveis e verdadeiros das estréias das opéras em Budapeste. Carmem, La Boheme, Don Giovani, mil. LINDO.

Bom, aí andei um pouquinho na rua por onde a gente sai do palácio e não achei nada. É como uma das nossas charmosas cidades do interior. Desci, peguei a bici e achei e ia conseguir vr mais um pouco. Nunca mais consegui. Simplesmente eu não achei a cidade atrás do morro. fiquei margeando o Rio, tentando entrar por todos os lados e não consegui. Não sei que que eu fiz de errado. Mas, enfim, acho que não perdi nada.

De qualquer maneira, que Buda me abençoe.

TRILHAS SAGRADAS
E quando se fica só o que te acompanha? A mim, música. Ouvir ou não ouvir muda tudo. Eu gosto dos sons das cidades, mas a música me enche de alma e de ânimo, enquanto ando e vejo. Então ouço. Meus pés estão destruídos porque de tanta música boa, eu ando e não percebo o quanto. "Se você não se distrai…".

Zélia, imbatível, caminha comigo diariamente e mantemos uma relação próxima e profunda, já que muitas vezes ela me diz o que fazer ou conduz meus sentimentos. Me faz rir, chorar, lembrar, esquecer, querer, querer mais. É música de tanta história que quase não cabe nas cidades por onde passo. E me enche de saudade de um monte de coisas que tive, de um monte de ausências e alegrias passadas. E me preenche de um pouco do que desejei ter, ou ser, ou ouvir. Música de dentro, para todos os lugares. E que guarda os meus segredos. Nos meus ouvidos.

Em Budapeste, tive que ir de Chico. Por puro capricho.

E Ivete, de barco pelo Danúbio no entardecer: "Posso te falar dos sonhos, das flores, de como a cidade mudou. Posso te falar do medo, do meu desejo, do meu amor. Posso falar da tarde que cai e aos poucos deixa ver no céu a lua que um dia eu te dei. Gosto de fechar os olhos, fugir no tempo, de me perder. Posso até perder a hora, mas sei que já passou das seis. Sei que não há no mundo quem possa te dizer que não é tua a Lua que eu te dei. Pra brilhar Por onde você for Me queira bem Durma bem Meu Amor".

LIVROS SAGRADOS
Sabia que os hotéis continuam deixando o Novo Testamento nos quartos? Nornmalmente está dentro da gaveta de alguma mesinha, então nem todo mundo nota. Mas eu noto. E acho curioso. Pensei que fosse um hábito ultrapassado, mas não. Não é de alguma forma interessante? Mas eu gostaria de saber a razão. A exata razão. Será que é o dono católico que manda? Ou a ordem vem de cima? Ou nada disso? Vou tentar descobrir.

Por puro capricho.

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sábado, 21 de junho de 2008

VIENA: A CHEGADA

Feche os olhos. Não!! Obviamente eu preciso que você leia, então só finja que seus olhos estão fechados e me siga.

Imagine um dia de sol. De muito sol, céu azul e nuvens pinceladas. Um quadro. Você chega de trem na estação de uma cidade desconhecida. A estação é linda e as pessoas todas sorriem pra você. Você pede informações sobre onde pegar o metrô e é tudo muito fácil e perto. √ocê pega um elevador espaçoso e gentil, desce, vê logo o placa do metrô que precisa pegar, ele chega em seguida, você entra e sorri pra si mesma. Fica sorrindo durante as cinco estações que passam rapidíssimas. Chega a sua e você desce. Tudo limpo e bonito. Você pega uma escada rolante para a rua.

Vai subindo e aos poucos vai vendo surgir a luz do dia. Aos poucos vai visualizando mansões, palácios enormes, construções que você só tinha visto nos filmes da Audrey Hepburn e da Romie Schinaider. Todas as cosntruções ao redor de um lugar aberto, só para pedestres, com mesinhas ao ar livre, por onde muitas pessoas bonitas passeiam entre estátuas e músicos de rua. O céu está mais azul, o sol brilha muito, tudo brilha. Você sai da escada rolante direto na rua e pára, sem saber o que fazer de tanta maravilha. Você brilha. E então, sem poder conter os lábios que se escancaram até doer, você sorri tanto que chora. Vai andando em camera lenta. Puxando a mala, olhando para cima, para os lados, para dentro de si, para tudo. Em camera lenta e com o coração disparado de felicidade.

De repente você vê, diante de uma estátua gigantesca e cheia de dourados iluminados pelo sol, um bando de gente assistindo a uma japonesa que toca Mozart num piano sobre rodinhas que ela empurrou até lá. E ela toca muito, é daquelas que sente a música e dá pulos no banquinho. É tão bonito que você simplesmente estaciona com a sua mala e fica vendo ela tocar.

Quando ela termina a música, você se vira e vê a rua do seu hotel. Sorri de novo. Vai até lá, pára na porta, olha para os lados e não acredita – é tudo deslumbrante. E você está colada aos palácios dos antigos imperadores. É grandioso num nível que você quase duvida. Na sua cabeça, uma frase se repete: Meu Deus, meu Deus, meu Deus.

Você entra no hotelzinho, vê que o lugar é uma graça, sobe para o seu quarto, senta na cama, sorri mais uma vez, e agradece por tanta beleza.

Foi assim minha chegada a Viena.


ANJOS
Depois que saí do hotel, o primeiro lugar onde entrei foi em uma igreja monumental que tem em Viena. E dá-se que a sorte me sorriu e quando coloquei os pés lá dentro, estava quase vazia, com aquele silêncio lindo de igreja e começa a tocar um órgão, mas um órgão que você não acredita no tamanho. E uma música daquelas que vão crescendo e dentro de você tudo pulsa a cada acorde mais forte... E em umas telas enormes espalhadas sobre os bancos da igreja, num pé direito descomunalmente gótico e alto, são projetados rostos de pessoas comuns... homens, mulheres, jovens, velhos, crianças, tudo. Depois eu descubro que a idéia é dizer que há anjos espalhados por aí e que eles têm assim, rostos comuns, como aqueles. Enfim, eram anjos sobre a minha cabeça. E aí a vida estava completa e eu agradeci de novo por tanta tanta tanta beleza.


LIFE IS PIC NIC
E então gentilmente nos mandaram sair da igreja porque estava fechando (dez da noite!) e fui caminhar pela cidade. A cidade, sinto dizer, tomada por futebol, e palanques, e fanáticos. Há jardins fechados e com telões enormes no meio, museus cercados, outdoors, totens e futebol por todo lado. E Coca-Cola e Adidas e merchandising até dizer pelamordedeuschega! Saco. Mas tá.

Caminhei até anoitecer. De repente um cara numa bicicleta pára na minha frente e puxa papo. Vou resumir porque acabei passando horas com ele: Robert é loiro, bem alto, magro, estiloso, tem 45 anos (mas parece 33). É holandês, mas morou uma década (antes de começar a viajar) em Paris. Há uns cinco anos viaja pela Europa num trailer, onde mora. Aluga um apartamento que tem em Amsterdam pra garantir renda fixa. E viaja por todos os cantos. Livre, como ele disse que quer ser pra sempre.

É fotógrafo, tem um notebook da apple daqueles de tela enorme, uma bicicleta mega-modernosa, o trailler dele é impecável de limpo e organizado e cheio de coisas sofisticadas, mas ele só toma banho em piscinas públicas e não paga caro pra comer nunca. Tem uma gata branca, a Mily, que não abandona o trailler por nada. É apaixonada pelo Robert. Às vezes surge um trabalho de foto, às vezes não – e parece que ele não se importa muito. Pelo menos assim me fez crer. Foi casado com uma francesa e tem uma filha de 12 anos que mora em Paris com a mãe – amigona dele. Disse que não quer namorar nem casar nunca mais. Só tem relações-relâmpago, “como a vida num trailler” , diz ele. E é gay.

O mais legal do Robert foi que, em determinado momento, quando a gente conversava, fazia e respondia perguntas um do outro, ele disse: podemos ficar em silêncio por um momento, tomando um vinho e pensando na vida. Porque mesmo que você me faça todas as perguntas e eu te dê todas as respostas, você não vai saber tudo de mim nem eu vou saber tudo de você. Então o que importa é que ficamos amigos. Por alguma razão eu escolhi você no meio da multidão, nesta noite, e nos tornamos amigos, e compartilhamos este momento. Bom ele falou em inglês e a tradução poética é livremente minha. Tá bom. Não sei se eu acho a reflexão dele tão profunda quanto ele parecia achar, mas foi bonito. E agora eu tenho um amigo que mora num trailler e viaja livre pela Europa. Ou então é um rico excêntrico que gosta de inventar histórias para brasileiras tolas.

E a frase deste subtítulo também é dele.

VIENA: A PERGUNTA

Por que eu não nasci em Viena? Queria a minha mesma família, meus amigos, minhas histórias, mas tudo em Viena. Por que a sorte é assim tão aleatória? Sim, porque se eu tivesse nascido em Viena, meus pais não achariam que teatro não era trabalho, mas hobby, e ficariam satisfeitos com a minha profissão, que seria uma atividade "rentável e bem conceituada". E eu teria estudado música, canto, arte, e hoje estaria, provavelmente, vivendo entre óperas e teatros europeus, bem feliz e contente.

Ai, mas seria tudo em alemão, né?
Bom, mas já que o desejo é meu eu posso querer que fosse a MINHA família, os MEUS amigos, as minhas mesmas coisas e a MINHA língua. Em alemão não ia dar.
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VIENA: A CABEÇA

Não vou falar muito porque, como já dizia o lambe-lambe, uma imagem fala mais que mil palavras. Só é importante registrar que eu paguei bem caro por esse lugar ótimo para assistir à Filarmônica de Viena. E vale registrar também que eu sou uma das pessoas mais sortudas do mundo no quesito quem-vai-sentar-bem-na-sua-frente-na-platéia.



















LANG LANG
Já sei que eu devo ser ignorante. Mas não vou mentir: eu não tinha a menor idéia do que vinha a ser Lang Lang. Você tem? Se tem, que bom, mas não precisa pensar "pelo amor de Deus Juliana, como você não sabia?!" Poxa, eu não sabia, ué. Quando li Lang Lang no cartaz que anunciava a Filarmônica, eu não tinha a mais vaga idéia de que Lang Lang era uma pessoa. Muito menos um pianista chinês extraordinário que deve ser atualmente um dos melhores - se não o melhor - do mundo. E eu também jamais poderia imaginar que Lang Lang me faria chorar tocando Chopin com a Filarmônica de Viena. É lindo ver ele tocar. Indescritível.

Consegui uma frestinha na cabeleira branca da amável senhora vienense que me bloqueou a visão pra ver o Lang Lang bem de perto com o meu binoclinho. Já o Zubim Meta, que tava bem no meio do palco, esse fica pra próxima... só vi um bracinho, eventualmente, depontando aqui e ali.

E o Lang Lang, ainda por cima, é garoto-propaganda da Mont Blanc. Descobri no dia seguinte, numa vitrine do lado do meu hotel por onde eu já tinha passado mil vezes.

Incrível como tem coisas que estão na nossa cara e a gente não nota.
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VIENA: O BANQUETE CULTURAL

Uma operetta, uma ópera, um concerto da Filarmônica com Zubin Meta, Chopin no piano de Lang Lang, dois castelos, jardins imperiais, um quarteirão de museus, um pedaço do Rio Danúbio, ruas e alamedas deslumbrantes e, de sobremesa, um parque de diversões divertidíssimo.

Pensei que não veria um lugar mais lindo e impactante do que Firenze.
Vi... ena.

Aliás, esse lado dá de dez no lado de lá.
Não fosse pela lingua, eu ficava por aqui…
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quarta-feira, 18 de junho de 2008

I-AM-HAPPY-IN-VIENA

Cheguei em Viena num dia se sol deslumbrante e estou muito feliz.
É o lugar mais lindo que já vi.
É O LUGAR MAIS LINDO QUE JÁ VI!
Mas não é isso que vou escrever.
Só quis compartilhar logo esse momento de felicidade.
Depois edito. Dito.
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NO MEIO DO CAMINHO TINHA UMA COPA

Eu não vou reclamar. Não posso reclamar. Porque, afinal, Salzburgo é linda e eu tive muita alegria aqui. Mas, sério, será que eu poderíííía ter sido mêêêênos certeira com essa droga de EuroCopa? Consegui estar neste lugar na véspera e no dia de um jogo super importante e o último sediado na cidade. O mun-do veio assistir. E está tudo em função disso. Grata. Este ano é simplesmente a PRIMEIRA vez na história que a Áustria sedia os jogos da EuroCopa (junto com a Suíça). Quer dizer, esta foi a ÚNICA véspera e este foi o ÚNICO dia dessa loucura de futebol aqui. E foi exatamente o dia que eu escolhi para estar nesta cidade que deveria ser tranqüila. Ai, que alegria. Até a mocinha da informação turística disse que estava muito confusa porque nunca tinha visto a cidade daquele jeito. Mas eu não-vou-reclamar. Tô feliz, juro.

O caso é que essa droga de jogo me atrapalhou de verdade: a Casa do Mozart estava fechada e um teatro lindo de marionettes que eu ia assistir no Salzburger Marionneten Theater foi cancelado. Mas o que que tem a ver uma coisa com a outra? A senhorinha da bilheteria do teatro também não sabia explicar e disse que estava very sad for me. Ah, obrigada. A peça, ainda por cima, era a coisa que eu mais queria ouvir em Salzburgo – adivinha! – The Sound of Music. Mas-eu-não-vou-reclamar. É só um desabafozinho. Não dá pra não estar feliz neste lugar!

Isso pra não dizer que tomei café da manhã ouvindo espanhol de um lado e grego do outro. Desgraçados como são barulhentos! Os grupos de gregos pelas ruas parecem as turmas dos meninos do Monte Líbano, meu irmão e os amigos, o Toninho e os primos, esse estilo – e tem uns lindões. E os espanhóis estão mais pros Mauricinhos que estudavam comigo no Santo Américo. Toda essa gente me atrapalhando em Salzburgo (não estou reclamando). Austríaco mesmo devo ter visto um só, o que estava aqui no trem comigo, a caminho de Viena para uma entrevista de trabalho.

Aliás, vale registrar - porque a vida é curta: ontem à noite um grego me pediu em casamento e um espanhol me deu um buquê de flores de plástico. Menos mal, porque as flores de plástico não morrem.
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terça-feira, 17 de junho de 2008

A ÁUSTRIA, A MÚSICA, O FUTEBOL

Estou em Salzburgo. A cidade é linda. Fui a um jantar com concerto de câmara de µozart. Poderia contar mil detalhes sobre como fui bem tratada quando mostrei minha carteira de jornalista ou sobre os japoneses e o russo que sentaram na minha mesa, mas depois. Primeiro preciso falar de novo do futebol.

Gente, essa EuroCopa é surreal. Hoje, em plena terça-feira, às onze horas da noite, duas praças com telões gigantes nesta micro-cidade austríaca estavam lotadas de gente assistindo aos jogos. E, veja, a Áustria nem estava jogando! Era Holanda contra sei-lá-quem e França contra Romênia. E aí, pior, no meio das pessoas não tinha só gente desses quatro países, tinha italianos e espanhóis aos montes, todos devidamente vestidos com as cores do time e enrolados em bandeiras, as caras pintadas, coisas, torcidas... falta-de-afazares. Mesmo sem ser o jogo deles, todos lá, no meio da semana. Ah, e tudo era transmitido da praça ao vivo pela tv, com um apresentador e tudo. Ele não cansou de falar do orgulho de Salzburgo por sediar jogos da EuroCopa.

Pois é, amanhã tem jogo aqui. Espanha contra Grécia. Então tem duzentos mil grupos de espanhóis e de gregos pela cidade, digo, a micro-cidade. Isto significa que eles estão na minha janela. Quase. E o time de futebol da Espanha está hospedado no hotel aqui ao lado... com fãs, repórteres, polícias, todo mundo fazendo plantão aqui na frente. E eu que pensei que vinha para uma cidadezinha tranqüila, ouvir música tranqüila. Tá. Dó, um dia, um lindo dia.

MOZART, CROCODILO, CAMALEÃO
Ai, foi engraçado. Li em algum lugar que tinha um jantar-concerto de Mozart no restaurante St. Peters. Dado que não havia nada mais a se fazer nesta noite a não ser assistir ao futebol na praça ou em algum bar, lá fui eu dar uma olhadinha no St. Peters. Bonito. Mas a coisa era cara. Pensei com meus bolsos se queria gastar tanto com um jantar e música de câmara de Mozart. Sim. Mas, muito esperta, lembrei de perguntar se jornalista tinha algum desconto especial. Bendita hora que fiz esse press card! Eles passaram a me tratar como se eu fosse a Angelina Jolie. Juro. Paguei metade, ganhei um cd, o melhor lugar, e muitos sorrisos. Só na Europa mesmo. Eles me perguntaram se eu ia escrever alguma coisa em algum lugar. Claaaaaaro, eu disse. Vou escrever no principal guia do Brasil. Ai, Deus me perdoa porque eu tinha que manter a pose.

Bom, na mesa em que o gentil hostess me colocou, a primeirona, três japas e um russo. Um dos japoneses, um menino, mora em Viena porque canta ópera e veio procurar trabalho na Alemanha. Ele canta Mozart num coral lá em Viena. Os outros dois japs, um casal mais velho e super sorridente, que eu pensei que eram os pais do menino. Quando eu disse "your parents" o casal ficou rindo uma semana com a mãozinha na frente da boca, sabe?! Muito fofos. E o russo, bom, não sei nada dele porque em inglês ele só soube me falar BRASIL - FUTBOL!

Claro que eu puxei papo com todos e a nossa conversa foi hilária. Até que os japas se viravam, mas naquele inglês vély béd. E o russo mexia as mãos, haha, procurando as palavras - que ele não achou nunca, tadinho. Mas tiramos até fotos juntos pra ele levar pra Rússia. E no fim ele conseguiu dizer Welcome to Russia! Falei que eu ia! Duvido que ele entendeu.

O casal de japas adorou que eu falei minhas-mega-três-frases em japonês. Watachiuá Juriana Dês. Dôitáchmáchtê, dosoiorochkô, onegaishmás. Ai, como eles sorriram! E me contaram que já foram ao Brasil fazer um tour na Amazônia e no Rio. Na Amazônia adoraram porque viram crocodilo e camaleão! Imagina! Duvido que você já foi pra Amazônia e viu um camaleão. Pois o senhor japa viu. E o irmão da mulher trabalha no alto escalão da Nikon - porque quando tirei minha máquina eles só faltaram comemorar e disseram que her brother que fez. Eu respondi: so I gave a looooot of money to him. Eles riram de novo com a mãozinha na frente da boca. Ai, dá vontade de apertar as bochechas deles!! E o japa só não se conforma porque viu crocodilo e camaleão mas não conseguiu ir a um jogo de futebol no Brasil! Ficou arrasado e vibra quando diz que um dia ainda vai. Se ele soubesse que corre risco de morrer no estádio... Mas nem contei. Deixa ele ser feliz.

E foi isso. A música foi bonita, a comida foi ótima e eu fiquei feliz por ouvir Mozart em Salzburgo. Pelo menos isso. Amanhã já vou embora e não vai dar pra fazer muito mais. Mas Viena me aguarda. Espero que com orquestras e óperas.
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BERLIM DE NOVO

Deixei Berlim com a sensação de que tenho que voltar lá um dia. Porque eu só consegui sentir as dores da Guerra e do monstro nazista, e já sei que a cidade não é só isso. Pelo contrário. Ontem meu amigo Luis quase me convenceu a ficar mais um pouco. Não exatamente ele, mas a Soninha – é, a vereadora – , com quem ele trabalha e que ama Berlim. Ela me disse assim, depois de gritar pra eu não ir embora ainda: “a primeira vez que estive em Berlim detestei, mas depois me apaixonei. Me apaixonei pra casar!”. Recebida esta informação, levando-se em conta que eu normalmente quando me apaixono é pra casar, e ainda mais isso dito por uma pessoa que admiro tanto, a Soninha, deixo Berlim guardada e guardo a vontade de uma segunda chance com ela – pra mim, claro.

Importa dizer que não é que eu não gostei da cidade. Eu gostei de algum jeito - até fiquei quietinha no muro, olha aí! Mas teve essa estranheza muito incômoda e sufocante. E a coisa da dor, do sofrimento que me tomou. Também, eu sei, eu fiz os programas errados, nas horas erradas. E o domingo, a EuroCopa, os turcos – um pouco da lingua - e a solidão não ajudaram nada. Ah, e a casa da Anne Frank na Holanda, que não sai da minha cabeça...

Aí vão duas coisas que a Soninha escreveu sobre Berlim, com as quais eu concordo quase completamente – com o resto vou concordar depois de visitar a cidade outra vez, com outros olhos e, espero, com menos dor:
Aqui estou
Everybody speaks english

TRILHOS TRILHADOS
Acho que eu nasci pra viajar de trem. Tenho amado. Hoje, pelas cidadezinhas da Alemanha, de Berlim para Munique e depois para Salzburgo, já na Áustria, fiz a viagem mais bonita de todas as de trem até agora. As cores, as casinhas, as águas, as pontes, um monte de coisa linda de ver. E de uma singeleza… (adoro essa palavra inventada). Enfim, belo caminho, com sol. E dancing through life.

CHECK POINT JOE
O Joe quase salvou minha estada em Berlim, mas eu que sou teimosa e tive medo dos turcos, acabei fazendo a opção errada. No domingo, depois de assistir a Elisabeth, eu resolvi ir para a ilha dos museus. Fui pegar o metrô e já comecei a sofrer – muitas opções de bilhete e eu não tinha idéia. Comprei o mais barato. E nem precisava porque no final ninguém nem olhou. Pelo menos fui honesta. Bom, mas lá estava eu, com o bilhete na mão, tentando entender por que dizia “valide seu ticket”, quando um moço muito simpático ofereceu ajuda. Oh, yes, please, save me. Ele me mostrou onde validava, perguntou pra onde eu ia, disse que eu tinha comprado o bilhete errado, rs, mas tudo bem. E me falou pra ir com ele que ele me mostrava onde descer na Alexander Platz, meu desejado (e errado naquele dia) destino.

E aí veio a primeira tentativa do Joe de salvar meu fim de domingo. Ele disse: “Esse lugar agora não tem nada, deve estar very very sad, you will see. Hoje é dia de futebol – Turquia vai jogar e Berlim está cheio de turcos portanto não tem ninguém por aí, estão todos nos lugares onde se vê o jogo”. Eu achei que não tinha entendido bem, afinal, e os turistas? Como assim ninguém naquela região dos museus? Não era possível que não ia ter ninguém no principal lugar de Berlim… Pois era. Mas sigamos.

Joe é de Amsterdam, imagine! Eu teci elogios e ele adorou. Bem que faz sentido ele ser de lá porque ele era BEM bonito e eu nunca vi tanta gente bonita quanto na Holanda! Joe morou uns anos em NY e está há três em Berlim. Ele estuda Tecnologia de Segurança, isto é, chips, finger prints, raio laser ótico, quase cinema de ficção científica. E, imagine de novo, o pai dele é bam bam bam de uma empresa que faz o sistema de chip dos cartões do Santander. Iiiih, foi uma festa, mostrei meu cartão, ele mostrou o dele, rimos como se aquilo fosse muitíssimo importante, e estava lá no cartão o nominho da tal empresa – onde ele também trabalha. Coincidências à parte, chegamos ao meu destino.

Ele desceu comigo e veio a segunda tentativa de Deus, ou do Joe, de me salvar do marasmo Berlinense quando você não sabe onde é o lugar certo do momento: “Tem certeza de que você quer ficar aí? Eu estou indo ver o jogo num lugar bem legal, onde tem um telão enorme e milhares de pessoas, você vai gostar”. Eu até quis ir, juro, mas me achei idiota de estar em Berlim por dois dias e ir a um centro cultural assistir ao jogo da Turquia. Antes tivesse ido.

O Joe ainda disse pra eu dar uma andada ali, então, já que “you need to travel to feel good” e depois ir pra lá pegar o segundo tempo. Tá, eu vou. Então ele me deu o cellular caso eu precisasse de ajuda. Enfim, tava tudo vazio mesmo. O único movimento na rua inteira era na frente da Ópera. E eu quase entrei de penetra na Traviata porque passei lá bem no intervalo e me misturei, entrei, sentei na platéia pra ver o teatro – mas tive medo de ficar e ser pega, que vergonha. Bom, acabei andando demais naquele vazio e quando me dei conta achei tarde pra me aventurar até o Joe. Era pro lado oposto do meu hotel e cá entre nós o metrô de Berlim não me pareceu a coisa mais fácil do mundo… Então não fui. Voltei. E já contei o que aconteceu quando saí da estação no bairro do meu hotel: os turcos tomaram as ruas e quase me mataram de frustração por ver que a gente só torce e comemora daquele jeito UMA VEZ A CADA QUATRO ANOS!

DO RE MI FA SOL LA SI
Estou quase chegando em Salzburgo e acabo de me dar conta de uma coisa que pode fazer toda a diferença nas minhas próximas três – e promissoras - paradas (Viena, Budapeste e Praga): os europeus não nos dizem o que fazer. Claro, porque sempre que chego no hotel peço dicas e tal, e eles nunca me dizem que tem coisa. Depois que já perdi é que vejo que teve opera, orquestra, música na praça etc. Eles simplesmente me dão o mapinha, no máximo fazem um xizinho aqui e ali, e tchau. Ou será que sou eu que não tô sabendo perguntar? Hm. Vou pensar sobre isso. Na Áustria! Ao som de Mozart. Estou muito feliz de estar entrando neste país. Não sei por quê. Mas estou.

Vou ficar na rua Rainer. Interessante, não, Georgettinha?
Queria ficar na casa da Noviça Rebelde...

Am… adeus.
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segunda-feira, 16 de junho de 2008

BERLIM DE LÁGRIMAS

Eu não tenho exatamente nenhuma ligação concreta com a comunidade judaica, com o nazismo, com a história de morte e destruição protagonizada pela Alemanha. Mas, quem não tem? E se você vier a Berlim talvez descubra com dor, como eu descobri hoje, que a sua ligação com tudo isso é bem mais forte do que você poderia pensar. Pelo menos pra mim, foi como se a minha família tivesse estado ali.

Hoje eu chorei muito. Acho que foi meu dia de maior tristeza durante essa viagem. Já tinha sentido isso lá em Amsterdam quando visitei a casa da Anne Frank. Esqueci de falar sobre isso. Foi tão tocante entrar no lugar onde eles se escondiam e onde ela escreveu o diário que eu mal conseguia falar por horas a fio. Tem um depoimento do pai dela na saída da casa, um vídeo, onde ele diz que conheceu mesmo a filha lendo o diário... os desejos, as críticas, os pensamentos mais profundos dela. E no final ele diz que, com isso, chegou à conclusão de que a maioria dos pais não conhece a profundeza dos seus filhos. Mas o que mata mesmo é pensar que a Anne Frank morreu um mês, SÓ um mês antes de libertarem todo mundo. E ela nem sabia que o pai estava vivo. Morreu pensando que não tinha mais ninguém. E era uma menina. Escritora e sonhadora. É devastadoramente triste.

Bom, mas e aí, hoje, fui lá no CheckPointCharlie, nos fragmentos do muro e no museu que mostra as pessoas que conseguiram fugir, as tentativas, os apetrechos que eles usavam. É tão intenso... Eu andei por aquelas salas quase sufocada de tanta história e desespero. Um sentimento difícil de descrever, emocionalmente falando. Porque de físico a sensação é esta: sufocamento, nó na garganta e vontade de chorar.

Andei as ruas de Berlim na maior choradeira. Não conseguia mais parar.
Se alguém contasse a história dessa Guerra, desse muro, desse absrudo, ninguém ia acreditar. Iam jurar que era filme.

Pelo menos eu reguei as gramas da cidade...
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BERLIM DE ENGANOS

Assisti ao musical Elisabeth aqui em Berlim, em alemão. Não entendi nem uma linha, claro. Mas eu sabia mais ou menos a história então quase ok. É baseado na vida da Sissi, imperatriz na Áustria. No musical ela é apaixonada pelo marido, o kaiser, mas também por um outro, um bonitão que desde o começo aparece pra ela, diz que a ama, que a quer, que ela pertence a ele, e insiste pra que ela vá com ele. Ela sempre quase-vai, mas acaba desistindo e largando a mão do cara. Eu, que não sabia quem ele era, não conseguia decifrar se ele era bom ou mau, se era sincero ou não, se faria algum bem a ela - que não era lá a pessoa mais feliz do mundo com a vida que levava -, mas sempre me parecia que ele queria pegá-la pra ele por puro egoísmo, porque ele se achava imbatível. Mesmo assim, eu me sentia seduzida pelo jeito dele. Acho que eu teria ido.

No intervalo, perguntei para duas alemãs ao meu lado quem era o bonitão:
DEATH.
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domingo, 15 de junho de 2008

BERLIM DE TURCOS

Eu pensei que estivesse na Alemanha, mas estou na Turquia. Hoje teve futebol, Turquia x República Tcheca e, depois do jogo, a Kurfürstendamm virou a Avenida Paulista em dia de vitória do Timão. Muito bizarro. Era turco que não acabava mais. E milhares de carros passando, de buzinas, gritos, gritinhos, e vermelho pra dar e vender. Constatação para quem não sabia: tem muito, mas muito, mas MUITO turco em Berlim!

(e eles são BEM barulhentos)

sábado, 14 de junho de 2008

OH WHAT A PARADISE IT SEEMS

Tá difícil mesmo ficar sozinha nesta viagem. Não, não é que eu não seja capaz, é que não me é permitido, não me deixam, não sei que força é essa que simplesmente me cerca - de cerco mesmo. Mas também não é que eu queira muito ficar sozinha, só estou constatando a dificuldade, caso eu quisesse...

Veja: minha amiga me deixou na estação de Amsterdam e eu entrei no trem para Berlim, enfim sós. Doce ilusão. Na minha frente em diagonal, na mesa para quarto, senta-se um rapaz que já tinha andado de lá pra cá e de pra cá pra lá tentando acomodar toda a bagagem. Sorridente daquele risinho-que-espreme-os-olhos de todos os chineses. Chinês pensei eu! Calada no meu canto com as minhas leituras, eu pensava com meus botões, zíperes e todos os mil cacarecos que carrego na mochila e nos bolsos, em como aproveitar bem as quase sete horas de viagem entre a Holanda e a Alemanha. Mas eis que este rapaz, sorridente como nunca, depois de organizar as duas malas gigantes, mochila, pasta, casacos e violão, começa a tirar de sacolinhas maçãs, bananas, sanduíches, sucos e coisas e… fólyú. What?? Fólyú, ele disse. Pra você... zis is fólyú, sorriiiiindo, e começou a por no meu lado da mesa, na minha frente, um de cada tudo que ele tomava para si. Então ganhei pedacinhos de maçã, que ele mesmo picou, meia banana, um sanduíche de queijo com coisa, biscoitos tipo aquele champagne e… não, ele não exatamente perguntou se eu queria, simplesmente sorridente de um jeito chinês que não me deixava recusar nada, foi me dando as coisas.

Muito bem, você venceu. Fechei minhas leituras e vamos lá. Olha, eu acabei de comer então vou ficar só com as frutas, tá? Ok-ok-ok, sorrisinho inabalável. E então num esforço bastante grande fui devagar entendendo as perguntas dele com aquele sotaque wen-tchong-tcheng. Sim, eu vou pra Berlim, depois Munich, Salsburgo, Viena, Budapeste e Praga. Ah, você vai pra Itália, que bom. E depois volta para a França onde está fazendo MBA, great. Eu sou do Brasil. Isso, isso, samba, ziriguidum. E você, de onde é? Ainda bem que eu não arrisquei... Aimi flom Vietnã. Pausa curta. Seguida do meu sorriso de hmmm - e aquele simzinho com a cabeça.

Ai, Senhor, sempre que ouço Vietnã me lembro da menina nua na frente do tanque. Sai, saaaai pensamento triste porque o vietnamita na sua frente sorri muito portanto certamente ele não está pensando na mesma Guerra que você. E, pronto, ele está perdoado por ter falado samba!, afinal você também pensou na Guerra do Vietnã, o equivalente de certa forma!

Meu nome? Juli. – Ah, Joly!! Joly in french means vély intelesting and beautiful person. Ai, meu Deus lá vem. E você, como se chama? Juro, entendi de primeira: Phuong. Se fala assim mesmo, o mais anasalado possível: Fuôónnhg.

Ai, a partir daí, ele comia, falava, eu via toda a comida dentro da boca, mas ele continuava sorrindo tanto que eu nem podia achar ruim, eu estava de fato, achando ele divertido. Esses moços orientais fofos, sabe? Então já era meu novo amigo. E comeu, comeu, comeu… ele comeu muito! E é um magrelo. Bem, me contou que vai visitar a vó em algum lugar da Alemanha a uma hora de Berlim, não entendi onde. Depois perguntou onde eu ia me hospedar. Depois não parou mais. Pediu meu telefone, meu e-mail, já me ligou pra ver se tava certo, perguntou o que eu fazia, resolveu me dar um livro – que parece bem interessante, prêmio Pulitzer, chama-se Oh What a Paradise It Seems – fez uma dedicatória dizendo que era um presente do coração dele pro meu. Aff.

Perguntou se eu gostava de música, pôs o celular pra tocar, e já foi pegando o computador. Abriu na minha frente e colocou o video dele tocando violão na estação do metrô em Paris e também em um outro trem. Ele faz MBA de dia e toca nos metrôs antes de dormir. Porque gosta. Toca bem paca. Música clássica. Me mandou logo Romeu e Julieta. Ai, Maria. Tudo isso na primeira hora de viagem. Sem parar de sorrir, se fazendo entender com o inglês mais enrolado que já ouvi – ele fala melhor francês e vietnamita, mas, enfim, de que me serve?

Ufa! Depois de tudo isso com toda essa rapidez e de perguntar se eu era casada e me dizer que pode mudar seu roteiro pra ir comigo para Viena e Budapeste – ai, meu Senhor Jesus – bem, e depois de me dizer que tem 24 anos e que quer viajar bastante para ter o que conversar com a futura namorada – bem, depois de tudo isso, ele resolveu dormir. (mas essa foto é bem depois porque ele dormiu todo arrumadinho, tirou os sapatos, pegou um travesseiro, um cobertor e deitou encolhido nos dois bancos como se fosse uma cama.)

Ai, fiquei sozinha, por algumas horas? Em silêncio...
Sim, sim, sim. Nem acredito.
Just for this moment.

E então, finalmente, eu consigo por longos minutos, contemplar a paisagem da Alemanha pela janela do trem, ouvindo Elphaba e Fiyero cantando Just for this moment…

It’s just… for the first the time, I feel wicked.

Bom, também não durou muito porque quem pegou no sono em seguida fui eu.

Agora, quase chegando em Berlim, eu me pergunto: O que é que eu vou fazer com este vietnamita? Como é que eu vou me livrar dele sem ser indelicada? Como é que eu vou dizer não, não venha passear comigo, se ele ficar com esse sorrisinho chinês na cara? Ele ainda dorme, mas vai acordar, eu sei, não tem jeito. E se eu mudar de lugar e quando ele acordar eu sumi? Ai, que horror. E se ele tiver um mal súbito e não acordar agora? Isso seria uma saída. E se alguém me explicar por que é que eu simplesmente não estou autorizada a ficar sozinha nesta viagem? Olha, se até do Vietnã me mandaram gente é porque a coisa é séria.

Ai, vou parar de pensar que a minha cabeça começou a doer. E a cabeça dele também deve estar doendo porque ele tá dormindo bem de mal jeito. Coitado. Porque mesmo com dor, certeza que ele vai acordar sorrindo.

Olha ele aí. Parece que eu estou tão feliz, né. Só pensando como eu ia me livrar dele... Ah, esqueci de contar a melhor: quando eu disse que era jornalista e que escrevia, ele, todo feliz, me revelou que ganhou um concurso de textos super importante na universidade dele – de Economia! – com um texto sobre “Como vou me tornar um homem muito rico”. Ok.
...

PS: chegamos e, ops! logo depois desta foto sem querer me perdi dele na estação... Agora estou em Berlim. Sozinha.
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