domingo, 14 de setembro de 2008

SORELLE FRATELLI FAMIGLIA

No fim de semana em que meu irmão querido veio me visitar, minha irmã japonesa, a Shinobu, teve pela primeira vez um irmão mais velho, as sorelle Fernanda e Stephanie passaram um dia inteiro com a gente falando sobre família, e conhecemos quatro irmãs americanas muito interessantes, com uma história diferente de tudo que eu já tinha ouvido nos meus 34 anos de vida. Tudo isso ilustra uma certeza deliciosa: ter irmãos próximos e amigos não tem preço.


TÔ TRANQUILO

Essa é a frase que mais sai da boca do Dudu, meu irmão. É a resposta dele para tudo. E não tem uma pessoa que não sorria quando ele diz "eu tô tranqüilo". E também não tem ninguém que não responda "ah, então eu também tô tranqüilo". E então é uma epidemia de gente tranqüila que faz com que toda a rua fique tranqüila, e todo o quarteirão fica tranqüilo, e a cidade inteira fica tranqüila, e toda a região, e até o país fica tranqüilo. Então não tem tempo ruim, não tem programa chato, não tem preocupação possível, não tem tensão, não tem nada de desagradável ou inconveniente. Ficamos todos tranqüilíssimos e os dias passam felizes e leves.

E depois que o Dudu vai embora, o "tô tranqüilo" dele permanece, na boca de todo mundo que conviveu com ele, e se propaga... pela classe, pela escola, pelo restaurante, pelas casas das pessoas. E, enfim, surpreendentemente no meio do caos fiorentino e italiano, tá todo mundo tranqüilo. E feliz.

Grazie.

ÔNIDJÔ
A Shinobu fez questão de conhecer o meu irmão. E, mesmo antes de ele chegar, já o chamava de ônidjô - irmão mais velho em japonês. Porque ela é minha onidjá, irmà mais velha. E eu sou imôto dos dois - irmã mais nova. Mas, enfim, Shinobu foi encontrar a gente à tarde e não nos largou mais até de madrugada. Ela estava feliz como eu jamais havia visto e não parava de repetir ônidjô, ônidjô, entre dentes que sorriam um sorriso gentil e grato. Mil vezes grato. Grazie, grazie, grazie, ela dizia incansavelmente a cada gentileza que o Dudu fazia. A cada taça de vinho servida, a cada comida ordinada, a cada sugestão, a cada palavra, a cada cuidado. Foi realmente bonita a feliciade dela - além de loucamente engraçado, porque ela é MUITO engraçada.

Mas a melhor parte veio na segunda-feira, depois que o nosso irmão já tinha ido embora. No intervalo da aula, a Shinobu veio sorrindo e me deu um abraço muito forte (japoneses não costumam abraçar, muito menos forte) e disse que tinha tido uma experiência muito muito especial. Disse que queria me agradece demais - e ao Dudu - porque ela nunca tinha sentido isso que a gente sente quando tem um irmão mais velho, alguém que se preocupa com a gente dessa maneira, que cuida, que acompanha. E, quase entre lágrimas, tentando se explicar em italiano, mexendo as mãozinhas japonesas, ela disse: porque sempre sou eu a ônedjá. Aqui em Firenze, principalmente, sou sempre eu a irmã mais velha. Sempre eu me preocupo com os outros, sempre eu cuido, sempre eu acompanho. Então me senti muito, muito feliz e especial quando seu ônidjô foi meu ônidjô também. Ela disse bem assim, emocionada: jamais vou me esquecer dele carregando a minha mochila!! Nunca ninguém faz isso pra mim. E finalizou: tô t-lãnquila.


OS QUINZE IRMÃOS
Sarah, Alisa, Nina e Maria. 16, 18, 25 e 20 anos. Irmãs. Americanas. Lindas. Meio loucas. Filhas da mesma mãe (louca também, segundo elas). Nina tem um pai diferente. Além das quatro, mais onze irmãos. Na verdade são dez da mesma mãe com cinco ou seis pais diferentes (as meninas não têm certeza), e mais cinco filhos que o pai das últimas três já tinha. Então a mãe tinha sete, o pai tinha cinco e os dois juntos tiveram mais três: exatamente elas, Sarah, Alisa e Maria. Agora são catorze porque um dos irmãos morreu (não sei em que circunstâncias, mas ainda vou perguntar porque não me agüento de curiosidade - profissional, sempre).

O irmão mais velho tem 35 anos e se chama Josh. A mais nova é a Sarah, de 16. A mãe é hippie e agora mora em Dallas, no Texas, com o pai das três. Elas viveram um tempo com eles, mas se encheram e mudaram pra New York. Foram morar com alguns dos outros irmãos. Nina morava lá também, em NY, mas nunca gostou e resolveu se mandar pra sempre e ficar na Europa. Chegou há alguns meses. E não deu notícias de onde estava. Mas Maria, Alisa e Sarah procuraram a irmã até achar e, assim que acharam, vieram visitar e passar um mês com ela. Chegaram no começo de setembro. Estão hospedadas no quarto da Nina - que é simplesmente um quarto comum, num apartamento comum de Firenze, cioè, pequeno.

Nina começou a dar aulas de inglês, mas não sabe como vai fazer pra ficar morando na Europa. Pensou em se casar com um amigo gay londrino, assim ela teria cidadania inglesa e ele teria o green card, mas acho que ela já está desistindo da idéia porque a coisa não é assim tão simples. Mas para os Estados Unidos ela, definitivamente, não quer voltar. A Nina não curte muito a mãe. Não estou segura mas alguém disse que ela não conheceu o pai e que a tal mãe hippie e maluca foi embora quando ela ainda era bem pequena. Quando a gente pergunta se ela se parece com a mãe, ela faz cara de "não tenho a menor idéia" e olha para as irmãs com uma interrogação na testa. As meninas dizem yessssss, sorrindo.

As quatro sorriem o tempo inteiro, sem disfarçar a alegria de estarem juntas. Durante o dia, enquanto a Nina vai para a escola de italiano e depois dá aulas de inglês, as três ficam no apartamento... Não fazem nada o dia inteiro. Não passeiam, não se importam. Só vieram mesmo para estar com a irmã mais velha - então quando ela não está, esperam. À noite bebem, bebem, bebem e tiram quinhentas fotos fazendo careta. Estão sempre grudadas, se abraçando, se enroscando, se pegando, muito, muito juntas. Elas são meio caladas, meio misteriosas, muito simpáticas. Parecem as Virgens Suicidas e têm o "ar" da Julianne Moore em As Horas - se bem que elas sorriem e a Julianne não. Difícil achar boas comparações. São four of a kind.

Maria namora um brasileiro de Floripa que mora em NY. Alisa quase não fala, só faz pose pras fotos. Sarah é a mais bonita das quatro, não dá pra acreditar que tem 16 anos, e tem um sorriso de arrasar o quarteirão. Nina tem os olhos mais lindos.

Além de todos os irmãos, elas já têm um monte de sobrinhos. Acho que 11, ou 13, ou 17!! Me prometeram que antes de 2010 me mandam uma foto de todos juntos. A Nina me prometeu também que vai me dar o telefone da mãe, pra eu fazer uma entrevista. Mas disse pra eu me preparar porque ela vai falar duas horas sem parar e pode ser que eu não suporte ouvir. A Nina é cítrica, embora doce. E certamente eu vou adorar ouvir a mãe dela falar.

No final eu as convidei para irem ao Brasil e disse que minha casa está aberta para hospedá-las - elas, os irmãos e os sobrinhos. Disse que meu pai iria adorar recebê-las (hm?). Elas se animaram e disseram que assim que tiverem dinheiro vão. Se aparecerem, juro, vou fazer uma festona: the brothers and sister's party. Já prepare os seus.

E quanto mais irmãos, melhor. Afinal, são eles (ou nós) que estarão lá, no fim de tudo, lembrando e contando as histórias da sua vida, da sua família, dos seus pais, de todos os dias da sua vida.

SORRY
Se você é filho único, não fique triste. Pelo menos ninguém pega as suas coisas, nem quebra os seus brinquedos, nem divide seus pais, nem te bate, nem te enche, nem te controla, nem te deda, nem te... Ah, tá bom, pode ficar triste. Scusa, mas ter irmãos é o máximo!

Grazie.
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