terça-feira, 23 de setembro de 2008

ANTIPASTO PRIMO SECONDO DOLCI

Antes de ir embora, eu PRECISO, è bisogno, falar do assunto principal na Itália: comida!

Veramente não falei até agora sobre as pizzas, os prosciuttos, as mozzarelas, as bruschettas, os nhoques, os raviolis, os pennes, os spaghettis e os polpettones porque, surpreendentemente, pra mim a comida na Itália não teve essa importância toda. Meu paladar não ama massa e eu quase só comi salada todos os dias. Podem me matar, amantes da culinária italiana – e Toscana! -, mas é vero: o que eu mais comi na Itália foi salada (além de um risotto de gorgonzola com radicchio e noci, de matar!).

Fui realmente uma exceção, um acidente – accidenti! - porque realmente na Itália só se fala em comida e si mangia troppo! Portanto o assunto merece umas linhas antes de irmos comer salada no Brasil.

TUTTO INSIEME NOOOO!
A refeição na Itália tem todo um esquema. É muito diferente do nosso jeito brasileiro de comer, e a forma é muito, mas muito respeitada pelos italianos: antipasti, primi piati, secondi piati, dolci. É assim. Tudo separado. Não existe um prato de arroz, feijão, bife e batata. Ou macarrão com frango. Ou risotto com torta (alias, torta aqui NUNCA vi!) Não existe colocar as coisas juntas no prato. Não. Non c’è. Jamais. Sogetto inezistente! Tutto insieme no! É separado, uma coisa de cada vez. E o certo é pedir todos os quarto pratos, e ir até trocando de vinho se for o caso. Até a sobremesa tem seu vinho específico, o vinsanto. Má nàggia!

Então é assim: primeiro o antipasto - uns frios, uns queijos, uma mozzarella, crostinis com cogumelos, pomodori e fromaggio, pate de fígado (éca!) e beringela (èèèècaaaa!!). E pão, sempre. Pão sem sal.

Depois vem o primeiro prato, normalmente um risotto ou uma massa bem cheia de molho, bem temperada, bem encorpada. E no prato vem só o rizzo ou só a massa. Sem mais nada. Magari vocé usa o paozinho pra chuchar no molho. Mas nada de acompanhamentos.

E então vem o segundo prato, a carne. Tem carne de porco, tem bisteca fiorentina, frango, peixe, coelho… Ou pode ser também um outro prato de massa! Sem constrangimento. O feio é não pedir.

E, depois de tudo isso, a sobremesa: dolce, gelato, biscotto com vinsanto… Frutta? Non c’è. Muito raro. É sempre tiramisu, cheesecake, torta della nonna, torta de chocolate ou de maçã, gelato, tartufo, essas coisas leves.

E depois de tudo isso você vai rolando pra casa. Rolando literalmente, caindo no chão, porque a comilança toda é acompanhada MESMO de vinho, então já viu como se termina o jantar (e o almoço também!).

E, olha, é incrível, mas a maioria das pessoas come de fato todos os pratos. Não é lenda. Não é. Os cardápios dos restaurantes são assim mesmo: antipasti, primi, secondi, dolci… E prepare-se para as caras feias se você sair da regra. Eles não te obrigam a pedir do jeito certo, mas te olham como se você fosse uma aberração, que não sabe comer direito.

E tem o café. Um dedinho mindinho de xícara. Não pense que veio errado. É assim o spresso italiano – segundo eles o melhor do mundo, incomparável, único.

Ah, e tem o Limoncelo! Madonna! Não se pode esquecer do Limoncelo depois ainda de todos os depois – que é pra dar aquela assentada final. (os japas também tomam grappa!)


CENA A CASA

Não é teatro, é jantar. E não, não é só no restaurante a comilança separadinha. Juro que pensei que fosse (juro, Aline). Mas fui convidada para jantar na casa de um italiano - e de um brasileiro que já italianou - e vi que é assim mesmo também nas casas italianas… Primo, secondo… tudo separadinho, um por vez.

E italiano não tem cozinheira, então é uma delícia porque o jantar já começa com todo mundo na cozinha desde a hora que chega, enquanto o dono da casa vai preparando o cibo.

No jantar que o Fábio e o Aluizio fizeram pra mim, teve penne con zucchini e gamberi di primo, e porpettone recheado com espinafre di secondo. Tudo delicioso. E não, não podia comer junto. Na Itália é assim.

E, olha, a gente se acostuma. É bonito. E passa a fazer muito sentido essa coisa de não misturar os sabores e os setores. Dai!


PANNE E TULIPANNE

E quem pensa que foi a mamma que ensinou a passar o pão italiano no pratinho de azeite e sal enquanto a comida não vem, faça penitência. Para os italianos clássicos isso é o fim da picada. Coisa de americano que não sabe comer. Um sacrilégio porque atrapalha seu paladar para o que vem, separadinho, na seqüência.

E para os italianos também não existe pedir ou abrir um vinho assim só pra beber, como a gente faz. Pra beber vinho PRECISA ter uma comidinha pra acompanhar.


DE COMIDAS E VIAGENS

E então, depois de tudo isso, me dou conta de que a minha viagem foi como uma refeição italiana.

O antipasto fiz em maio, com a Daysi, passando rapidinho em mais de 20 cidades no mês – com direito a porções maiores das entradinhas preferidas, digo, dias a mais nos lugares mais legais.

O primo piato, eu sozinha por aí, degustando com calma e prazer lugares lindos, inacreditáveis, saborosíssimos e cheios de identidade – como as massas toscanas.

O secondo piato foi Firenze, estudando italiano, a proteína, a consistência, o pé no chão em algum lugar.

E, por fim, o dolce, o tempo a mais que me permiti, entre aulas e gelatos.

Enfim, agora pedi o café (italianíssimo, corto!) e já estou pagando a conta para ir embora. Triste. Não de tanto comer. Mas de tanto viver. Digo, feliz. É um sentimento doppio de alguma maneira. Mas, claro que vou embora feliz, como me senti depois de toda refeição italiana (ainda que salada!).
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