domingo, 31 de agosto de 2008

OS JAPONESES E EU

Eu não sei exatamente de onde isso vem, já disse, mas meu envolvimento com os japoneses é de alguma natureza profunda.

Talvez por que meu pai tenha trabalhado junto com alguns deles desde que nasci eu tenha criado essa afeição pelos olhinhos puxados.

Não sei mesmo. Mas é fato. E sou muito grata por isso. Porque se aprende um bocado com eles.

A CLASSE
Há muitos japoneses em Firenze. Visitando e estudando. Neste mês, metade da minha classe é nipo. Na sexta-feira passada nossa prof pediu para fazermos uma apresentação sobre o nosso país. Eu estava sozinha. Uma colombiana também. Depois, dois venezuelanos, dois croatas e os seis japas. Eles são fofos, educados, organizados e concisos. Ultra concisos. Uma aula pra mim, que falei um monte de coisa e não disse nada - e não foi porque o Brasil é gigante só, foi também porque não tenho o senso de organização oriental. E já piorei, convivendo com o caos italiano.

É verdade que ninguém sabia direito o nome do imperador do Japão - que afinal não impera nada - mas falaram do primeiro ministro, dos apartamentos minúsculos, do custo de vida alto, das famílias reduzidas e das enormes diferenças entre Tóquio e Quioto. Em Quioto, por exemplo, o maior problema da cidade não é o trânsito, a poluição ou a violência. Não. O maior problema é que não tem estacionamento suficiente para as bicicletas. Ai, Jesus. E as mulheres de Quioto são as mais frescas e peruas do Japão. Pelo que entendi, ninguém gosta delas, além dos maridos quiotenses - se é que gostam, né, porque japonês com amor é difícil (mas eles dizem que nos ûltimos anos isso vem mudando e até já se diz eu te amo - aish tê más!).

Esses japoneses da minha classe, além de serem algumas das pessoas mais gentis e sorridentes que já conheci, são muito especiais: Ken é regente de orquestra. Yuya é artista e faz animais em miniatura decorados com ilustrações minúsculas, é lindíssimo. Mina é estilista. E a minha ônedjá (irmã mais velha em japonês) Shinobu é bartender e somelier. O Haruki, que foi embora, era designer de bolsas. E a Haruka não sei o que faz, mas não deve ser nada muito comum. O que eles têm em comum é, definitivamente, a delicadeza. E o dicionário eletrônico. Todos, todos, todos os japoneses que estudam aqui têm um mini computador dicionário. É incrível. Traduz pra inglês, italiano e mais algumas línguas. E ainda tem enciclopédia e mais uma dezena de funções. TODOS têm. Só muda a cor da capinha. Os meus japoneses são melhores do que os outros.

O PIC NIC
Tá certo que eu não fiz muitos pic nics na vida, mas, entre os que fiz, este foi de longe o mais legal, o mais animado, divertido e indimenticable.
















Fui com os japas queridos no sábado. É um parque lindo que tem aqui, a 30 minutos de Firenze. A cidade se chama Pratolino. O parque tem um nome difícil que me lembra o meu perfume Davidoff. Eram 11 japoneses, um coreano e eu. Não me deixaram levar nada, e fizeram um banquete!

Shiauassê! (tô feliz!)

Talvez este pic nic não tenha sido diferente de qualquer outro. Mesmo assim, foi diferente e especial. Porque eles são especiais demais. Sempre gentis, educados, companheiros e particulares.

Itadakimás!!
A quantidade e a variedade de comida era inacreditável! Os japas sabem fazer pic nic!! Coisas preparadas, coisas compradas, receitas inventadas pra gente provar, tudo. Nem sei direito o que eu comi, mas era tudo bom.

E, fora a comida, pic nic de olho puxado é uma diversão. Eles adoram jogar volei. Eu também não sabia. Mas eles adoram. O mais divertido são os gritinhos – em japonês – durante o jogo: ôôôô, no-no-no-no, hhhaaaiii!!, ú-ú-ú, gambááátê!! Eu me jogava no chão - não pra pegar a bola, mas de rir!

Além do volei, teve o momento "jogo de desenhar" - que tem um nome em japonês, mas esqueci. Neste lugar onde fomos há uma estátua gigante, gigantesca, de um homem muito barbudo, velho, sentado de um jeito meio misterioso, olhando pra baixo, talvez pegando alguma coisa, não se sabe. Não se sabe ao certo quem ele é nem o que está fazendo. Tem gente que diz que á representação de Deus olhando com uma certa tristeza o que fizemos com o planeta… Mas pode ser o que você quiser. Bom, mas aí a brincadeira era cada um desenhar a sua versão do velhinho. E todos vêm, e participam. Meu desenho ficou um horror, mas foi engraçado.

















KampaiTintim
E então a Shinobu anuncia que é hora da “bíla”. Ela quer dizer birra, cerveja. Será aberta a sessão da bebedeira. Santo Deus, os japoneses bebem muito!! Foram comprar bila no restaurantezinho. Depois teve champagne, vinho tinto e, pra finalizar, limoncelo. Pra finalizar nada! Eu que pensei errado! Porque depois eles ainda foram para um Irish Pub e passaram a noite lá bebendo mais. É impressionante como eles bebem. E a energia não sei de onde vem.


Mensagem na garrafa
Mas o mais legal do pic nic foi a mensagem na garrafa. Parece que é uma tradição japonesa de pic nics. Todo mundo escreve numa folha alguma coisa para ser lida daqui a cinco anos. E então a gente põe a folha numa garrafa e enterra lá num lugar marcado – pra ser desenterrada por nós mesmos daqui a cinco anos. Não é brincadeira. Eles levam super a sério e foi demais fazer parte disso. Todos pensaram bastante no que escrever e escreveram com o maior cuidado. Inclusive eu. Alguns escreveram em japonês, outros em italiano. E, no final, eles foram lembrando dos amigos que não estavam no pic nic e foram pondo todo mundo no papel: Haruki dove?? Taka dove?? Yuki dove?? Depois colocamos a mensagem na garrafa, achamos o lugar para enterrá-la (dentro da árvore) e cada um jogou um pouco de terra pra tapar o buraco. Parecia filme. E entre os japas não tem nenhum chato que não participa – como normalmente entre nós, ocidentais bobos, acontece. Sempre têm aquele que acha a coisa sem graça e fica de ladinho… Acho que sou japonesa. Ou fui.











O bar e os beijos

Depois de tudo isso - do meio-dia às nove da noite no pic nic - pegamos o ônibus de volta, meia hora, chegamos. E você pensa que eles deram ciao e foram para suas casinhas? Não, não, não, Irish Pub? Irish Pub si-si-si. Eu fui junto porque era muito pertinho, mas estava morta. Chegando lá, sem cerimônia, cada um pediu um balde de bila ou de umas bebidas diferentes que eu nem conheço, e só estavam começando.

Não, eu não podia acompanhar. Me levantei pra ir embora e, como sempre, fui dar beijinhos em todos. É sempre um parto, mas eu esqueço. Dar beijinho num homem japonês é tão difícil quanto entender o que ele fala. E então eles me explicaram uma coisa muito bonita: a gente não sai beijando todo mundo porque não queremos perder o que isso significa pra nós. Quando você dá beijos em alguém porque a pessoa vai partir ou porque conquistou alguma coisa, é muito, muito, MUITO especial. Se a gente beijar sempre, não será mais. É verdade. E então eu só beijei a Eri, que vai embora. E deve ser muitíssimo especial mesmo porque enquanto eu dava os beijinhos nela, ela começou a chorar feito criança. Aí eu não quis nem saber das tradições e dei um abraço de urso na japinha fofa! Dá pra ver nos olhos como eles são obrigados a guardar tudo dentro de si. Como os beijos.

TEMAKI EXPRESS
E então, no domingo, a saga oriental continuou. Shinobu me levou pra comer Temaki na casa de uma coreana. Mas a gente que fazia o temaki, diversão de novo. Pena que no fim a coreana me fez experimentar uma coisa da cozinha típica dela que quase me matou. Era tipo acelga ou coisa que o valha com uma pimenta que deixa a malagueta no chinelinho. Arigatô, amicá. Acabou com o gostinho de camarão com cream cheese que estava me fazendo tão feliz. (rima sem querer)

Depois do Temaki, como não podia deixar de ser, Shinobu foi encontrar os mesmos japas do pic nic pra beber. Juro. Juro. Juro. Eles bebem TODOS os dias. Eu fui junto porque só vendo pra crer. E era verdade. Estavam todos lá no bar. Drinks, prosecco, vinho. E aí? Vamos pra outro bar? Ah, vão vocês. Sayonará. Má tá né!

(Na segunda-feira, chegam todos de ressaca na aula. E na terça também, e na quarta. Quando conseguem acordar... Juro. Os japoneses em Firenze são assim.)

Um comentário:

Katy Direto do Japão disse...

essa do beijo foi fatal hein...
fui me despedir d uma miguinha japa q ia embora pra osaka, dei um abraco apertado nela e ela mais rija q pau-brasil
qd dei o beijo no rosto dela a menina deu um berro q ecoou no corredor! hahahahahaha
em q regiao do japao vc esta? percebi q existem coisas mt diferentes ae q nao sao costumes aqui em shiga...
dificil pra caramba sacar qd um mocinho japones ta a fins da gnt nao eh mesmo? mesmo depois d ficar com eles, tsc!
por isso tou dando uma pesquisada aqui na net, e foi assim q encontrei seu blog e adorei a forma como escreve, tao espontanea! ta nos meus favoritos ja!
bjks!