segunda-feira, 4 de agosto de 2008

BABBO

Tenho pensado muito no meu pai.
Tenho me encontrado com ele - em mim - todos os dias.

Acho que porque assim, sozinha, a gente acaba olhando com mais cuidado, com mais calma, meio que de fora, as próprias atitudes, o comportamento, o jeito de ser em cada pequeno detalhe. E o que eu vejo é o meu pai em vários dos meus momentos. Não que isso seja totalmente novo, eu sempre soube, mas está latente aqui, neste país de babbos, e mammas, e nonnas, de gente que grita demais, que conversa como se estivesse brigando, de bagunça, de calor, carente de pessoas educadas e gentis, mas de família acima de tudo.

Sou meu pai quando pergunto o nome do garçon, da garçonete, do vendedor, do caixa, do carabiniero, de todo mundo. E quando digo o nome da pessoa com um sorriso seguido de um agradecimento, de uma solicitação educada, de um elogio ou de uma brincadeira gentil.

Sou meu pai quando pago um sorvete pra algum amigo, quando peço proscciuto crudo no restaurante ou quando compro frios e queijos pra fazer um aperitivo. Sou meu pai quando encho o copo de gelo e depois de água, e quando giro o gelo no copo com um dos dedos. Sou meu pai quando chego na casa de alguém e arrumo o tapete, a mesa, a almofoda. E quando sento no sofá e ponho a almofada na barriga.

Sou meu pai até no meio da minha bagunça, quando dobro direitinho as sacolinhas de plástico acumuladas e guardo pro momento oportuno. Ou quando pego uma dessas sacolas pra fazer de lixinho ao lado da minha "mesa de escritório". E sou meu pai quando arrumo bem retinhas todas as coisinhas em cima dessa mesa (embora a minha mesa seja CHEIA de coisinhas e a dele vazia...).

Sou meu pai quando organizo e convido a classe inteira pra um almoço de confraternização, e quando faço um discurso (em italiano) falando da importância da amizade e do quanto é especial ter cruzado com cada um deles pelo caminho. Sou meu pai quando digo a um por um que eles têm uma casa no Brasil. Sou meu pai quando tempero a salada com aquela coisa gigante de moer pimenta. Também sou meu pai quando peço a nota fiscal em qualquer negócio e quando dobro ela direitinho e guardo na carteira - pra depois juntar com todas as outras, devidamente clipadas, dentro de um envelope. E sou meu pai quando faço o relatório de gastos do cartão de crédito. Sou meu pai quando pechincho e quando faço economia. E sou muito meu pai quando me sento e espero alguma amiga escolher alguma roupa na loja. Sou meu pai quando ela me pergunta se está bom e eu respondo com palavras gentis.

Sou meu pai quando compro rosas do mocinho que passa vendendo no bar (sim, aqui também há milhares deles), e quando distribuo uma rosa para cada uma das pessoas que estão comigo... homens, mulheres, crianças... Sou meu pai quando caminho devagar pelas ruas da cidade, quando pego a mão da pessoa ao lado para atravessar a rua, quando ando de mãos dadas com alguém. E definitivamente sou meu pai quando ligo o ar condicionado na máxima potência do vento e a 18 graus - ou menos!

Sou meu pai quando desdobro a pontinha das notas de dinheiro antes de guardá-las bem esticadinhas na carteira. Sou meu pai quando dou um dinheirinho pro cantor da rua ou uma gorjeta boa. Sou meu pai quando enxugo o chão do banheiro e a pia! Meu Deus, eu enxugo a pia.

E sou meu babbo, de alguma forma, quando MORRO DE SAUDADE da minha mamma. E quando sinto tanto tanto a falta dela e da opinião dela, e de rir com ela, e de lembrar das histórias antigas, e de compartilhar com ela cada coisa legal que acontece e cada pessoa que eu vejo igual a alguém que a gente conhece.

Sou meu pai também quando falo pra todo mundo sobre a família maravilhosa que eu tenho, e quando mostro fotos e mais fotos, e quando digo que, embora eu tenha vontade de ficar viajando mais tempo, acho que não vou agüentar de saudade...

(Também sou um pouco meu pai quando sou meio teimosa, cabeça dura e "bossy" - mas quando sou assim com absoluto respeito e educação. Cá entre nós, é bem verdade que isso me ajuda bastante a ter sucesso na vida. Sou meu pai quando tenho sucesso na vida. E, va bene, eu ser meu pai ajudou particularmente a minha classe inteira a trocar uma professora ruim por uma ótima e aprender a falar italiano!!! Sou meu pai quando me torno naturalmente a líder da revolução estudantil).

Ah, e sou exatamente meu pai quando penso que, embora todos acreditem que o dia dos pais seja só no próximo domingo, DIA DO PAI É TODO DIA! (E DIA DA MÃE TAMBÉM!)

Grazie Babbo, por ser uma parte tão boa de mim, tão forte, tão gentil, tão bonita. Grazie tanto.
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