Você pensa no tamanho de tudo, na quantidade de gente, em como são todos diferentes mas iguais.
Casais, crianças, ragazze, ragazzi, velhos, muletas, bengalas, mãos dadas, carrinhos de neném, ninguém e todo o mundo.
O importante para sentir é parar um pouco e observar a beleza de tudo. Do céu, do sol, das pessoas, da ponte, das mãos. E até da nuvem. Que passa.
De onde será que vem cada um? Para onde vai? Que importa? Cosa? Uns andam, outros param, uns correm, outros se sentam. Uns sentem, uns sorriem, outros mentem. Você olha.

As pessoas todas tiram fotos e você se pergunta por quê, pra quê. Você também tira fotos e não sabe exatamente a razão.
Você vê gente que nunca mais verá e gente que nunca mais voltará a passar por esse caminho, por essa ponte, por esse momento, aqui. Talvez nem você volte. Mas que importa? Há tantos outros lugares e tantas outras pontes e tantos outros momentos... E para quê? Quem sabe? Apenas há e você existe para ver. Talvez porque a vida seja isto: ver. Em italiano: sentire, guardare. Sente e guarda.
(Sentada aqui na ponte sinto. Muita gente e muita coisa. Il sole. Sola, sinto que as pessoas são mais importantes do que os lugares. Sinto e guardo.)
A tarde vai. A muçulmana vai, a freira vai, a anã e o anão vão. A magrela, a gorducha, as japonesas, os americanos. Algumas bicis vão. Alguns cães. Os carabinieri, as cadeiras de rodas. Todos vão. O mundo vai. Você fica.
É impressionante como não há um único momento em que não passa ninguém. Na ponte, no pensamento. Como é que a ponte descansa? Não descansa. Como a vida.

Tem uma mulher de burca branca com uma máquina fotográfica maior do que ela no pescoço. Não combina. Mas ela existe. Então você se dá conta de que nem tudo que existe junto combina. E nem tudo que combina existe junto. Nem na ponte, nem na vida.
Ela, de burca, me vê e tira fotos de mim. Não sei por quê, nem pra quê. Não importa. Me deixo fotografar. Talvez à espera de que alguma coisa mágica aconteça. Mas sei que nem mil fotos podem me roubar a alma ou o momento. Nem congelar um ou outro. Nem mil fotos podem me salvar se a ponte cai. Nem mil fotos podem fazer de mim a mesma pessoa todos os dias. Ou outra. E porque eu não acredito, nada acontece. E então a muçulmana vai e me leva. Para algum lugar onde nunca estive. Mas estarei. Dentro de uma máquina maior do que o coração.
Chineses, coreanos, indianos, africanos e não-identificados espalham as suas mercadorias sobre a ponte. Espalham sobre a ponte os seus sonhos e as suas preces.

Tem gente que passa pela ponte porque precisa. Outros só querem. Do que você precisa? O que você quer?
Sente. Guarda. É tudo a mesma coisa.
Então você se levanta, sob a lua, sobre a ponte, e vai.
Vai!
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2 comentários:
Sabio é quem monotoniza a existência, pois então cada pequeno incidente tem um privilégio de maravilha.
Lindo!! Que inspiração... apesar da ponte vecchio parecer uma favelinha é bonitinha... e realmente inspira pelas pessoas que passam... ;*
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