terça-feira, 8 de julho de 2008

GLI AMICI

O bom de estar parada em um lugar é que você começa a conseguir fazer amigos novamente. Você pensa: vou ficar aqui mais tempo então vale a pena investir na amizade. E, confesso, eu que andava com preguiça estou me lembrando de como adoro fazer amigos.

Sempre primeiro os japoneses. Tenho qualquer afinidade com eles que ainda não sei de onde vem nem como se manifesta, mas sempre nos atraímos. Quando morei em Boston, há 15 anos, foi a mesma coisa. Lá minha amigona japonesa era a Kaôru. Aqui é a Shínôbu. Deus, ela é engraçada demais. É bem japonesa, assim meio seriona, quietona, mas de repente começa a contar que bebe muuuuito vinho e depois não lembra das coisas - e demonstra como cai pra trás pra dormir, bem japonesa, com bastante recato.

Ontem Shínôbu e eu fomos convidadas pra jantar na casa da Nôa, uma israelense incrivelmente legal que está estudando italiano pra fazer faculdade de medicina aqui a partir de outubro. Ela mora com um brasileiro, amigo, o Thiago. Dividem uma casa linda - e com ar condicionado, raridade em Firenze, até nesse calor!! O namorado israelense da Nôa tá chegando pra visitar e é ma-ra-vi-lho-so!

O Thiago é de Fortaleza, fofo, querido, e cheio de planos de abrir uma pastelaria aqui. Ele fez um pastel delicioso pra gente! A idéia parece ótima porque não tem nada parecido nesta cidade. Se você quer uma coisinha pra enganar a fome, não tem muita opção, só os mesmos sanduíches, os mesmos croissants feios, ou os pedaços de pizza, claro. Mas não tem uma esfihinha, um pãozinho de queijo, um pastel... E ainda por cima vai custar 1,20, muito mais barato do que os, no mínimo, 2,50 que se gastam com um panini mezza-bucca. Enfim, pode ser que ele fique rico. E se eu ficar morando aqui, acho que tenho emprego garantido na pastelaria. Né, Thi?!

Bom, mas aí, lá na casa deles, chegou o pai da Nôa (que está aqui uns dias fazendo uma visita), um outro amigo dela, russo que mora em Israel, e dois italianos amigos deles. Tutti amici. Então falávamos português, hebraico, russo, inglês, italiano e eu brincava no japonês com a Shínôbu. Fora a mistureba de tudo porque ninguém falava bem as outras línguas fora a sua própria. Todo mundo falando ao mesmo tempo, todas os idiomas, pra tentar se entender. Va beníssimo! Nos divertimos como havia muito me mancava!

E eu pude ver de perto como os amigos italianos de fato se tratam com muita próximidade, como sempre ouvi dizer: se adoram, se amam, se pegam, se abraçam... são como os libaneses, como irmãos! É bonito de ver! Pepe e Gaetano são assim! E, não, eles não são gays!

Pra completar lindamente a noite da retomada-com-força-total do gosto-por-fazer-amigos, a Shínôbu me levou até em casa na garupa da bicicleta dela. Não, não dá pra explicar. Você imagina uma japonesa me levando (eu!) na garupa da bici pelas ruas de paralelepípedo de Firenze? E a Shínôbu não é, digamos, a pessoa mais forte do mundo. Não. Ela é japonesa do Japão! Quando desci da bici só vi ela disfarçando pra enxugar o suor. Arigatô, mi amica - eu disse. De náá-dáá, miii amiiicááá - ela respondeu. Foi belo!

IL PRANZO GIAPONESE
Daí, Shínôbu e eu resolvemos que hoje iríamos almoçar num japonês que vimos lá na rua da Nôa, a Via Ghibelina (coincidentemente a mesma onde mora a Alê, minha amiga brasileira). Va bene, domani, cibo giaponese.

Acontece que hoje de manhã na aula, eu, já totalmente tomada pelo ímpeto de fazer amigos, fui convidando a classe inteira pra ir almoçar com a gente! Ninguém nunca tínha saído junto, imagina! Mal conversávamos. Era buon giorno pra cá, um come stai pra lá e niente mai... Quando acabava a aula, ciao ci vediamo domani. O caso é que todos, um por um, foram dizendo SI, ANDIAMO!! I-na-cre-di-tá-vel! E delicioso! Foi um contágio de amizade jamais visto naquele andar! hahaha. O Haruki não podia ir porque tinha aula particular e a Ana, mexicana, tinha curso de arte. (A Nôa faltou). De resto, to-dos foram: o turco, a turca, a islandesa, as duas francesas, a brasileira, Janete, de 63, que eu adoro, minha querida djéps e eu. Mais uma brasileira queridona nossa amiga, Helena, e uma holandesa de Amsterdan legalzérrima que não sei exatamente de onde apareceu. Tutto buona gente!

E então foi o maior sucesso o nosso pranzo giaponese!! Lotamos o restaurantezinho! Chama-se Aurora, veja que adequado! E o Aurora non era vicino non, era a lontano. Mesmo assim fomos todos juntos, caminhando, super amigos. Depois do almoço então, aí foi que a amizade já virou famiglia! E o melhor, fizemos a descoberta mais importante do mundo: todos estão insatisfeitos com a professora de italiano! Todos, sem exceção desta vez, acham ela fraquíssima, desinteressada e louca pra dar a hora do intervalo e do final da aula. Os que não foram ao almoço também acham, que a gente sabe. Eu penso assim há dias e ia pedir hoje mesmo pra mudar de sala, mas achei que era chatice minha, que sou exigente e implicante. Nada! Nin-guém se conforma que ela não corrige, que ela faz cara de saco cheio... Todo mundo quer mudar! Combinamos que amanhã vamos nos revoltar. E eu, pra variar, sou a líder da revolução. Morremos de rir imaginando a Giulia na forca. Que horror. Ela não é má. É só preguiçosa e muito tanto-faz pro nosso gosto. Não sei o que vamos fazer, mas alguma coisa vamos. Tá combinadíssimo.

Pelo menos falamos italiano como nunca!
Italiano-índio, claro, mas italiano.
(Tá, e inglês, porque pra falar mal da Giulia em italiano não dava...)

Enfim, acho que a partir de amanhã eu não vou ser a única a falar na aula! Depois do almoço de hoje todo mundo se soltou! Até o turco, coitado, que não consegue juntar IL com CANE! Va bene...

(nota tardia: dois dias depois fui falar com o diretor e no dia seguinte nossa professora foi substituída. agora, em vez da Giulia temos a Moira, que é o máximo! estão todos bem felizes. principalmente eu que em um dia aprendi tudo que não entendi durante duas semanas.)

TUTTI IN PENSIONE
Importantíssimo registrar que hoje a Janete quase me matou de rir. Ela é mineira. Tem 63 anos, mas parece 50. É uma delícia de companhia e, pra mim, é uma pessoa engraçadíssima! No meio da aula, a professora preguiçosa disse pra gente imaginar como estaria nossa vida daqui a 20 anos e então cada um falou um pouquinho - bem pouquinho, bem errado, e sem ela corrigir nada, a tosca. Bom, na vez da Janete, ela disse assim, bem mineira: Io vado estare com miei fligli, molti nipoti (netos) e MIEI AMICI VÃO ESTÁ TUTTI VECCHIO IN LA PENSIONE!!! Bastou pra mim! Chorei de rir. Pode não ser engraçado aqui, mas eu CHOREI! Miei amici vão está tutti in la pensione... (mãe, você teria dado muita risada também. foi parecido com o "cê não tem um ilástiquinho?" lá de Barcelona). Ai, ri muito... Janete, grazie!

VESTÍGIOS DE PRAHA
É importante lembrar que essa coisa toda recomeçou em Praga. Digo, o retorno do meu prazer de provocar amizades e cultivá-las. Lembra da Katka, a menina-figura que trabalhava no hotel? E o Paul, o querido que me chamou de hóspede favorita ever!... Pois os dois acabaram de me mandar e-mails. Ele - que na verdade se chama Pavel Pergner - diz que espera me ver lá de novo pelo menos mais uma vez ainda este ano!! (Será um sinal, Senhor? 27 de julho?) Ela - Kateřina Zákostelská - escreve como fala, em inglês-índio e com sotaque tcheco, e é igualmente engraçada com as suas histórias peculiares. Vale a pena ler a Katka:

What is weather in Brasil?... In prague started be raining.. sometimes (when I'm in work :D ) is nice... yesterday I had horrible dream that I must work long time and when I had free time and looking forward sunshining, sunbathing and swimming, started snowing and be cold.. I'm so happy when I wake up and realize that I can be in relax because summer started no finnish :D

(Happiness started no finish...)

I BRASILIANI
Nesse meu momento você-meu-amigo-de-fé-meu-irmão-camarada não podiam faltar, por fim mas não menos importantes, os amigos brasileiros antigos e queridos que pipocam a Firenze.

Alê - Desde o dia em que cheguei tenho a Alê, minha parceira de palco, a língua de Amidálas e mulher-mamulengo, que por sorte veio estudar em Firenze quinze dias neste julho meu. Já fomos à ópera, já rimos pelas ruas, e já tentamos nos falar um milhão de vezes sem sucesso - já que a soprano não tem telefone aqui e briga a tapa pelo computador na escola dela (que não é a minha). Desencontros constantes. Mas encontros buoníssimos. Com direito a cantoria às margens do Arno e a uma companheira de casa alemã que se chama Beata e é generala. Outro dia a Alê se atrasou três minutinhos pra um comprimisso com ela, chegou se desculpando polidamente e a Beatinha se limitou a dizer, alemãmente: que é que se pode fazer?!

Pode ser que ela seja de Garmish Parten Kirstchen. Decuvriró.

Ana - Aninha era estagiária do G1 e nos conhecemos. Ela veio morar um ano em Barcelona, e agora viaja um pouco antes de voltar para o Brasil. Veio passar o fim de semana em Firenze comigo. Tivemos momentos mágicos, como os dois lindíssimos pôr-do-sol (?) que assistimos da Ponte Vecchio. Com música, e céu, e saudade...

Mestra - E porque Deus é muito meu amigo, Ele me deu minha Mestra Ivandra de presente por dois dias nesta cidade. Não vou nem comentar o fato de ela ter reservado EXATAMENTE o mesmo hotel onde eu estava morando. Sem saber, sem nenhum tipo de ligação, sem que ao menos o hotel fosse uma escolha óbvia por alguma razão. Nada disso. Absoluta coincidência. I=NA-CRE-DI-TÁ-VEL coincidência. Qual a chance disso acontecer? Uma em um trilhão. Pois aconteceu. Literalmente DIVINO. Eu me mudei de hotel antes mesmo da mestra chegar (com o Valtinho e a Natália), mas não tem problema. Já fiquei estupefata e feliz o bastante porque coincidências assim só servem pra reforçar a ligação invisível e fortíssima que existe entre algumas pessoas - como minha mestra e eu.
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3 comentários:

Anônimo disse...

Querida Juli,
Li tudo. Ok, quase tudo.
Se meu chefe me pega, tô na rua. Passei a tarde na Europa com você.
E achei fantástico. Alguns lugares eu já estive e, quase estive de novo hoje. Outros foi a minha primeira vez.
Também chorei quando cheguei em Viena e chorei quando tive de sair de Firenze. Pra mim, é o que há de mais lindo no mundo. Muito mais do que Brugges...
E, depois de ler tudo, me deu uma tristeza. De achar que aqui, essas mesas, essas cadeiras, essa gente de terno e gravata e meu carro, lá no estacionamento, é um mundico de nada, pequenino demais, perto da vida que há, aí fora...
Agora, fecho o micro e vou pra casa. Porque lá, no travesseiro, de pijamas, comendo pão com requeijão, e rindo de bobagens com o meu amor, consigo achar de novo que minha vida pequena é grande e que o mundo cabe num apartamentico de nada... Você sabe como tudo pode ser enorme e pequeno né?
:)
Beijos. Muitas saudades

Unknown disse...

Fala para o Thiago que eu irei comer o pastel. Mil vezes pastel, porque eu vi um tio que vende sanduba de tripa!!! Meu, nem com todo tempero fiorentino!!

Arminda disse...

Ju, querida!
Cheguei ontem de manhâ mas ainda não aterrizei. E não quero aterrizar. Parece que se eu fizer isso, minhas lembranças mais caras vão começar a escorrer por entre os dedos!
Firenze foi muito bom!
E aquele dia que andamos por todo o Arno, rindo e cantando foi pleno!
Quero que você volte logo pra gente conversar em italiano. Non voglio dimenticare questa lingua che tanto me piace. Non voglio dimenticare tanti momenti speciali. Parlando con te trovo una forma di mantenere le due cose nel mio cuore!
Baci mille!