segunda-feira, 28 de julho de 2008

34 E UM LAMENTO BONITO

Tenho ido a concertos quase todos os dias. Acontece aqui um festival de orquestras jovens da europa e eu vivo lá assistindo, na igreja ao pé da Ponte Vecchio. Todas as noites são lindas e o momento é de silêncios e música. Mas hoje foi especial. Talvez porque eu esteja um ano mais velha e uns meses mais sensível. Talvez por nada.

Hoje foi especialmente lindo porque eu ouvi um lamento.

Era como se a música falasse comigo e eu ouvisse alguém que chora um choro brando, mas sentido, profundo. Daqueles ais de mães que sofrem. Era como se caísse uma lágrima aqui e outra ali, saídas de um cello, de um violino, de um trompete ou de um fagote - ainda que fagotes não chorem como cellos. Era um lamento doído, mas alegre de tanta beleza.

Não era exatamente saudade, embora pudesse ser. Também não era só tristeza. E de jeito nenhum era desespero. Era fundo, mas com a ternura dos sobreviventes que sofrem calados e sorriem volta e meia. Era uma dor fina e conformada. Uma dor aceita, estacionada. Tinha no som o carinho de cada músico pelo seu instrumento. E o abraço do violoncelista. Só dele. Aquele abraço que na orquestra só quem toca o cello tem. Era, sim, definitivamente um lamento de cello. A dor recebida e guardada depois de alguma luta cansada e em vão. Como o cello, sem opção, encaixado desengonçadamente entre os (a)braços do solista. A dor era solista. E não era.

Era, enfim, um lamento que só queria ser ouvido. Só ouvido. Sem esperar qualquer conforto ou qualquer recompensa. Sem esperar acolhida ou restauração - do deteriorado ou da alma partida. Era um lamento sem esperança. Mas com a felicidade das dores aceitas e superadas.

Era só isso, só um lamento solitário. E que se abria em explosão coletiva. E ecoava. Ecoava no vazio. No vazio de dentro. De dentro de algum lugar. De dentro de alguém.

(E. Elgar - Cello Concerto)

UM CÉU DE ANIVERSÁRIO
Na Itália não tem brigadeiro.
Mas tem aniversário.
Dia 27 teve o meu.
E o céu aqui é bonito todos os dias.
Portanto auguri, auguri a noi.
O que será que eu fiz em 34 anos?
Depois te conto.
Agora vou namorar o céu.
De brigadeiro.
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domingo, 13 de julho de 2008

UMA TARDE NA PONTE VECCHIO

Você se senta sobre a ponte, sob o sol, e vê a vida passar. Vê as pessoas passarem. Vê o tempo, que passa na ponte. Sobre o Arno, sem ar no peito. Passa o mundo.

Você pensa no tamanho de tudo, na quantidade de gente, em como são todos diferentes mas iguais.

Casais, crianças, ragazze, ragazzi, velhos, muletas, bengalas, mãos dadas, carrinhos de neném, ninguém e todo o mundo.



Uma nuvem cobre o sol e esfria o dia. Depois passa, como toda a gente sobre a ponte. E de novo fica quente. Como na vida. A nuvem vem e vai. Esfria, esquenta, esfria, esquenta.

O importante para sentir é parar um pouco e observar a beleza de tudo. Do céu, do sol, das pessoas, da ponte, das mãos. E até da nuvem. Que passa.

De onde será que vem cada um? Para onde vai? Que importa? Cosa? Uns andam, outros param, uns correm, outros se sentam. Uns sentem, uns sorriem, outros mentem. Você olha.

Crianças fixam o olhar nos seus olhos como se tentassem dizer qualquer coisa, mas você não entende. Olha e tenta escutar, mas vê e não entende. Escuta e não entende. Como tantas conversas que passam pela ponte: você escuta e não entende. Como a vida.




Há mulheres em vestidos de todas as cores e com bolsas de todos os tamanhos. E há maridos com bolsos suficientes para as jóias das lojas sobre a ponte. Ou não. Ou nem maridos há, nem bolsos. Mas mesmo assim o sol está lá, e pode haver jóias e pode haver brilho. Magari.

As pessoas todas tiram fotos e você se pergunta por quê, pra quê. Você também tira fotos e não sabe exatamente a razão.


Como é que a gente faz pra guardar para sempre um momento, uma vista, um amor? Na foto? Você se pergunta se essas fotos não serão rasgadas ou apagadas um dia. E , se apagar a foto, apaga o momento? E você mesma se responde: não.

Você vê gente que nunca mais verá e gente que nunca mais voltará a passar por esse caminho, por essa ponte, por esse momento, aqui. Talvez nem você volte. Mas que importa? Há tantos outros lugares e tantas outras pontes e tantos outros momentos... E para quê? Quem sabe? Apenas há e você existe para ver. Talvez porque a vida seja isto: ver. Em italiano: sentire, guardare. Sente e guarda.

(Sentada aqui na ponte sinto. Muita gente e muita coisa. Il sole. Sola, sinto que as pessoas são mais importantes do que os lugares. Sinto e guardo.)

A tarde vai. A muçulmana vai, a freira vai, a anã e o anão vão. A magrela, a gorducha, as japonesas, os americanos. Algumas bicis vão. Alguns cães. Os carabinieri, as cadeiras de rodas. Todos vão. O mundo vai. Você fica.

É impressionante como não há um único momento em que não passa ninguém. Na ponte, no pensamento. Como é que a ponte descansa? Não descansa. Como a vida.

Mas o mais bonito de tudo, você sabe e sente, é que o melhor lugar do mundo é a sua casa, o seu país, a sua família, a sua gente, os seus amores. Diante do mundo, você sente. E sabe que é pra lá que vão voltar todos depois de passar pela ponte. Hoje, amanhã, depois ou um dia. A gente passa pela ponte, vai, e volta pra casa.

Tem uma mulher de burca branca com uma máquina fotográfica maior do que ela no pescoço. Não combina. Mas ela existe. Então você se dá conta de que nem tudo que existe junto combina. E nem tudo que combina existe junto. Nem na ponte, nem na vida.

Ela, de burca, me vê e tira fotos de mim. Não sei por quê, nem pra quê. Não importa. Me deixo fotografar. Talvez à espera de que alguma coisa mágica aconteça. Mas sei que nem mil fotos podem me roubar a alma ou o momento. Nem congelar um ou outro. Nem mil fotos podem me salvar se a ponte cai. Nem mil fotos podem fazer de mim a mesma pessoa todos os dias. Ou outra. E porque eu não acredito, nada acontece. E então a muçulmana vai e me leva. Para algum lugar onde nunca estive. Mas estarei. Dentro de uma máquina maior do que o coração.

Chineses, coreanos, indianos, africanos e não-identificados espalham as suas mercadorias sobre a ponte. Espalham sobre a ponte os seus sonhos e as suas preces.

Vão e vêm, como vai e vem a polícia que lhes rege os passos e as chances. Mais vão e vêm do que vendem qualquer coisa. E vendem de tudo: bolsas, óculos, relógios, esculturas, tripés, brinquedos, esperanças. Olham desconfiados, abrem e fecham sacolas, não descansam. No chão, nas costas, na ponte. Não se desligam uns dos outros. Como na vida. (?)


Que será que essa ponte liga, você tenta entender. Um lado ao outro? O bem e o mal? A alegria e a dor? O sucesso e o fracasso? O novo e o velho? O começo e o fim? A prisão e a liberdade? Ou será que a ponte separa? Tudo de tudo? Nada de nada?

Tem gente que passa pela ponte porque precisa. Outros só querem. Do que você precisa? O que você quer?

Sente. Guarda. É tudo a mesma coisa.

Então você se levanta, sob a lua, sobre a ponte, e vai.

Vai!
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sábado, 12 de julho de 2008

TOSCAS?

Fomos à opera em Verona.
Verona, de Romeo e Giulietta.
Apaixonante.

Mas aí tem lá a Casa da Giulietta. Fica lotada de turistas visitando, tirando fotos, comprando coisinhas. Tem a sacada e tudo. E uma estátua que diz que é da Capuleto e as pessoas tiram foto com a mão no peito dela (no peito mesmo, na mama, não no coração)! Hein?? Cosa????

E então eu me pergunto - e te pergunto - essa gente desavisada não sabe que a moça é obra de ficção? Que ela nunca existiu portanto não pode ter tido uma casa nem em Verona nem em lugar nenhum? Ou as pessoas sabem mas vão lá mesmo assim? Se a resposta for a segunda opção, ok, não me incomoda, é bonito até. E, afinal, a gente vai à Disney, aos estúdios da Universal... tira foto com o homem-aranha e com o Shrek, ok. Mas se a resposta for: não, eles não se dão conta e acham que a Giulietta morou mesmo ali... aí, Ah, meu Deus perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem... e dão dinheiro à toa pros safados que inventaram tudo aquilo. Tsc.

A ópera: La Tosca, na arena de Verona. Uma arena romana inacreditável. É tipo show de rock, jogo de futebol... mas com charme europeu, romano, qualcosa cosi. Primeiro, segundo, terceiro sinal. Todos batidos naquele pratão chinês. Lindo e aplaudido com urros e bravos.

Esqueço um pouco de tudo enquanto eles cantam, enquanto o dia vai indo embora e uma lua extraordinária vem surgindo no céu. O céu, o palco, a música, a platéia. Apaixonante.

ARMY
Entre as pessoas que estão comigo na ópera, Einat. Ela tem 22 anos e passou os últimos três no exército. Nasceu em Israel e lá é obrigatório servir aos 18. Homens e mulheres. Por alguma razão que eu não entendi, ela fez o treinamento básico no primeiro ano e depois teve de ficar mais dois. Acho que foi ela que escolheu a força aérea e então durante esses anos a mais se tornou instrutora de pára-quedas nos aviões de guerra. Ela veio sentada ao meu lado nas três horas de ida e mais três de volta de Verona. E me disse que, pela primeira vez na vida, descansa. De fato ela dormiu um bocado. Dormiu na ida e na volta. Mas, cá entre nós, tem todo o direito. Sente: aos cinco anos começou a treinar para ser atleta - e foi campeã de triatlo de todas as categorias até os 18, quando virou soldado do exército israelense. Não se lembra da vida sem treinar alguma coisa ou sem seguir disciplinas rígidas. É perfeccionista e exigente consigo mesma, a ponto de ter ficado muito, mas muito mal porque se atrasou um pouquinho no almoço e deixou todo mundo esperando no ônibus uns CINCO minutos. Ainda bem que me disse que está descansando. Mas, enfim, o caso é que essa menina de 22 anos ão teve (sossego) infância nem adolescência. O que será que a espera?

PARTY
Também entre nós, elas: as duas são de New York, Liz e Taylor. Isso mesmo. Liz, Taylor. Liz tem 19, Taylor vai fazer 21. Liz é morena, Taylor é loira. Se conheceram em Firenze há duas semanas mas já se dizem blood sisters. Falam pelos cotovelos, alto e sempre. Mas, apesar de tudo isso, são simpáticas e queridas - depois que você conhece melhor, porque antes eu queria matar as duas. Taylor é uma típica americana, pele branquíssima, cabelos amarelos-quase-brancos e olhos muito azuis contornados com lápis pretos. Liz é de uma beleza doce, parece a Julia Roberts, tem um pai mexicano, um piercingzinho no nariz (!) e estuda psicologia (!!). Elas poderiam protagonizar juntas uma dúzia de espetáculos da Broadway como Aída, Wicked ou West Side Story ou Chigado. Perfect phisique-de-role (?). Mas de perfeccionistas não me pareceram ter nada. E nenhuma das duas esteve no exército. Pelo contrário: têm uma vida bem adolescente e americana, cheia de friends, beers, boys and parties. O que as espera eu também não sei, mas eu espero que elas sejam felizes. I hope they're happy. E que também resolvam descansar um pouco.
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quinta-feira, 10 de julho de 2008

COMER, BEBER, VIVER

A culinária da Toscana é bem interessante. A comida é colorida, saborosa e criativa. Os vinhos Chianti Classico são bem bons e os óleos têm um monte de sabores.

Mas, de tudo que tenho nas aulas di cucina e vino - afora os odores, os pensamentos e as sensações - o melhor são as pessoas. E as palavras. Definitivamente é durante as minhas tardes que mais aprendo do italiano e da vida.

Durante a manhã tenho as aulas tradicionais: Professora, gramática, conversação, música, texto. Passado acho dificílimo. Preposição também. Mas, va bene, andiamo. No entanto é quando chega a tarde que a língua (literal e metaforicamente) tem mais graça. Primeiro, pelo caminho, com as pessoas falando na rua e os vendedores com quem puxo conversa. Depois quando chego na escola de culinária ou na degustação de vinho. Tive a sorte de só me deparar com gente legal e que sabe muito do que faz. E que nos ensina com prazer, o mesmo prazer de comer, de beber, de viver.










Aprendo a fazer salsas, pomodoros, massas, pastas picantes, cremas, tortas, zucchinis, gnochis, dolces, risotos, carni. Aprendo a provar vini e por que eles podem ser tão diferentes mesmo vindo da mesma região e usando a mesma uva. Mas aprendo, acima de tudo, a falar italiano, a conviver em harmonia e a respeitar as diferenças.

Diferentes culturas cozinham juntas e comem juntas durante as tardes de gastronomia toscana. São muitas cores e muitos costumes. Muitos cheiros e muitas lembranças. As comidas trazem à tona histórias e desejos que, compartilhados, transformam a cozinha em romance, em livro giallo, em epopéia, em filme de amor. O paladar de cada um pode ser também diferente, mas o prazer de ver, de observar, de apreciar o belo não é. E, de repente, a magia: estão todos envolvidos por um tinto delicioso, enfeitiçados por uma panela no fogo ou deslumbrados por uma sobremesa recém-saída do freezer ou do forno.

Não, não é um bando de gente na cozinha. Somos irmãos ajudando a mamma a fazer o almoço de domingo.

Ah, que prazer!

Bó!

(interjeição fiorentina que colou na minha alma e que sai da minha boca 77 vezes por dia, principalmente durante as aulas de cucina e vino, que me transbordam, e depois de provar cada taça, cada prato. mil vezes Bah! Mamma mia!)

FOTOS DAS AULAS DI CUCINA
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terça-feira, 8 de julho de 2008

GLI AMICI

O bom de estar parada em um lugar é que você começa a conseguir fazer amigos novamente. Você pensa: vou ficar aqui mais tempo então vale a pena investir na amizade. E, confesso, eu que andava com preguiça estou me lembrando de como adoro fazer amigos.

Sempre primeiro os japoneses. Tenho qualquer afinidade com eles que ainda não sei de onde vem nem como se manifesta, mas sempre nos atraímos. Quando morei em Boston, há 15 anos, foi a mesma coisa. Lá minha amigona japonesa era a Kaôru. Aqui é a Shínôbu. Deus, ela é engraçada demais. É bem japonesa, assim meio seriona, quietona, mas de repente começa a contar que bebe muuuuito vinho e depois não lembra das coisas - e demonstra como cai pra trás pra dormir, bem japonesa, com bastante recato.

Ontem Shínôbu e eu fomos convidadas pra jantar na casa da Nôa, uma israelense incrivelmente legal que está estudando italiano pra fazer faculdade de medicina aqui a partir de outubro. Ela mora com um brasileiro, amigo, o Thiago. Dividem uma casa linda - e com ar condicionado, raridade em Firenze, até nesse calor!! O namorado israelense da Nôa tá chegando pra visitar e é ma-ra-vi-lho-so!

O Thiago é de Fortaleza, fofo, querido, e cheio de planos de abrir uma pastelaria aqui. Ele fez um pastel delicioso pra gente! A idéia parece ótima porque não tem nada parecido nesta cidade. Se você quer uma coisinha pra enganar a fome, não tem muita opção, só os mesmos sanduíches, os mesmos croissants feios, ou os pedaços de pizza, claro. Mas não tem uma esfihinha, um pãozinho de queijo, um pastel... E ainda por cima vai custar 1,20, muito mais barato do que os, no mínimo, 2,50 que se gastam com um panini mezza-bucca. Enfim, pode ser que ele fique rico. E se eu ficar morando aqui, acho que tenho emprego garantido na pastelaria. Né, Thi?!

Bom, mas aí, lá na casa deles, chegou o pai da Nôa (que está aqui uns dias fazendo uma visita), um outro amigo dela, russo que mora em Israel, e dois italianos amigos deles. Tutti amici. Então falávamos português, hebraico, russo, inglês, italiano e eu brincava no japonês com a Shínôbu. Fora a mistureba de tudo porque ninguém falava bem as outras línguas fora a sua própria. Todo mundo falando ao mesmo tempo, todas os idiomas, pra tentar se entender. Va beníssimo! Nos divertimos como havia muito me mancava!

E eu pude ver de perto como os amigos italianos de fato se tratam com muita próximidade, como sempre ouvi dizer: se adoram, se amam, se pegam, se abraçam... são como os libaneses, como irmãos! É bonito de ver! Pepe e Gaetano são assim! E, não, eles não são gays!

Pra completar lindamente a noite da retomada-com-força-total do gosto-por-fazer-amigos, a Shínôbu me levou até em casa na garupa da bicicleta dela. Não, não dá pra explicar. Você imagina uma japonesa me levando (eu!) na garupa da bici pelas ruas de paralelepípedo de Firenze? E a Shínôbu não é, digamos, a pessoa mais forte do mundo. Não. Ela é japonesa do Japão! Quando desci da bici só vi ela disfarçando pra enxugar o suor. Arigatô, mi amica - eu disse. De náá-dáá, miii amiiicááá - ela respondeu. Foi belo!

IL PRANZO GIAPONESE
Daí, Shínôbu e eu resolvemos que hoje iríamos almoçar num japonês que vimos lá na rua da Nôa, a Via Ghibelina (coincidentemente a mesma onde mora a Alê, minha amiga brasileira). Va bene, domani, cibo giaponese.

Acontece que hoje de manhã na aula, eu, já totalmente tomada pelo ímpeto de fazer amigos, fui convidando a classe inteira pra ir almoçar com a gente! Ninguém nunca tínha saído junto, imagina! Mal conversávamos. Era buon giorno pra cá, um come stai pra lá e niente mai... Quando acabava a aula, ciao ci vediamo domani. O caso é que todos, um por um, foram dizendo SI, ANDIAMO!! I-na-cre-di-tá-vel! E delicioso! Foi um contágio de amizade jamais visto naquele andar! hahaha. O Haruki não podia ir porque tinha aula particular e a Ana, mexicana, tinha curso de arte. (A Nôa faltou). De resto, to-dos foram: o turco, a turca, a islandesa, as duas francesas, a brasileira, Janete, de 63, que eu adoro, minha querida djéps e eu. Mais uma brasileira queridona nossa amiga, Helena, e uma holandesa de Amsterdan legalzérrima que não sei exatamente de onde apareceu. Tutto buona gente!

E então foi o maior sucesso o nosso pranzo giaponese!! Lotamos o restaurantezinho! Chama-se Aurora, veja que adequado! E o Aurora non era vicino non, era a lontano. Mesmo assim fomos todos juntos, caminhando, super amigos. Depois do almoço então, aí foi que a amizade já virou famiglia! E o melhor, fizemos a descoberta mais importante do mundo: todos estão insatisfeitos com a professora de italiano! Todos, sem exceção desta vez, acham ela fraquíssima, desinteressada e louca pra dar a hora do intervalo e do final da aula. Os que não foram ao almoço também acham, que a gente sabe. Eu penso assim há dias e ia pedir hoje mesmo pra mudar de sala, mas achei que era chatice minha, que sou exigente e implicante. Nada! Nin-guém se conforma que ela não corrige, que ela faz cara de saco cheio... Todo mundo quer mudar! Combinamos que amanhã vamos nos revoltar. E eu, pra variar, sou a líder da revolução. Morremos de rir imaginando a Giulia na forca. Que horror. Ela não é má. É só preguiçosa e muito tanto-faz pro nosso gosto. Não sei o que vamos fazer, mas alguma coisa vamos. Tá combinadíssimo.

Pelo menos falamos italiano como nunca!
Italiano-índio, claro, mas italiano.
(Tá, e inglês, porque pra falar mal da Giulia em italiano não dava...)

Enfim, acho que a partir de amanhã eu não vou ser a única a falar na aula! Depois do almoço de hoje todo mundo se soltou! Até o turco, coitado, que não consegue juntar IL com CANE! Va bene...

(nota tardia: dois dias depois fui falar com o diretor e no dia seguinte nossa professora foi substituída. agora, em vez da Giulia temos a Moira, que é o máximo! estão todos bem felizes. principalmente eu que em um dia aprendi tudo que não entendi durante duas semanas.)

TUTTI IN PENSIONE
Importantíssimo registrar que hoje a Janete quase me matou de rir. Ela é mineira. Tem 63 anos, mas parece 50. É uma delícia de companhia e, pra mim, é uma pessoa engraçadíssima! No meio da aula, a professora preguiçosa disse pra gente imaginar como estaria nossa vida daqui a 20 anos e então cada um falou um pouquinho - bem pouquinho, bem errado, e sem ela corrigir nada, a tosca. Bom, na vez da Janete, ela disse assim, bem mineira: Io vado estare com miei fligli, molti nipoti (netos) e MIEI AMICI VÃO ESTÁ TUTTI VECCHIO IN LA PENSIONE!!! Bastou pra mim! Chorei de rir. Pode não ser engraçado aqui, mas eu CHOREI! Miei amici vão está tutti in la pensione... (mãe, você teria dado muita risada também. foi parecido com o "cê não tem um ilástiquinho?" lá de Barcelona). Ai, ri muito... Janete, grazie!

VESTÍGIOS DE PRAHA
É importante lembrar que essa coisa toda recomeçou em Praga. Digo, o retorno do meu prazer de provocar amizades e cultivá-las. Lembra da Katka, a menina-figura que trabalhava no hotel? E o Paul, o querido que me chamou de hóspede favorita ever!... Pois os dois acabaram de me mandar e-mails. Ele - que na verdade se chama Pavel Pergner - diz que espera me ver lá de novo pelo menos mais uma vez ainda este ano!! (Será um sinal, Senhor? 27 de julho?) Ela - Kateřina Zákostelská - escreve como fala, em inglês-índio e com sotaque tcheco, e é igualmente engraçada com as suas histórias peculiares. Vale a pena ler a Katka:

What is weather in Brasil?... In prague started be raining.. sometimes (when I'm in work :D ) is nice... yesterday I had horrible dream that I must work long time and when I had free time and looking forward sunshining, sunbathing and swimming, started snowing and be cold.. I'm so happy when I wake up and realize that I can be in relax because summer started no finnish :D

(Happiness started no finish...)

I BRASILIANI
Nesse meu momento você-meu-amigo-de-fé-meu-irmão-camarada não podiam faltar, por fim mas não menos importantes, os amigos brasileiros antigos e queridos que pipocam a Firenze.

Alê - Desde o dia em que cheguei tenho a Alê, minha parceira de palco, a língua de Amidálas e mulher-mamulengo, que por sorte veio estudar em Firenze quinze dias neste julho meu. Já fomos à ópera, já rimos pelas ruas, e já tentamos nos falar um milhão de vezes sem sucesso - já que a soprano não tem telefone aqui e briga a tapa pelo computador na escola dela (que não é a minha). Desencontros constantes. Mas encontros buoníssimos. Com direito a cantoria às margens do Arno e a uma companheira de casa alemã que se chama Beata e é generala. Outro dia a Alê se atrasou três minutinhos pra um comprimisso com ela, chegou se desculpando polidamente e a Beatinha se limitou a dizer, alemãmente: que é que se pode fazer?!

Pode ser que ela seja de Garmish Parten Kirstchen. Decuvriró.

Ana - Aninha era estagiária do G1 e nos conhecemos. Ela veio morar um ano em Barcelona, e agora viaja um pouco antes de voltar para o Brasil. Veio passar o fim de semana em Firenze comigo. Tivemos momentos mágicos, como os dois lindíssimos pôr-do-sol (?) que assistimos da Ponte Vecchio. Com música, e céu, e saudade...

Mestra - E porque Deus é muito meu amigo, Ele me deu minha Mestra Ivandra de presente por dois dias nesta cidade. Não vou nem comentar o fato de ela ter reservado EXATAMENTE o mesmo hotel onde eu estava morando. Sem saber, sem nenhum tipo de ligação, sem que ao menos o hotel fosse uma escolha óbvia por alguma razão. Nada disso. Absoluta coincidência. I=NA-CRE-DI-TÁ-VEL coincidência. Qual a chance disso acontecer? Uma em um trilhão. Pois aconteceu. Literalmente DIVINO. Eu me mudei de hotel antes mesmo da mestra chegar (com o Valtinho e a Natália), mas não tem problema. Já fiquei estupefata e feliz o bastante porque coincidências assim só servem pra reforçar a ligação invisível e fortíssima que existe entre algumas pessoas - como minha mestra e eu.
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quarta-feira, 2 de julho de 2008

UM CAFFÈ PER ME

Eu me sento no café de uma livraria, em Firenze, olho ao meu redor e vejo o mundo. São cinco mesinhas. Seis com a minha. Eu, brasileira, estou aqui tentando aprender italiano, passando muito calor, procurando alguém que me venda ou alugue uma bicicleta por um mês por menos de 60 euros e prestes a mudar de quarto, amanhã, para um hotel no prédio da escola – o que vai tornar minha vida mais prática e gostosa.

Em uma das outras cinco mesas, um casal de japoneses que acaba de se levantar, rindo muito, depois de conversar bastante – em japonês. Não tenho a menor idéia do que eles fazem aqui, mas ele carrega uma sacola com cara de coisa de ginástica e ela, uma bolsa que imita essas chiques e famosas.

Na outra mesa, uma japonesinha bem branca e menina estuda italiano. Vejo claramente o livro aberto na frente dela. Ela escreve e apaga, escreve e apaga. Ou não sabe nada, ou está praticando muito! Os japoneses são muito bons de vocabulário e todos eles têm um computadorzinho – do tamanho de uma calculadora – com o vocabulário em todas as línguas que existem, até Esperanto! E hoje eu descobri que na língua japonesa não existe preposição, então você imagina que, além de toda a dificuldade da pronúncia, eles ainda têm de aprender a usar antes das palavras essas “letrinhas” que variam por gênero, número, grau e mais um monte de razões que nem tem explicação. Arigatô. E eu me pergunto, mas por que será que os japoneses querem aprender italiano? Va bene. Detalhe: na bolsa da Japinha lê-se: Fauchon. Hmmmmm.

Em outra mesa, um casal muito estranho, tirado dos filmes do Almodóvar (ainda que estejamos na Itália). São italianos. Ela tem um papel na mesa e um lapis na mão, mas não escreve nada porque está muito envolvida na história que conta pra ele e as mãos vão e vêm sem parar, pra cima e pra baixo, BEM italianas.

Na mesa na minha frente, um casal que fala uma lingual impossível de entender. Quase achei que era espanhol, mas não. Agora, pensando, talvez seja catalão, mas não, não, é mais estranho. Eles têm cara de ser de Israel. Os dois usam sandálias havaianas. Ela fala sem parar e ele só escuta porque não tem opção – com uns óculos escuros presos na cabeça raspada. Agora ele começou a falar. E está se vingando dela. Nem respira.

Na última mesa, um grupinho de quarto meninas, típicas adolescentes de qualquer lugar do mundo. É o que mais se vê aqui em Firenze: grupos de adolescentes que podem ser de qualquer lugar do mundo - porque são todos iguais. Até o cantado das conversas é igual. Essas quarto aqui da mesa ao lado provavelmente são turcas. Porque fiz umas amigas turcas na escola e o jeito dessas falarem me remete ao daquelas, então…

Ve bene. Agora a livraria está mais cheia. Mas é enorme, então nem se sente. Curioso: vários cachorros com seus donos. Já contei cinco, só aqui no andar de cima. E os cachorros todos se parecem com seus donos, isso é incrível mesmo. Sempre. Passou por mim até um boxer enorme com um cara igualmente enorme. E um boxer enorme dentro da livraria passa aqui como se nada estivesse acontecendo. Até os cachorros europeus são mais civilizados? Hm. Quem disse que os italianos são mais civilizados? Eu não tenho achado, não.

Ci vediamo domani.
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terça-feira, 1 de julho de 2008

GLOBALIZAZIONE

Na minha classe de italiano:
Brasil, Japão, México, Espanha, França, Turquia, Israel e Islândia!

(o espanhol não diz sono spanhole, diz sono catalane, de barcelona. e falou pra professora que eh pra sempre falar assim dele. catalão, não espanhol. interessante)

(a cidade onde mora a menina da Islândia tem dois mil habitantes. cada vez que eu falo de São Paulo, ela arregala os olhos e desmaia.)
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