Em Campina Grande tirei o retrato que fica pra mim da Paraíba: uma feira-livre gigantesca, que ocupa tantos quarteirões que parece ocupar a cidade inteira - a gente nem consegue andar por tudo. Um labirinto. Bem apertadinho e abarrotado de gente. É quase a pipoca do carnaval de Salvador. Você passa por dentro e periga nem ver o céu de tanta coisa amontoada nas barracas. De frutas, de flores, de artesanato, de ferramentas, de bugingangas, de grãos, de missangas, de carnes, e peixes, e jogos, e roupas, e tudo que se possa imaginar. Eu nem vi tudo isso. Mas o que vi bastou. E, juro, você vai andando e a feira não acaba nunca mais. Não, nem sei como estou aqui de volta, na frente deste computador.
O teatro do Sesc daqui é muito legal e a apresentação foi bem emocionante. Hoje cedo tivemos o "Pensamento Giratório". Um papo sobre o teatro nos 70 e sobre a nossa peça. Duas figuras interessantes apareceram por lá: Guilherme e Jailson.

Ele saiu de São Paulo por pura vontade de conhecer o verdadeiro povo deste país. Segundo ele diz, ele queria "ver o horizonte" e em São Paulo, "apesar de todas as coisas boas que tem lá, você só vê no horizonte a casa do vizinho".

Jailson contou que assistiu a Bibi Ferreira fazendo Gota d'Água na primeira apresentação depois da morte de Paulo Pontes (o autor do texto, ao lado de Chico, e então marido de Bibi - ele escreveu o papel de Joana para ela). Jailson conta que ela parou o espetáculo várias vezes para chorar e que, mesmo sem ter guardado exatamente a história de Joana, ele nunca esqueceu aquele dia no teatro. Ele é bem engraçado. E foi o responsável pela melhor coisa que ouvi até agora na viagem (com um sotaque carregado e bom de pernambucano):
"Eu sempre vou assistir a espetáculos de teatro. Adoro. E gosto de dar minha opinião. Um dia eu estava num festival, na discussão depois de uma peça, e estavam lá atores, autores, diretores, estudiosos, críticos... Todos falando, analisando, apontando defeitos de cada apresentação. Eu queria falar, mas não me deixavam. Então me manifestei: 'olhe, eu não sou ator, não sou diretor, não sou crítico, mas sou o único aqui que pagou ingresso, por isso quero falar. E vocês deveriam me ouvir, afinal, eu não sou nenhum especialista, mas EU SOU O PÚBLICO'."
E, enfim, "o público" não nos deixa esquecer para quem é que a gente faz tudo isso. E o público disse que gostou muito da nossa Gota d'Água. Que bom.
Um comentário:
To lendo o teatro completo do Paulo Pontes.
É genial.
Socialista, meio datado, mas atual.
Na volta quero que você leia (se é que já não leu.
Bijão
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