terça-feira, 20 de novembro de 2007

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

VISÃO

De tudo que vi pelos lugares por onde passei, uma coisa me impressionou muito. Eu já sabia que isso acontecia na teoria, porque todas as pesquisas de domicílio sempre mostraram isso. Mas eu nunca tinha, de fato, visto, tão incrivelmente, como a televisão está em TODOS os lugares (as pesquisas mostram que 96% da população brasilieira têm televisão - mais do que geladeira).

Nas estradas distantes da Paraíba ou das Alagoas, em lugares que quase não têm nome, lá estão elas, as parabólicas.

E não é só nas casas, não: a tv está em todos, TODOS os estabelecimentos de TODOS os lugares por onde se passa. Principalmente no interior. Lojas, restaurantes, bancas de revista, salas de espera de qualquer coisa, lobbys de hotéis, supermercados, quiosques à beira-mar, cafofos, vendinhas, botecos, pontos de taxi e de moto-taxi (vi uma febre de moto-taxi em todas as cidades que não são São Paulo!).

Até nas lojinhas dos Mercados Municipais de qualquer cidadezinha (mercados esses que são um mar absurdo de comércio) e, mais impressionantemente ainda, nas barracas de rua de Juazeiro do Norte, no Ceará - mesmo as menores e mais apinhadas de coisas - em que se vende de tudo, panelas, roupas, rapadura, santos e remédios de Padre Cícero, lá está ela, acredite, a televisão. Todo mundo tem uma. Grande ou pequena, colorida ou PB, com imagem nítida ou chuvisco, com som alto, baixo, mudo... Não importa. O caso é que elas estão em todos os lugares, por mais insólitos ou inusitados, às vezes camufladas no meio de tanta mercadoria, e sempre - SEMPRE - ligadas na Globo.

PS: Por favor, repare ONDE está a pochete do cidadão. É a esposa dele que está "lá dentro" assistindo ao Jornal Hoje.



sexta-feira, 16 de novembro de 2007

POCO NÉ?

Mato Grosso.
Região do Pantanal.
Poconé.
Cidade sinistra.
De um silêncio bonito.
Mas sinistro.

Poco tempo, né?
Há coisas a dizer deste lugar.
Mais tarde.

domingo, 11 de novembro de 2007

SAUDADE QUENTE

Da Paraíba, fomos para Maceió, nas Alagoas.
De Maceió, voltamos para o Ceará e agora estamos no Cariri.
Cariri é Juazeiro do Norte, Crato, Nova Olinda, Barbalha e... esqueci. Estamos em Juazeiro. Temos apresentações aqui e no Crato. É tudo bem interessante.


Se você perdeu a fé, ou conhece alguém que perdeu, avise: ela deve estar por aqui, em Juazeiro. Além do comércio insuportavelmente saturado de religião, a fé neste lugar é literalmente abundante, transbordante, e tem de sobra pra quem quiser vir aqui buscar um pouco. Não há nenhum - juro, eu não vi nenhum - estabelecimento que não tenha Padre Cícero na porta, ou na parede, ou num cantinho, e no olhar de cada um. Eles respiram fé no Padim de Sinhozinho Malta. As mulheres, principalmente as mais velhas, são lindas de ver. São um pouco maltratadas pelo sol arrasador de tão quente que brilha aqui, e aparentam ter bem mais idade do que de fato têm, mas, mesmo assim, são lindas de fé.

SAUDADE
Chegmos num ponto da viagem em que todo mundo tá morto de saudade de casa. Só pra registrar. Porque tem sido o assunto permanente. Saudade e calor.

FESTIVAL
Acontece aqui na região a 9a MOSTRA SESC CARIRI DE CULTURA. As três cidades onde há eventos - Crato, Juazeiro e Nova Olinda - estão cheias de grupos de teatro, dança, música. E as cidades são bem cheias de modernidade, diferentemente do que a gente imaginava. Não tem jeito mesmo, o progresso é inevitável. A cultura regional se perde um pouco, mas, Graças a Deus, permanece aqui e ali. Mais pra turista ver do que pro povo da região cultivar. Isso é pena. É algo que me parece bem representado no seguinte: o programa de sábado à noite é ir passear na Praça Padre Cícero - bem de acordo com a cidade -, mas a brincadeira favorita das crianças é passear de motinho elétrica que alugam ali mesmo. É estranho. Parece que não encaixa. É como se essas crianças, na primeira olhada, não combinassem com essas motinhos. Mas é assim que é. Dez minutos de passeio por um real. Enquanto a moça que vende crepes me diz, um pouco triste: só aqui mesmo pros minino andar nisso aí. Eu queria comprar pro meu pequeno, mas sabe quanto custa?! Seiscentos reais! Dá não! O crepe de queijo é R$ 1,50.

POLÍTICA
Alagoas é um lugar meio estranho. Depois de Fernando Collor de Mello. Os prédios riquíssimos da orla de Maceió insistem em te fazer lembrar o tempo inteiro de que aquela é a terra desses sujeitos ladrões, que devem ameaçar todo mundo de morte em época de eleição. Não tem explicação. Nem eles, nem essa sensação que me deu ao caminhar pelo calçadão da Praia de Pajuçara. Acho que a gente só pensa que a ditadura acabou.

Muitas fotos atrasadas.
Seguem assim, no calor do Cariri.

domingo, 4 de novembro de 2007

"O PÚBLICO"

Em Campina Grande tirei o retrato que fica pra mim da Paraíba: uma feira-livre gigantesca, que ocupa tantos quarteirões que parece ocupar a cidade inteira - a gente nem consegue andar por tudo. Um labirinto. Bem apertadinho e abarrotado de gente. É quase a pipoca do carnaval de Salvador. Você passa por dentro e periga nem ver o céu de tanta coisa amontoada nas barracas. De frutas, de flores, de artesanato, de ferramentas, de bugingangas, de grãos, de missangas, de carnes, e peixes, e jogos, e roupas, e tudo que se possa imaginar. Eu nem vi tudo isso. Mas o que vi bastou. E, juro, você vai andando e a feira não acaba nunca mais. Não, nem sei como estou aqui de volta, na frente deste computador.

O teatro do Sesc daqui é muito legal e a apresentação foi bem emocionante. Hoje cedo tivemos o "Pensamento Giratório". Um papo sobre o teatro nos 70 e sobre a nossa peça. Duas figuras interessantes apareceram por lá: Guilherme e Jailson.

Guilherme é paulista e já morou em vários lugares. Ensinou xadrez a índios, tirou fotos de apropriação de terras, já teve mulher e filhos, e hoje trabalha aqui em Campina Grande com reciclagem. Faz umas coisas incríveis com garfos, colheres, garrafas pet e o que mais você quiser.

Ele saiu de São Paulo por pura vontade de conhecer o verdadeiro povo deste país. Segundo ele diz, ele queria "ver o horizonte" e em São Paulo, "apesar de todas as coisas boas que tem lá, você só vê no horizonte a casa do vizinho".

Jailson é um militar pernambucano aposentado. Viajou para vários lugares. Chegou a capitão. É de Floresta, perto de Recife. "Uma cidade incrível, com nível cultural altíssimo. As pessoas têm até medo de ir lá." Ele, como exemplo da cidade, é bem culto mesmo. "Não vou ao teatro para me divertir. Vou para me preocupar".

Jailson contou que assistiu a Bibi Ferreira fazendo Gota d'Água na primeira apresentação depois da morte de Paulo Pontes (o autor do texto, ao lado de Chico, e então marido de Bibi - ele escreveu o papel de Joana para ela). Jailson conta que ela parou o espetáculo várias vezes para chorar e que, mesmo sem ter guardado exatamente a história de Joana, ele nunca esqueceu aquele dia no teatro. Ele é bem engraçado. E foi o responsável pela melhor coisa que ouvi até agora na viagem (com um sotaque carregado e bom de pernambucano):

"Eu sempre vou assistir a espetáculos de teatro. Adoro. E gosto de dar minha opinião. Um dia eu estava num festival, na discussão depois de uma peça, e estavam lá atores, autores, diretores, estudiosos, críticos... Todos falando, analisando, apontando defeitos de cada apresentação. Eu queria falar, mas não me deixavam. Então me manifestei: 'olhe, eu não sou ator, não sou diretor, não sou crítico, mas sou o único aqui que pagou ingresso, por isso quero falar. E vocês deveriam me ouvir, afinal, eu não sou nenhum especialista, mas EU SOU O PÚBLICO'."

E, enfim, "o público" não nos deixa esquecer para quem é que a gente faz tudo isso. E o público disse que gostou muito da nossa Gota d'Água. Que bom.


FOTOS DE CAMPINA GRANDE